Dezenas de enxames de gafanhotos-do-deserto, cada um com mais de 100 milhões de insectos, conquistam cada vez mais territórios com o passar dos dias naquilo que é já uma preocupação enorme para várias agências das Nações Unidas.
Mais dois países entraram no mapa desta dramática "peregrinação" da mais violenta praga de gafanhotos em mais de 70 anos nalguns locais das regiões afectadas.
Culturas de milho, sorgo e outras fundamentais para o sustento de milhões de pessoas nos países atravessados pelos enxames insaciáveis de gafanhotos foram literalmente devoradas com a sua passagem.
Este é já um problema de grades proporções não só para os respectivos países como também para as agências da ONU como o Programa Alimentar Mundial (PAM), a maior organização do mundo, ou a FAO, o Programa da ONU para a Agricultura, que normalmente surgem na linha da frente da resposta a situações de emergência provocadas pela destruição inusitada de culturas agrícolas em regiões empobrecidas.
O Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, em Adis Abeba, na Etiópia, onde esteve nas últimas horas por causa da Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da União Africana, considerou este problema como um dos mais graves do continente e apontou as alterações climáticas como a razão de fundo para a sua ocorrência, reafirmando o seu pedido de acção contra estas.
"A ONU emitiu um pedido urgente de assistência à comunidade internacional onde peço uma resposta célere e generosa para garantir uma eficaz resposta à praga de gafanhotos nesta parte do continente africano enquanto vamos a tempo e está numa fase controlável", disse Guterres à margem da 33ª Cimeira da UA.
Para a FAO, a situação presente, que já se prolonga há semanas, é a mais grave de todas as pragas de gafanhotos registadas globalmente nas três áreas do planeta onde este problema ocorre ciclicamente, havendo mesmo registo de focos destes enxames em outros 14 países, ameaçando ganhar dimensão de praga em locais como o Sudão do Sul, entre outros, paa além do Quénia, da Somália, da Etiópia, Uganda e Tanzânia.
O chefe das Nações Unidas disse mesmo, em tom de alerta, que alguns destes enxames têm um tamanho nunca visto em dimensão, número de indivíduos, e capacidade destruidora, o que só pode ter como razão de base as alterações climáticas que afectam particularmente o leste e o Corno de África.
A fome é a mais dramática e imediata consequência, para milhões de pessoas, da passagem destes enxames de gafanhotos que geram nuvens que el alguns locais fazem com que o dia pareça noite devido à sua densidade.
No Uganda, por exemplo, o país mobilizou milhares de militares para o combate a esta praga, com recurso a insecticidas por via terrestre ou aérea como está a ser feito na Tanzânia. Actualmente, apesar dos pesados efeitos colaterais noutras espécies animais, o ataque aéreo com insecticidas surge como a mais eficaz "terapia" para esta praga.
Em alguns locais são mesmo usados drone - aparelhos não tripulados - para dispersar os insecticidas onde os aviões não conseguem chegar, como vales apertados, por exemplo.
A questão das alterações climáticas está a ser constatada pelo facto de estes enxames terem emergido após fortes chuvas no mês de Dezembro na Península Arábica, no deserto de Omã, onde há muitos anos não se via pluviosidade com esta intensidade e criou as condições perfeitas para a sua reprodução, tendo os gafanhotos chegado a África empurrados por um ciclone que chegou à Somália.
Os gafanhotos-do-deserto que tiveram o deserto de Omã como berço, chegaram igualmente aos milhões ao Paquistão e à Índia e as perspectivas de mais e intensas chuvas na região deverão, temem os especialistas, permitir que o número de insectos aumente de forma vertiginosa.