Desta feita, os combatentes do M23, que as Nações Unidas dão como provado serem apoiados pelo vizinho Ruanda, conquistaram a cidade de Masisi, no Kivu Norte, a província congolesa mais fustigada pelos guerrilheiros de origem ruandesa.
O M23 está presente no leste congolês desde 2012, tendo, entretanto, iniciado uma longa hibernação para, em 2021, reemergir com grande agressividade como uma espécie de força de segurança privada para proteger os negócios do Ruanda na exploração ilegal dos solos da RDC.
Apesar de Paul Kagame, o Presidente do Ruanda, negar de forma insistente qualquer ligação do seu país aos apoios que o M23 possa ter no exterior, a verdade é que um relatório de 2022, elaborado por especialistas da ONU, veio demonstrar que esse apoio de Kigali é efectivo.
Por detrás desse apoio está a exploração de minerais estratégicos valiosos, como o coltão ou o cobalto, que são reexportados pelo Ruanda como sendo provenientes do seu subsolo mas sem que se conheça a existência de reservas no lado ruandês destes recursos naturais.
Perante a ameaça séria de uma guerra entre a RDC de Felix Tshisekedi e o Ruanda de Paul Kagame, com dezenas de escaramuças fronteiriças a suportar essa possibilidade, o Presidente angolano encetou uma "batalha" diplomática para estabilizar a região.
Para isso contribui ainda o Quénia, no âmbito da Comunidade da África do Este (EAC), que, com Angola, tem servido de palco para sucessivas rondas negociais, algumas delas promissoras, como quando, em 2023, em Luanda, Paul Kagame se comprometeu em pugnar junto dos lideres do M23 para aceitarem depor as armas.
Tal nunca foi efectivamente concretizado, apesar de ao longo de 2024 terem sido definidos os ditames das tréguas que duraram meses e foram vigiadas e garantidas por um continente militar de interposição com milhares de militares oriundos de países como Angola, África do Sul, Quénia ou, entre outros, Uganda.
Porém, como tinha sido reguçar nos últimos meses de 2024, agora, em 2025, ainda o ano está a arrancar é já se começa a perceber que o M23 não vai dar descanso aos lideres dos esforços diplomáticos, onde está o Presidente João Lourenço, como pode ser revisitado nos links em baixo, nesta página.
Segundo a AFP, Masisi é a segunda cidade do Kivu Norte tomada de assalto pelos guerrilheiros do M23, cujo mapa de actividades, segundo especialistas, segue os filões dos recursos naturais que são mais cobiçados pelas grandes indústrias globais, desde as comunicações (coltão) à aeronáutica (cobalto).
Com as vagas de assaltos do M23, Kinshasa ficou sem controlo de algumas das mais vastas áreas de exploração mineira, perdendo assim milhões USD para os garimpeiros ilegais que fazem estes recursos chegar ilegalmente aos mercados internacionais via Ruanda ou outras geografias.
Por detrás desta renovada ofensiva dos rebeldes está, seguramente, a fricção entre Tshisekedi e Kagame que, apesar dos esforços de intermediação de Lourenço, parece ter chegado a um ponto de ebulição devido à imparável chama dos interesses económicos no leste congolês.
Além das perdas económicas, estes avanços do M23 resultam ainda como uma poderosa dor de cabeça para as autoridades congoleses que se encontram já com uma severa crise humanitária entre mãos.
Isso, devido aos quase cinco milhões de pessoas que se encontram em campos de refugiados em vários locais, devido à violência - são mais de 100 os grupos de guerrilheiros, milícias e bandidos organizados na região - e com tendência de crescimento sem fim à vista.
Segundo a AFP, os habitantes de Masisi, capital da região com o mesmo nome, foram informados pelos comandantes do M23 que esta ofensiva visa "libertar a região e a RDC".
Há relatos de que os combates entre as forças congolesas e os guerrilheiros fazem mais de 20 mil mortos anualmente, sem contar com as milhares de vítimas civis, que são a laga maioria.
Masisi situa-se a menos de 100 kms de Goma, a capital do Kivu Norte, que alguns analistas admitem que possa ser um dos objectivos maiores do M23.