Na manhã desta quarta-feira, 18, havia mais de 120 fogos activos e cerca de 5.000 bombeiros de centenas de corporações a fazer frente ao mar de chamas que há 72 horas varre o Centro e o Norte de Portugal.

Na terça-feira morreram mais três pessoas em consequência dos fogos florestais, desta feita três bombeiros do concelho de Tábua, distrito de Coimbra, que se deslocaram para ajudar os seus camaradas de Nelas, no distrito de Viseu, tendo sido apanhados, ainda em circunstâncias a serem investigadas, pelas chamas.

Nâo há registo de que a comunidade angolana em Portugal tenha sido directamente afectada por esta avalanche de incêndios, mas as preocupações são evidentes, com muitos angolanos em Portugal a usarem as redes sociais para tranquilizarem familiares e amigos em Angola.

Com o pânico instalado no país, o Governo de Lisboa desdobra-se em anúncios de medidas para mitigar este desastre, colocando largos milhões de euros disponíveis para acusar a empresas que viram arder as suas instalações e para a recuperação de equipamentos públicos e privados destruídos pelas chamas.

Foi ainda activado o mecanismo europeu de ajuda para estas situações, o que levou quatro países, Itália, Fança, Espanha e Grécia, a enviar oito aviões pesados de combate às chamas para Portugal, tendo Marrocos também juntado mais dois aparelhos Canadair a esta frota.

A apoiar os quase 5.000 bombeiros, e milhares de populares que há pelo menos três noites não dormem para proteger os seus bens, estão perto de 1600 viaturas de combate aos fogos de diversos tipos, com as corporações dos bombeiros das zonas fora do círculo infernal a enviarem colunas de reforços para as áreas mais fustigadas.

Segundo a Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil (ANEPC) portuguesa, às 08:00 locais, mesma hora em Luanda, estavam a causar preocupações cerca de 50 incêndios, havendo dezenas de outros já sob controlo ou ainda em fase inicial.

Os distritos (área administrativa em POrtugal que em Angola corresponde grosso modo a província) de Aveiro, Viseu e Coimbra são dos mais afectados, embora existam ainda focos graves em Vila Real e a parte interior do distrito do Porto.

Com a evolução da situação climática a tender para a redução dos elementos favoráveis à impetuosidade das chamas, como sejam a diminuição da intensidade dos fortes ventos de Leste, oriundos do interior quente da Península Ibérica, e elevadas temperaturas, até quinta-feira as autoridades portuguesa esperam ver uma melhoria substancial da situação geral.

E é neste momento que começam igualmente a surgir nas redes sociais, e também nalguns media tradicionais portugueses, a estafada discussão sobre responsabilidades e sobre as razões de fundo para que este tipo de catástrofes se repitam ano após ano.

Considerando que as alterações climáticas, onde Portugal surge como dos países mais expostos às suas consequências, estão para ficar e são responsáveis pelo "caldo" climatérico por detrás desta realidade, o tema agora é a estrutura da floresta portuguesa.

Isto, porque as áreas onde estes grandes fogos ocorrem são, sem excepção, ocupadas essencialmente por grandes manchas de eucaliptal, cuja natureza ajuda à expansão acelerada das chamas, projectando fagulhas a longas distâncias, e também pinhal, outra árvore de grande inflamabilidade.

Um dos argumentos a que o Governo de Lisboa dificilmente poderá responder com propriedade é o porquê desta realidade, visto que se trata de combustível em bruto para pasto das chamas mas que é fundamental para a polémica indústria das celuloses (pasta de papel), cujo lobby é dos mais poderosos naquele país.

Para mitigar este problema junto das populações e na economia empresarial fora do monopólio das celuloses, o Governo de Lisboa injecta apoios financeiros no circuito dos municípios e promete combater a vertente criminosa destes incêndios, que é igualmente real mas que só ganha esta dimensão devido às idiossincrasias nefastas da floresta portuguesa.

A demonstrar a razoabilidade deste retrato, os ambientalistas e especialistas na gestão da floresta apontam a situação no sul de Portugal, onde não existem fogos, ou raramente ocorrem, porque a floresta é largamente composta por sobreiros, a árvore da cortiça, que resiste melhor aos fogos, travando-os quando acontecem.

A maior parte dos ambientalistas, como sempre, esperam que com mais esta tragédia, seja desta vez que o Governo ganhe coragem para enfrentar os lobbys das celuloses, que fomentam a plantação anárquica de eucaliptais porque não são responsáveis pela sua gestão e pagam apenas se a madeira não arder, ou, quando arde, os preços descem vertiginosamente.