As Organizações não-governamentais (ONG) -- onde se destacam os Médicos sem fronteiras (MSF), o Conselho Norueguês para os Refugiados (NRC), Save the Children, Oxfam ou Médicos do Mundo (MM) -- revelam as adversidades que enfrentam no enclave palestiniano, em particular a impossibilidade de fornecer ajuda humanitária.
"O movimento para chegar às pessoas mais vulneráveis no interior da Faixa [de Gaza] é inseguro e restringido", assinalam as ONG, ao sublinharem que o facto de alguns camiões com ajuda humanitária conseguirem entrar no enclave "não garante que os recursos cheguem ao seu destino por motivos de segurança".
O relatório alerta para o recrudescimento dos ataques israelitas que coincide com uma crescente deterioração das possibilidades para a entrega de ajuda humanitária, agravada pelas ofensivas terrestres sobre a cidade de Rafah, sul da Faixa de Gaza, e onde se concentram 1,2 milhões de palestinianos.
Diversas ONG também denunciam que o envio de ajuda através do corredor egípcio está paralisado desde a invasão de Rafah (sul do enclave), enquanto a abertura das passagens fronteiriças do norte "permanece incoerente e imprevisível" e necessita de muito mais tempo que o habitual para uma distribuição de ajuda em condições normais.
Em paralelo, os ataques israelitas não apenas atingem a população de Gaza, mas também, e ao longo dos últimos nove meses, mais de 270 cooperantes e cerca de 500 trabalhadores dos serviços de Saúde mortos na Faixa de Gaza, enquanto os sobreviventes "enfrentam um perigo permanente".
Ao longo de todo o enclave palestiniano apenas existem dois pontos de acesso viáveis e em condições: Kerem Shalom no sul, que se encontra numa zona de constantes ataques; e a passagem de Erez no norte, "inadequado para garantir as necessidades das pessoas que permanecem nessa zona".
Em simultâneo, e a par destas dificuldades para garantir o envio de ajuda humanitária para a Faixa de Gaza e a sua distribuição pela população afectada, as 13 ONG também denunciam os ataques e saques dos colonos israelitas às colunas humanitárias durante o seu percurso em direcção ao enclave.
Neste contexto, as 13 organizações humanitárias sublinham a necessidade de garantir um cessar-fogo "imediato e duradouro", considerado "a única forma de fornecer assistência humanitária e proteger e salvar vidas em Gaza".
Em paralelo, e para além das dificuldades logísticas que enfrentam na Faixa de Gaza, as 13 organizações referem-se aos intensos controlos a que são submetidas pelo Exército israelita, que inclusive vigiam os seus percursos através de `drones`.
As ONG deparam-se com intensos controlos militares ao pessoal humanitário, e devem notificar às autoridades israelitas os seus movimentos, incluindo nas áreas designadas "zonas humanitárias". Em diversos casos, os funcionários das ONG foram forçados a utilizar carros puxados por burros devido à falta de combustível.
"A preocupação com a vida do nosso pessoal continua a aumentar, pelo facto de a sua segurança não ser sequer garantida no interior das nossas instalações humanitárias", diz o comunicado conjunto, que denuncia a morte de um membro da Handicap Internacional e o abandono forçado de instalações de saúde pelos MSF e os MM.
No final, o texto sustenta, após nove meses de guerra, a "extrema urgência" de que os Estados terceiros "reconheçam o incumprimento das suas obrigações de garantir o respeito do direito humanitário internacional em Gaza", e considerem a necessidade de exercer "uma verdadeira pressão" para garantir um cessar-fogo.
O Movimento de Resistência islâmica (Hamas) desencadeou em 07 de Outubro diversos ataques contra território israelita com um balanço de cerca de 1.140 mortos e 240 reféns. O Exército israelita respondeu com uma devastadora campanha militar que já provocou a morte de 38.600 palestinianos e perto de 90.000 feridos, de acordo com o Ministério da Saúde do enclave.