Foi no passado fim-de-semana que o escândalo estourou em Nairobi, quando o Governo do Presidente William Ruto foi informado que numa floresta próxima da pequena cidade costeira do sul do país, Malindi, um pastor alucinado estava a convencer os seus seguidores de que se deixassem de comer e beber até à morte, isso os levaria para os braços de Cristo.
Com os corpos a avolumar-se (ver links em baixo nesta página), o pastor entregou-se às autoridades mas ficou em liberdade depois de pagar uma fiança exigida pelo juiz do tribunal de Malindi, gerando uma onda de protestos por organizações civis quenianas.
De um dia para o outro, centenas de elementos de equipas de resgate e socorro, incluindo da polícia queniana, chegaram à floresta de Shakahola, com mais de 300 hectares, para procurarem em todos os seus cantos por sobreviventes das indicações do pastor Makenzie (na foto), porque muitos estavam a esconder-se para continuarem a sua jornada a caminho do paraíso.
Mas o foco do trabalho destes equipas, que agora foi alargado além das fronteiras da floresta de Shakahola, para áreas limítrofes de várias aldeias, incluindo habitações de antigos ou actuais fieis da Igreja Internacional da Boa Nova, é o subsolo, onde foram encontradas dezenas de corpos em valas comuns.
A propriedade do pastor Pal Makenzie, que inclui parte desta floresta, está especialmente a ser visada pelas equipas de busca e salvamento, porque na sua própria residência foram encontradas, já no Domingo, 15 pessoas em condições muito degradadas, tendo mesmo quatro delas morrido apesar dos cuidados médicos, sendo que uma delas recusou mesmo a ingestão de alimentos e água ou assistência médica de forma a concluir a sua caminhada.
A última descoberta macabra aconteceu já ao final do dia de terça-feira, com 17 corpos enterrados numa vala comum numa área distante da floresta de Shakahola, tendo as equipas conseguido encontrar e salvar 34 pessoas que estavam à beira da morte por fome e sede, sem condições já de raciocinar.
As acusações que pendem sobre o pastor Paul Makenzia, que o Presidente Ruto já considerou não se distinguir de um terrorista, são de homicídio por ter ludibriado centenas de seguidores com a ideia de que se morressem à fome e à sede teriam um encontro com Cristo garantido no paraíso.
Face a este cenário, o ministro do Interior, Kithure Kindiki, anunciou entretanto que o Governo está a elaborar um plano de acção para regulamentar as organizações religiosas e a sua actividade bem como os locais de culto.
Entretanto, soube-se já nas últimas horas, pela imprensa queniana, que este pastor já tinha sido detido em 2019 por suspeita de envolvimento na morte de várias crianças, e também em Março já este ano, por igual suspeita, sendo que em ambos os processos, sem que se saiba ainda bem porquê, o religioso conseguiu manipular os tribunais de forma a arrastar os processos sem quaisquer medidas restritivas, o que permitiu agora este crime em larga escala.
Teme-se que, com o avançar das averiguações policiais, este pastor seja agora ligado a dezenas de desaparecimentos nos últimos anos.
Entretanto, o número de corpos descobertos e vítimas deste jejum criminoso deverá aumentar nas próximas horas porque há ainda dezenas de pessoas dadas como desaparecidas na região e noutras zonas do país.