A maior parte dos deputados sul-africanos, onde o Congresso Nacional Africano (ANC), partido que suporta o Governo do país, detém a maioria, aprovou a moção do partido de Julius Mulema, os Combatentes da Liberdade Económica (EFF), onde é proposta a medida radical.

Esta votação estava na calha há vários dias e resulta de um esticar de corda entre os dois países.

Primeiro, depois de fortes críticas à condução da guerra por Israel, Telavive criticou a postura do Governo de Cyril Ramaphosa, que, por sua vez, mandou chamar a Pretória todos os diplomatas sul-africanos em Israel.

Com este cenário em pano de fundo, o Parlamento sul-africano, na Cidade do Cabo, aprovou esta moção que, agora, o Governo deverá seguir à risca, embora não esteja obrigado a segui-la total ou parcialmente.

Todos os sinais dados por Ramaphosa sobre este conflito no Médio Oriente vão no sentido de que seja seguido o conteúdo do documento aprovado pelos deputados, com 248 a favor e apenas 91 contra

Contra a moção votaram apenas os deputados da Aliança Democrática, o denominado partido da minoria branca, claramente pró-israelita.

Esta separação é uma herança do passado racista da África do Sul que terminou em 1994, sendo que o ANC foi sempre próximo da luta palestiniana, tendo o próprio Nelson Mandela dito que a luta do ANC nunca estaria completa sem que a liberdade na Palestina estivesse conseguida.

Neste caso presente, o Presidente Ramaphosa juntou-se mesmo às vozes que clamam por uma acusação formal contra Israel na qualidade de protagonista de crises de guerra em Gaza.

A guerra de Gaza

Esta guerra já fez mais de 12 mil mortos do lado palestiniano, com mais de 6 mil crianças nesta lista, e 35 mil feridos, enquanto do lado israelita, não estado ainda contabilizadas as centenas de baixas entre as suas forças, segundo o Hamas, que invadiram Gaza, morreram 1200 pessoas e duas mil ficaram feridas nos ataques do Hamas de 07 de Outubro.

E tem ainda outras particularidades aterradoras, com mais de 50 jornalistas mortos pelas IDF, o que levou o Comité para a Protecção dos Jornalistas (CPJ), uma das mais empenhadas organizações internacionais na defesa dos profissionais dos media, a pedir uma investigação a esta mortandade.

Deixa ainda um registo igualmente histórico, porque, tal como no caso dos jornalistas, nunca foram mortos tantos funcionários das Nações Unidas num conflito, em tão pouco tempo, como nesta guerra em Gaza.

E se no caso dos jornalistas, existem indícios de que as forças israelitas, que têm feito ruidosas acusações aos profissionais que cobrem a guerra no terreno de serem agentes ao serviço do Hamas, estão a olhar para os repórteres como alvos, no que diz respeito aos funcionários da ONU, surgirem como vítimas é quase inevitável, porque as Nações Unidas têm os seus centros de apoio humanitário e escolas nos locais mais povoados da Faixa de Gaza e os bombardeamentos das IDF atingem há seis semanas consecutivas estes locais, alegando que os combatentes palestinianos usam os civis como escudos humanos.

Outro recorde trágico conseguido por Israel é que em nenhuma oura guerra se destruíram tantos hospitais e unidades de saúde como em Gaza desde 07 de Outubro até hoje, com Telavive a justificar este registo tenebroso com a existência de túneis do Hamas por debaixo destas infra-estruturas, o que as IDF não conseguiram até agora provar apesar de terem tomado de assalto alguns, especialmente o maior de todos, o Hospital Al Shifa, impondo a morte a centenas de pacientes internados nas suas unidades de cuidados intensivos, entre estes dezenas de recém-nascidos.

Todavia, olhando para a geografia de Gaza, esta mistura é uma condição e não uma opção, porque se trata de um território com apenas 365 kms2, que se alonga por cerca de 40 kms por 10 de largura, habitado por 2,3 milhões de pessoas.

Isso faz deste o território um dos mais densamente povoados do mundo, levando a que se use como imagem para ilustrar esta realidade a ideia de que se ali se acende um fósforo, é impossível que ninguém se queime.

Com este cenário em pano de fundo, apesar de a condenação dos ataques do Hamas de 07 de Outubro ter sido generalizada, por serem igualmente de uma barbaridade rara, Israel tem sido exposto na sua acção de terror pelas imagens divulgadas pelas grandes cadeias de notícias, com destaque para a Al Jazeera, que tem uma cobertura desta guerra 24/24, e um canal aberto de forma ininterrupta para o sofrimento da população civil de Gaza.