O agora deposto Presidente Bah Ndaw tinha assumido o cargo há apenas nove meses também num contexto golpe de Estado igualmente desencadeado por oficiais das Forças Armadas, consumando a ideia de que este pais do Sahel, entalado entre o deserto do Saara e a África subsaariana, caminha de forma acelerada para a ingovernabilidade fustigado que está há anos a fio por vários grupos radicais de natureza islâmica e tuaregues transformados em guerrilha.
Este golpe, alias, segundo as agências internacionais surge directamente relacionado com o golpe de há nove meses, porque o Governo do primeiro-ministro Moctar Quane aproveitou uma remodelação governamental para retirar do Executivo dois elementos das Forças Armadas que conduziram a anterior intentona, em Agosto de 2020.
Este golpe está, no entanto, a ser fortemente criticado pelas Nações Unidas e pela União Africana - vários países, incluindo os EUA, a França e o Reino Unido, bem como a CEDEAO, também assinaram o documento - que, num comunicado emitido conjuntamente, exigem a reposição imediata da normalidade constitucional com a "libertação imediata" do Presidente da República, um civil, e do primeiro-ministro, sublinhando que a comunidade internacional não vai aceitar qualquer tipo de imposição de poder nem aceitar resignações forçadas dos cargos de poder.
Para lidar com mais este problema no agora turbulento Mali, a CEDEAO, que é a Comunidade Económica de Estados da África Ocidental, vai enviar uma missão nas próximas horas a Bamako para reforçar a ideia de que este tipo de transição de poder não é mais aceitável na região, como, de resto, aconteceu há uns anos na Gâmbia, quando Yahya Jammeh tentava readquirir o poder em Banjul através de um golpe com apoio de uma facção militar.
O Mali vive deste 2012 num intenso turbilhão político-militar depois de uma revolta nos quartéis ter levado ao afastamento do então Presidente Amadou Toure, o que levou à rebelião tuaregue, os nómadas do Saara, tendo então a al qaeda do Magrebe aproveitado para se imiscuir nesta luta e ganhar terreno que, posteriormente seria igualmente fértil para o avanço do estado islâmico e do Boko Haram, os radicais islâmicos que se espalharam a partir da Nigéria e acabaram a juntar-se ao isis oriundo do Médio Oriente.
Por isso, o Mali é hoje um gigantesco campo de batalha entre as forças malianas leais a Bamako, apoiadas por contingentes europeus, liderados pela França, e dos Estados Unidos, que ali procuram enfraquecer o jihadismo global.
Com as forças radicais islâmicas às portas de Bamako por diversas vezes, os militares malianos têm aproveitado esta tensão para ocupar o poder político, embora as sucessivas falhas no cumprimento de promessas estejam a conduzir rapidamente este país, que já foi dos mais aprazíveis em África, com uma forte indústria do turismo, num deserto caótico e sem rumo.