Mulheres e crianças são a maioria dos que cruzaram a fronteira para escapar das disputas entre milícias e forças armadas congolesas, segundo a porta-voz do Acnur em Genebra, Shabia Mantoo, que relatou que os recém-chegados vivenciaram conflitos em diversas aldeias e carregavam apenas utensílios básicos, recolhidos à pressas durante a fuga.
O Acnur e o governo de Uganda estão a tentar responder à situação, em coordenação com as autoridades distritais e locais. Vários parceiros também apoiam, incluindo o Programa Mundial de Alimentos, PMA.
Shabia Mantoo contou que a agência até agora realocou cerca de 500 pessoas no centro de acolhimento de Nyakabande, que tem cerca de 1,5 mil vagas.
Quem chega ao Uganda, país que mais acolhe refugiados em África, faz teste de covid-19 e recebe apoio, tendo acesso a água, comida, abrigos comunitários e cobertores.
Embora as fronteiras de Uganda estejam actualmente fechadas para requerentes de asilo por causa da pandemia, Mantoo elogiou a decisão do governo de considerar a situação uma "excepção humanitária" para permitir a passagem segura das pessoas.
A porta-voz do Acnur demonstrou preocupação com a possível sobrecarga dos serviços locais em breve e apelou por recursos urgentes e afirma que até agora apenas recebeu 45% do financiamento necessário para as suas operações no Uganda, que está estimado em 335 milhões USD.
Entre Janeiro de 2019 e Junho de 2021 mais de 500 civis foram mortos em dois territórios da província de Kivu do Norte, no leste da República Democrática do Congo, denuncia também a ONU num relatório divulgado.
Elaborado pelo Escritório Conjunto da ONU para os Direitos Humanos (UNJHRO, na sigla em inglês), o documento expõe a situação dos direitos humanos em Masisi e Lubero, onde "grupos armados mantiveram a sua presença em partes importantes desses dois territórios".
No período em questão, "os grupos armados foram responsáveis por pelo menos 2.045 abusos dos direitos humanos (1.362 em Masisi e 683 em Lubero), e pelo menos 455 civis foram vítimas de execuções sumárias (315 homens, 92 mulheres e 48 crianças)", lê-se no documento.
"As forças de defesa e segurança foram responsáveis por pelo menos 793 violações dos direitos humanos, incluindo 218 em Masisi e 575 em Lubero. Pelo menos 95 civis foram vítimas de execuções extra-judiciais. (72 homens, 12 mulheres e 11 crianças)", revela ainda o relatório.
As violações e ataques registados "têm origem nos conflitos intercomunitários relacionados com a posse de terra, a exploração dos recursos naturais e a fragilidade, ou mesmo a ausência de serviços do Estado nessas regiões", sublinha o UNJHRO no documento.