Depois de 24 de Outubro, quando a Comissão Nacional de Eleições (CNE) anunciou que a FRELIMO tinha ganho em toda a linha e com margens inaceitáveis para a realidade do país, a oposição, liderada por Venâncio Mondlane, apoiado pelo Podemos, lançou uma vaga de protestos nacionais que deixaram um rasto trágico de dezenas de mortos e centenas de feridos.

Segundo os números da CNE, a FRELIMO conseguiu uma avassaladora vitória, tanto para a Presidência, com Daniel Chapo a obter mais de 70% dos votos, como para o Parlamento, onde conseguiu uma maioria absoluta, ganhando ainda o governo nas 11 províncias do país.

Os sinais de fraude começaram a surgir logo depois, com a oposição a sublinhar que a soma dos resultados publicados nas actas colocadas nas mesas de voto não encaixam nos números da CNE, o que algumas organizações de observadores, como a CPLP (ver links em baixo), vieram depois a respaldar.

Com os gigantescos protestos convocados por Venâncio Mondlane e as dúvidas razoáveis de irregularidades alicerçados nas evidências mostradas pela oposição e apoiadas no relatório final da CPLP, o Conselho Constitucional ficou com a batata quente nas mãos.

Normalmente a demora na divulgação do veredicto tem por objectivo esperar que a batata arrefeça, mas, desta feita, tubérculo parece estar mais quente a cada dia que passa, especialmente depois de os juízes "constitucionais" terem tornado públicas algumas dúvidas sólidas e anunciado que foram pedidas explicações à CNE.

Entre estas o facto de, na contagem dos votos, terem sido notadas substanciais discrepâncias entre os votos para as Presidenciais, as parlamentares e locais, o que é estranho considerando que todos os eleitores recebem três boletins de voto distintos.

Depois de semanas sucessivas de protestos liderados por Mondlane, com este escondido no exterior, de onde comanda as hordas de manifestantes furiosos com 50 anos de pobreza e subdesenvolvimento, e com algumas vozes a falarem já de uma repetição adaptada das "primaveres árabes" em Moçambique, o ainda Presidente da República, Filipe Nyusi, veio avisar que não vai tolerar interferências externas no decurso deste período histórico no seu país.

Na Cimeira extraordinária de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), que teve lugar em Harare, Zimbabué, e onde a situação em Moçambique foi assunto de topo de agenda, Nyusi, em declarações aos jornalistas, deixou claro que o futuro do país será só e apenas definido pelos moçambicanos.

"Moçambique não vai permitir que as decisões nacionais sejam influenciadas de fora", avisou, acrescentando um pedido aos aliados e amigos da comunidade internacional: "Respeitem as nossas instituições e não incentivem ódio e intolerância".

O Presidente moçambicano, provavelmente, estaria a dirigir-se às organizações internacionais, como a CPLP, que tornaram públicos relatórios onde é questionada a lisura do processo eleitoral e ao facto de serem notórias as esperanças da oposição de que a pressão externa possa forçar o Conselho Constitucional a não validar os resultados da CNE forçando, eventualmente, a uma repetição das eleições.