Milhares de pessoas estavam, ainda hoje, manhã de domingo, 23, a deixar as suas casas na área da cidade de Goma, a capital da província congolesa do Kivu Norte, junto à fronteira com o Ruanda, depois de o vulcão de Nyiragongo ter voltado a "acordar" ao fim de quase 20 anos, expelindo rios de lava em direcção aos mais de 2 milhões de habitantes desta cidade.

Em 2002, este vulcão apanhou de surpresa milhares de pessoas, obrigando-as a fugir com a roupa que tinham no corpo, tendo, na altura morrido quase 300 pessoas, o que ainda está na memória dos habitantes que neste sábado fugiram de suas casas, embora desta feita o Governo tenha evacuado a zona para evitar a repetição da tragédia.

Os primeiros tremores, como relatam as agências de notícias e a imprensa congolesa, foram ouvidos no sábado e, pouco depois, uma corrente de lava soltou-se das entranhas da terra através deste vulcão localizado no Parque Nacional de Virunga, onde se encontra uma das mais importantes e protegidas populações de gorilas da montanha, há anos em risco de extinção e alvo de esforços gigantescos para salvar estes grandes símios do desaparecimento definitivo.

Como se pode ver nas fotografias e imagens recolhidas no local pelos media locais e internacionais, a lava, na noite de sábado para hoje, correu livremente e sem oposição possível por entre o casario pobre dos subúrbios de Goma, tendo chegado às imediações do aeroporto da cidade capital do Kivu Norte.

Esta parte da RDC, país com mais de 2.500 kms de fronteira com Angola, constituída pelos Kivu Norte e Sul e Ituri, as três províncias do leste "coladas" aos Grandes Lagos, são das mais fustigadas pela violência perpetrada pelas milícias e guerrilhas locais e com origem no Ruanda e no Uganda, levando o Governo do Presidente Félix Tshisekedi, a partir de Kinshasa, há duas semanas, a decretar o estado de sítio de forma a criar abertura legal para que as Forças Armadas da RDC (FARDC) assumam o controlo para expulsar os guerrilheiros e milícias que desde a década de 1990 espalham o terror entre as populações locais para melhor explora os ricos recursos naturais existentes.

Esta região é ainda uma das mais fustigadas pelos cíclicos surtos de ébola e por uma prolongada mancha de milhões de deslocados em campos de refugiados que permanecem depois das cíclicas guerras do Congo e do genocídio do Ruanda em 1994, onde a maioria Hutu massacrou mais de 800 mil membros da etnia politicamente dominante, os Tutsi.

Apesar de os fluxos de lava terem hoje, segundo os media locais, acalmado e perdido vigor, as populações continuam a deixar a área, muitos passaram a fronteira com o Ruanda, pelo menos 2.500, com medo de passar a noite nas suas casas, muitas delas já devoradas pela lava, tal como aconteceu em 2002, quando mais de 100 mil pessoas ficaram desalojadas para além das centenas que morreram.

Para já, quando as coisas, à medida que a manhã de domingo terminava, as populações das aldeias circundantes foram referindo uma acalmia no vigor do vulcão e a partir de Kinshasa o ministro das Telecomunicações e porta-voz do Executivo, Patrick Muyaya, sublinhava no Twitter que o plano activado de resposta a esta erupção estava a funcionar e estavam já a ser pensadas as medidas de resposta aos atingidos pelo desastre natural.

Esta nova erupção do vulcão de Nyiragongo levou o Presidente Félix Tshisekedi a anunciar o seu regresso da Europa, para onde se deslocou de forma a participar na Cimeira da Saúde, também na qualidade de presidente rotativo da União Africana, que tratou da resposta a dar à pandemia da Covid-19 entre os países mais pobres.

Até ao momento, 11:30 em Luanda, não havia registo de vítimas mortais desta erupção, mas os estragos em infra-estruturas tendem a ser de grande monta, desde logo em milhares de casas que se encontravam no "leito" do rio de lava, ainda as imediações do aeroporto de Goma ou mesmo nas estradas da região, incluindo a principal via da província, a auto-estrada que liga esta cidade à cidade de Beni, junto ao Lago Kivu, para onde muitos fugiram para o atravessar nas embarcações disponíveis, embora a maior parte tenha procurado áreas altas de forma a contrariar o sentido descendente do fluxo de lava.

Os media estão a reportar críticas das organizações locais e das populações ao Governo que não soube ou conseguiu antecipar esta erupção apesar das lições de 2002, quando foram anunciadas medidas nesse sentido, como a colocação de uma rede de sismógrafos de forma a sentir o pulsar do vulcão de Nyiragongo para antecipar eventuais erupções, como esta.

Apesar de estar todo mais calmo ao final da manhã deste domingo, 23, o foco está agora colocado na monitorização do vulcão de forma a prevenir refluxos.