Esta participação de João Lourenço nesta Cimeira sucede dias após outra deslocação a Brazzaville, onde debateu o mesmo assunto com o seu homólogo Denis Sessou Nguesso.
O Chefe de Estado angomano manifestou a sua preocupação com este golpe dando-o como exemplo para a necessidade dos serviços de segurança externa angolanos estarem "de olhos bem abertos".
Este golpe, que teve lugar na quarta-feira da semana passada, gerou forte preocupação entre os países vizinhos e representa o risco da descida da instabilidade golpista da África Ocidental para a África Central, onde vários países atravessam crises sociais e económicas graves e têm a liderá-los Presidentes de idade avançada e há décadas nos cargos, resistindo a fortes suspeitas de fraudes eleitorais para manutenção do poder.
O poder foi assumido pelo líder da junta militar que deu o golpe a Bongo, o general Oligui Nguema, até então o seu chefe da guarda presidencial.
O deposto Presidente, que tinha acabado de ser reeleito nas eleições de 26 de Agosto para um terceiro mandato, e às quais apenas concorreu depois de manipular a Constituição, que admitia apenas dois mandatos, pediu em comunicação divulgada em Libreville que o povo se levante contra o golpe de Estado militar.
"Façam barulho nas ruas", apelou, sem sucesso, Ali Bongo Ondimba, de 64 anos, 14 de poder, e, ahora, o último de uma dinastia de governantes do Gabão que começou em 1967 com o seu pai, Omar Bongo, e se preparava agora para repassar ao seu filho mais velho, Noureddin Bongo Valentin, que foi detido e está a ser acusado de traição e corrupção pelo novo poder. (ver links em baixo nesta página).
Um golpe esperado e anunciado
Este golpe, que ainda carece de confirmação para o seu sucesso, o que poderá acontecer com o passar dos dias, não sendo totalmente fora das possibilidades uma resposta de facções leais a Bongo nas Forças Armadas, não é totalmente inesperado, como o demonstram as tentativas no passado, sendo a mais relevante a de Janeiro de 2019, que foi abortada inextremis.
A tentativa de golpe militar em Libreville em Janeiro de 2019 foi abortada pelo grosso das forças armadas do Gabão depois de um jovem tenente, de nome Kelly Obiang, um dos comandantes da Guarda Republicana, ter dado a cara pela intentona ao ler um comunicado com os justificativos para a acção.
Horas depois do golpe - realizado quando o Presidente da República, Ali Bongo se encontrava em Marrocos em tratamento médico -, um porta-voz do Governo, Guy-Bertrand Mapangou, vei dizer aos jornalistas que o golpe tinha falhado.
"O Governo está no activo e as instituições do país estão a funcionar normalmente", disse este porta-voz na altura-
O golpe terá falhado porque as chefias superiores das Forças Armadas não alinharam no plano dos militares de patentes inferiores, contra aquilo que chamam o "desgoverno" do Presidente Bongo, o que agora não sucede porque este golpe foi liderado por generais, incluindo o novo líder do país, o até aqui comandante da guarda presidencial, general Brice Oligui Nguema.
O autodenominado Movimento Patriótico das Forças de Defesa e Segurança do Gabão, pelo qual o tenente Kelly Obiang, quando leu o seu manifesto, ladeado por outros dois militares, armados e vestidos com camuflados, deu a cara, alegou, como razão para o "golpe", a falta de condições de Ali Bongo para governar o país, devido ao seu estado de saúde física e mental.
O Presidente gabonês foi transferido para o exterior depois de ter sofrido um ataque cardíaco em Outubro de 2018.
De recordar que a intentona de 2019 falhou porque as chefias superiores do Exército não alinharam e também porque um contingente militar norte-americano foi enviado para este país, alegadamente por causa da sua localização estratégica face ao, na altura, tenso processo eleitoral na República Democrática do Congo (RDC).
Já na ocasião, como o Novo Jornal noticiou, a pouca simpatia que Ali Bongo conta ( contava) entre o povo é uma das razões pelas quais alguns analistas admitiam que este caso poderia estar, nesse período, mitigado, mas dificilmente serão evitadas outras tentativas para depor o Presidente e, com isso, eleger um novo Governo que permita uma melhor distribuição das riquezas oriundas do sector petrolífero.
O que se veio agora a concretizar.