Do outro lado, a Polícia Nacional Congolesa (PNC) garante que a manifestação dos católicos foi dispersa mas sem mortos, embora sejam evidentes as imagens onde as forças de segurança recorrem a granadas de gás lacrimogéneo e a armas de fogo, alegadamente para atirar balas de borracha.
Este Domingo foi mais um dia de jornada católica contra Kabila, o Presidente da República que chefia o Estado congolês-democrático desde 2001 e que, de acordo com a Constituição, já devia ter saído da Presidência em Dezembro de 2016.
Devia igualmente ter realizado eleições para eleger o seu sucessor mas que, graças a um acordo assinado a 31 de Dezembro desse mesmo ano - que também não cumpriu - se manteve no poder até hoje.
Esse acordo, denominado de São Silvestre, mediado pelos bispos católicos, assinado entre a Maioria Presidencial (MP) de Kabila e a oposição, então liderada por Etienne Tshisekedi, falecido pouco depois, previa a realização de eleições em Dezembro de 2017, mantendo-se Kabila no poder.
Só uma parte do acordo foi cumprido, a manutenção de Joseph Kabila no poder até Dezembro do ano passado e a liderar o pais vai permanecer, pelo menos até Dezembro deste ano, estando como estão as eleições marcadas para 23 de Dezembro próximo.
Depois de uma série de manifestações organizadas pela oposição nos últimos três meses de 2016, das quais resultaram mais de três centenas de mortos, a partir do final do ano passado, e este ano, foram as organizações católicas, centralizadas no Comité de Coordenação Laica (CLC), que assumiram a contestação nas ruas a Kabila.
Face ao repúdio global gerado pela morte de religiosos dentro de igrejas e a detenção de padres nas últimas manifestações, o Governo de Kabila veio a terreiro garantir que as mortes não voltariam a repetir-se entre católicos nas manifestações, nomeadamente nos últimos dias, quando esta manifestação foi marcada para Domingo.
E é isso mesmo que garante a polícia congolesa, que nenhum católico foi morto durante a dispersão da manifestação que não tinha sido autorizada pelas autoridades.
"Mentira", garante a Conferência Episcopal (CENCO), assumindo a informação de que duas pessoas foram brutalmente mortas pelas forças de segurança e dezenas feridas, só em Kinshasa, sendo este número na ordem das centenas em todo o país.
Falta de memória
Tudo isto, porque a Igreja Católica do Congo, que já tinha sido importante na forma como surgiu a contestação ao ditador Mobutu Sese Seko, antes de o pai de Joseph, Laurent Kabila, o depor pela força, colocou-se agora, novamente, ao lado dos que contestam o poder, como se pode verificar nos textos emanados do Episcopado e nas declarações do Cardeal Monsegwo, com o dedo claramente apontado a Kabila como se de um tirano se tratasse.
Também assim foi com Mobutu, especialmente nos seus últimos anos no poder, na década de 1990, onde os analistas mais próximos da realidade congolesa sublinham a importância que os textos críticos dos bispos católicos tiveram na fragilização do seu poder e, por fim, na sua queda estrondosa.
Ignorando a história, Joseph Kabila parece, apesar de já ter vindo a público, por intermédio dos seus ministros, garantir que não tentará prolongar o seu poder para lá de 2018, manter o seu futuro numa incógnita perigosa, sem se definir de forma cabal.
A ponto de os últimos combates entre as Forças Armadas da RDC e o Exército ruandês, no Kivu Norte, na semana passada, estar a ser apontado internamente, e também no Ruanda, como uma manobra orquestrada pelo regime de Kabila ao serviço dos seus interesses políticos.