Totalmente sufocada pelas forças de Khalifa Haftar, a cidade de Trípoli deixou há meses de poder ter uma vida normal porque o seu Governo legítimo, reconhecido pela comunidade internacional através da ONU, denominado GNA (Governo de Acordo Nacional), liderado pelo primeiro-ministro Fayez Serraj, não é aceite por Haftar, que conta com o apoio do Egipto, da França e, entre outros, dos Emirados Árabes Unidos e da Rússia.
Por outro lado, numa demonstração clara da inoperância da ONU neste conflito que está a devastar o que restou da Líbia - um dos maiores produtores de petróleo africanos e detentor das maiores reservas do continente - após a guerra civil que acabou, em 2010, por fazer cair Muammar Kadaffi, Serraj conta com o apoio do Qatar, da Turquia e da Itália.
A Turquia, país mais empenhado no apoio ao Governo de Trípoli, abriu mesmo um grave precedente ao aprovar no seu Parlamento uma emenda constitucional especial para o Presidente Recep Tayyip Erdogan poder enviar forças militares para além-fronteiras,
Este cenário permite concluir que o conflito líbio dificilmente poderá terminar sem ser por um processo negocial que, de facto, chegou a decorrer em Genebra, na Suíça, durante semanas mas que os contínuos avanços militares no terreno dos rebeldes conduziram ao abandono da mesa das negociações por parte do Governo de Trípoli.
Agora, apertado por todos os lados, Fayez Serraj vê-se obrigado a passar ao contra-ataque porque nem sequer o seu aeroporto principal, situado nas proximidades da capital, numa área denominada Mitiga, pode continuar activo face ao serrado fogo de artilharia que sobre ele tomba diariamente.
O ministro do Interior disse precisamente isso para justificar a ofensiva, que a capital não pode manter-se sob uma chuva de artilharia permanente e, por isso, vai avançar com as suas forças sobre as unidades de Haftar que se encontram nas imediações de Trípoli.
Esta é a escalada no conflito líbio mais severa desde que o cessar-fogo foi desrespeitado a 12 de Janeiro.
A Reuters conta que só num dia foram lançados mais de 60 mísseis sobre Mitiga e outros 60 sobre a Trípoli no Sábado, o que foi mais que suficiente para a decisão de contra-atacar tomada pelo GNA, até porque, notou o ministro Fathi Bashagha, "pouca ou nenhuma esperança existe já para manter o cessar-fogo".
O ministro aproveitou para lançar um veemente apelo aos Estados Unidos para pressionarem os países que apoiam o general Haftar de forma a conseguir impor o seu regresso à mesa das negociações porque em breve o país vai assistir a uma crise humanitária sem precedentes.
As consequências deste conflito na Líbia, que já dura há mais de um ano, são já evidentes no número de deslocados internos, com milhares de pessoas a fugirem dos bombardeamentos e a refugiarem-se em campos sem as condições mínimas de sobrevivência.
E também, no capítulo económico o país está à beira do descalabro porque a sua produção petrolífera foi quase reduzida a zero pelo cerco dos rebeles às suas infra-estruturas produtivas e de refinação, fazendo com que as exportações passassem de mais de 1,6 milhões de barris por dia para uns escassos 200 mil em Janeiro.
Como pano de fundo deste conflito estão as gigantescas reservas de petróleo líbias, estimadas em mais de 46 mil milhões de barris e ainda as recentes descobertas de vastos campos de gás natural no seu offshore, que são disputadas por vários países europeus, africanos e asiáticos.