Esta epidemia de Ébola, a 10ª a ocorrer na RDC, é já a mais grave de sempre no país onde o vírus foi detectado pela primeira vez em humanos, na década de 1970, e sem que as organizações internacionais, nomeadamente a Organização Mundial de Saúde (OMS) e os Médicos Sem Fronteiras (MSF), consigam sequer estabelecer um calendário de previsão para a sua contenção e extinção.
Isso, porque o vírus está a dispersar-se numa região - as tumultuosas províncias do Kivu Norte e Ituri, junto à fronteira com o Uganda e Ruanda - onde proliferam guerrilhas e milícias violentas, com ataques permanentes às equipas médicas que procuram combatê-lo no terreno, havendo já vários mortos e feridos registados entre os técnicos que as compõem, o que levou o experiente Centro para o Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos a abandonar a RDC devido à insegurança.
Para se ter uma ideia clara do que está em causa, a epidemia de Ébola foi declarada a 01 de Agosto do ano passado e em cinco meses já matou 368 pessoas - mais de duas mortes por dia, em média -, foram confirmadas 600 contaminações e não há uma ideia sólida de quando poderá ser declarada controlada.
Todos os anteriores prazos indicativos anunciados pela OMS foram gorados devido às dificuldades no terreno, destacando-se entre estas a questão da insegurança gerada pelos grupos armados, e as culturais que limitam muito os efeitos do combate à doença, como, por exemplo, o hábito fomentado pelos curandeiros e feiticeiros de tocar nos corpos dos falecidos com a doença em rituais tradicionais, ou ainda a existência de dezenas de milhares de refugiados, internos e com origem nos países vizinhos, como o Burundi e o Ruanda.
A última organização a suspender o trabalho na região foi a ONG britânica Oxfam, cujo papel neste combate é considerado importante devido á experiência que a organização possui, tendo sido reportado ferimento grave de um membro das equipas do Ministério da Saúde congolês em Komanda, uma área nevrálgica nas operações de contenção do vírus, na província de Ituri.
Director-geral da OMS no terreno
O director-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, está no terreno, para acompanhar o combate à doença, tendo mesmo passado o ano com as equipas nacionais e internacionais que estão no Kivu Norte e Ituri.
A missão do responsável pela OMS é, segundo informou esta agência da ONU, averiguar que tipo de apoio extra pode ser enviado para a RDC de forma a melhor controlar a expansão da epidemia, que, para já, mostra ser resiliente a todas as estratégias de ataque, fazendo temer a sua propagação para os países próximos e regiões vizinhas, especialmente por causa dos milhares de pessoas que já começaram a deixar a região com receio da doença.
Entretanto, o ministro da Saúde congolês, Oly Ilunga Kalenga, avançou nas últimas com novos dados sobre o avanço da doença, confirmando a ocorrência de novos casos em Oicha, Beni, Butembo e Katwa, tudo zonas onde a epidemia está implantada há vários meses sem que se consiga interromper a transmissão do vírus.
Para que isso suceda com a robustez actual está a contribuir o facto de, por razões culturais e receios instigados por crenças antigas, alguns dos doentes estarem a ser escondidos pelas comunidades como garante de que lhes será feito o enterro tradicional, estando a surgir mortes entre as comunidades, o que faz aumentar dramaticamente a dispersão desta febre hemorrágica.
Face a estes episódios, as campanhas de vacinação tendem a ver diminuir o seu efeito profiláctico, porque é difícil às equipas sanitárias erguer um muro preventivo para conter o vírus.
Recorde-se que, face a esta situação de avanço da epidemia, a votação para as eleições gerais na RDC, que no Domingo levou às urnas mais de 39 milhões de eleitores, só ficará concluída em Março, porque não existiam condições mínimas de segurança e sanitárias para votar nas regiões afectadas pelo vírus.
Uma das maiores inquietações neste momento para as equipas que coordenam os esforços de contenção da epidemia é a eventualidade de novos focos de violência pós-eleitoral quando, a partir de Domingo próximo, se espera que comecem a ser divulgados os resultados parciais das eleições do passado Domingo.
E as coisas não parecem tender para a harmonia porque os três principais candidatos, Félix Tshisekedi e Martin Fayulu, da Oposição, e Ramazani Shadary, candidato escolhido pelo ainda Presidente Joseph Kabila (na foto), já anunciaram que são os legítimos vencedores destas eleições, que vão ficar marcadas pela saído do poder de Kabila, que lidera o país desde 2001.
E também porque a história não prenuncia nada de bom, tendo em consideração que nunca, desde a independência da RDC, antigo Zaire, ocorreu uma eleição com transição de poder, que não tenha resvalado para violência generalizada, e mesmo guerras civis.
Para a comunidade internacional, estas ainda são a esperança de. Finalmente, poder ocorrer uma transição de poder democrática e sem violência. Mas isso, ainda está para ser confirmado...