O Governo da RDC, através do Ministério do Interior, afirma, numa declaração tornada pública, que "uma caravana do Programa Alimentar Mundial (PAM) foi vítima de um ataque armado por elementos das Forças Democráticas de Libertação do Ruanda (FDLR)" na província do Kivu Norte.
Na mesma nota acrescenta que quatro pessoas foram raptadas na ocasião, uma das quais foi, entretanto, encontrada.
As FDLR reagiram numa nota enviada à agência de notícias AFP, negando estar envolvidas no atentado e pedindo às autoridades congolesas e à missão da ONU na RDC (MONUSCO) "que esclareçam as responsabilidades deste ignóbil assassínio em vez de fazerem acusações precipitadas".
Segundo os rebeldes ruandeses "o comboio do embaixador foi atacado numa área chamada "trois antennes (três antenas)" perto de Goma, na fronteira com o Ruanda, não muito longe de uma posição das FARDC (Forças Armadas da RDC) e das (...) Forças de Defesa do Ruanda (exército do Ruanda)", e por isso, acusam, "a responsabilidade deste assassínio ignóbil deve ser procurada nas fileiras desses dois exércitos".
O embaixador Luca Attanasio e dois elementos da embaixada italiana em Kinshasa foram mortos esta segunda-feira durante uma tentativa de rapto por elementos armados próximo da cidade de Goma, capital do Kivu Norte, uma das províncias mais afectadas pela presença de guerrilhas e milícias, algumas das quais com origem nos países vizinhos, como o Uganda ou o Ruanda.
Segundo o Governo italiano, Luca Attanasio seguia, juntamente com outros elementos da sua embaixada, nomeadamente um polícia-militar, dos Carabinieri, também abatido, com veículos humanitários da MONUSCO, a missão da ONU na RDC, a maior das Nações Unidas em todo o mundo, incluindo forças militarizadas com a missão de estabilizar o país.
Attanasio, 43 anos, casado e com três filhas, tinha-se tornado chefe de missão em Kinshasa em Setembro de 2017, onde estava a levar a cabo numerosos projectos humanitários.
O Secretário-Geral da ONU, António Guterres, condenou "veementemente" o ataque, num comunicado em que apela ao Governo da República Democrática do Congo que investigue imediatamente "este hediondo ataque a uma missão conjunta das Nações Unidas no terreno e leve os autores deste ataque à justiça".
Guterres reafirma que "as Nações Unidas continuarão a apoiar o Governo e o povo congolês nos seus esforços para estabelecer a paz e a estabilidade no leste do país", expressando condolências às famílias das vítimas, aos Governos da Itália e do Congo, bem como "total solidariedade aos colegas do PMA e a toda a equipa das Nações Unidas no país".
Em nota à imprensa, os membros do Conselho de Segurança também destacaram "a necessidade de levar à justiça os autores deste acto", reafirmando que "a sua determinação em apoiar o povo da República Democrática do Congo não seria diminuída por este ou qualquer outro acto deste tipo".
Recorde-se que o leste da RDC, nomeadamente as três províncias mais próximas das fronteiras com o Ruanda e o Uganda, é uma das regiões de África mais violentas, muito por causa da presença de várias guerrilhas estrangeiras e milícias armadas locais, que se formaram após o genocídio de 800 mil tutsis pela maioria Huto, no Ruanda, em 1994.
Estas guerrilhas prolongaram a sua acção para a RDC onde se mantém até hoje, com um rasto de milhares de mortos e feridos, e mais de 2 milhões de deslocados, por causa das riquezas naturais da região, desde os diamantes aos minerais estratégicos como o cobalto e o coltão, imprescindíveis às modernas industrias tecnológicas, como o Novo Jornal descreve aqui.
A Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos (CIRGL), que agrega os países em torno dos Grandes Lagos, actualmente dirigida pelo Presidente João Lourenço, tem como um dos objectivos prioritários garantir o apoio aos países mais expostos à devastação em vidas humanas protagonizada pelos grupos armados, como a RDC, o Ruanda e o Uganda.
As mais perversas guerrilhas que actual naquela regiões, onde agora foi morto o diplomata italiano, são as ADF (Aliança das Forças Democráticas), proveniente do Uganda, e as FDLR (Forças Democráticas de Libertação do Ruanda), além de milícias locais, como o famigerado M23, com forte presença no Kivu Norte.