São, agora, centenas as equipas de resgate, enviadas por países como os Emirados Árabes Unidos, a Turquia, a Rússia, da Europa e da Ásia, ou mesmo dos vizinhos Egipto e Tunísia, que procuram encontrar algum improvável sobrevivente, mas, essencialmente, de corpos de, segundo distintas fontes, entre 10 a 20 mil desaparecidos.

Outra área que está a ser encarada como prioritária é delimitar as zonas mais atingidas e onde possam estar mais corpos em decomposição, porque o risco de eclosão de doenças graves, como a cólera, é real e a capacidade de tratamento está severamente afectada.

Este reforço da ajuda permite ainda criar condições para cuidar de feridos e desalojados, mas chegou claramente tarde para salvar tantos que esperaram em vão sob os escombros da parte da cidade que foi arrasada pelas chuvas levadas pelo "Daniel" e, depois, pela enxurrada gerada pelo rebentamento de duas represas a montante de Derna.

As falhas são muitas para justificar este cenário de morte e tragédia, mas o mais importante de todos é o caos que tomou conta da Líbia depois da morte do coronel Muammar Kadaffi com o apoio da NATO, liderada pelos EUA e pela França, sucedendo-lhe não um mas dois governos, um a leste, chefiado pelo Marechal Khalifa Haftar, sedeado em Tobruk, e outro a oeste, em Tripoli, liderado por Mohamed al-Menfi, e reconhecido pela comunidade internacional.

A guerra civil, que começou em 2011 com a queda e morte de Kadaffi, que conduziu, por sua vez, à divisão do país, não o dividiu apenas geograficamente, destruiu um tecido social que, apesar de ser uma ditadura, feroz para os adversários, era robusto e sem paralelo em África em vários sectores.

No Domingo, 10, nem sequer foi possível emitir um alerta meteorológico para que as populações pudessem escolher sair ou ficar da cidade, ou, igualmente relevante, deixando as duas barragens que desmoronaram, sem qualquer manutenção... além de que o escasso socorro que foi prestado, foi-o por equipas sem meios e sem preparação.

É este o cenário que permite que as estimativas mais conservadoras admitam que o número de mortes, actualmente com 11.500 confirmados, possa chegar aos 15 mil, havendo outras, por muitos consideradas mais realistas, que apontam para mais de 20 mil... (Ver links em baixo nesta página)

A ONU, por exemplo, numa nota divulgada esta segunda-feira, 18, aponta para que existam cerca de 880 mil pessoas afectadas na Líbia pela tempestade e mais de 40 mil desalojadas, tendo o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), acrescentado que esta situação acentuou a já densamente trágica situação de centenas de milhares de líbios devido à guerra civil.

Recorde-se que o "Daniel" atingiu em força a costa líbia na madrugada de Domingo, 10, perto das 04:00, quando a cidade dormia, sem que fosse dado qualquer alerta nas horas que antecederam a sua chegada, oriundo da Europa, onde deixou um rasto de morte e destruição em países como a Grécia ou a Bulgária, o que permitiria em condições normais colocar as pessoas em alerta e as equipas de socorro em estado de prontidão. Nada disso sucedeu.