Esta entrada de militares, noticiada pelas agências internacionais, em número ainda não conhecido, na Gâmbia, acontece no mesmo dia que Adama Barrow, Presidente eleito nas eleições de 01 de Dezembro de 2016, tomou posse de forma pouco convencional, na embaixada da Gâmbia na capital senegalesa, Dacar.
A "invasão" das fronteiras gambianas pelos militares senegaleses contou com o apoio da Força Aérea da Nigéria, que disponibilizou aviões de reconhecimento que, durante a tarde de hoje, sobrevoaram o país, e ainda com o envio de reforços por parte do Gana, para apoiarem no terreno os avanços dos militares enviados por Dacar.
Desde há pelo menos um mês que a Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAo) tinha avisado Jammeh de que seria pela força obrigado a deixar o poder se não o fizesse por decisão sua, fazendo cumprir a carta da União Africana para a democracia que impõe o cumprimento da vontade manifestada pelos povos em eleições livres e transparentes.
E era isso mesmo que estava para acontecer quando, pouco depois de conhecida a vitória de Barrow, Jammeh disse estar disponível para deixar o poder, numa transição que seria a primeira do país desde a sua independência, na década de 1960, então colonia britânica.
Só que, aquele que é um dos mais truculentos presidentes africanos, tendo mesmo dito que jamais saíria do poder, deu o dito por não dito e, pouco depois, mandou destituir a comissão eleitoral de todas as faculdades constitucionais e instaurou o estado de Emergência, colocando as forças armadas que lhe permaneceram fiéis, nas estradas do país.
Mas isso não valeu de muito, porque nas últimas semanas, milhares de gambianos, incluindo alguns dos seus ministros, fugiram do país para evitarem ser apanhados no meio de um conflito militar.
Sendo um pequeno país, o mais pequeno da África Ocidental, entalado no Sul do Senegal, com pouco mais de 1,7 milhões de habitantes concentrados numa estreita língua de terra nas margens do rio com o mesmo nome do país, a capacidade de Jammeh resistir a um exército poderoso como o senegalês, parece, no mínimo, difícil, embora, até ao momento não seja conhecido o desfecho desta "invasão" para impor pela força o que foi determinado nas urnas pelo povo gambiano.
Jammeh está no poder desde 1994, onde chegou via golpe de Estado, ganhou depois as eleições de 1996 e todas as que se realizaram até à ultima, a 01 de Dezembro do ano passado, onde Adama Barrow recolheu, segundo os resultados divulgados no início de Dezembro último, mais de 50 por cento dos votos.
CEDEAO oferece saída a Jammeh
Apesar de todas as ameaças, Yahya Jammeh recusa abandonar o poder e permanece por explicar o porquê de ter aceitado fazê-lo, inicialmente, tendo mesmo recebido elogios pela forma como estava a permitir que este pequeno país tivesse, ao fim de quase 60 anos de independência, a primeira transição política pacífica.
Para abrir caminho à sua saída, o Parlamento nigeriano chegou mesmo a aprovar uma resolução parao pais oferecer um exílio digno e em segurança a Jammeh. Foi recusado.
Não só todas as tentativas feitas pela CEDEAO, numa missão liderada pela Presidente da Serra Leoa que se deslocou a Banjul, capital do país várias vezes, foram recusadas, como Jammeh ameaçou mesmo transformar o seu país num cemitério para os militares estrangeiros que trespassassem as suas fronteiras.
Barrow pede patriotismo aos militares gambianos
O novo Presidente da Gâmbia, Adama Barrow, que fez o juramento de posse na embaixada do país no Senegal, afirmou, no acto, que "este é um dia que nenhum cidadão gambiano esquecerá em toda a sua vida", e lançou um apelo aos militares do seu país, mesmo aos que se posicionaram ao lado de Jammeh, para permanecerem nos quartéis.
Apelou ainda às Nações Unidas e à União Africana, contando desde o início com o apoio da CEDEAO, para que não falhem neste momento em que é essencial estarem ao lado da democracia e do povo gambiano que, em eleições livres, optou por mudar de Presidente.
Recorde-se que a ONU, através do seu Conselho de Segurança, já adoptou uma resolução de apoio a Barrow.