Richard Valery Mouzoko Kiboung, um médico epidemiologista, dos Camarões, a trabalhar para a Organização Mundial de Saúde (OMS), foi abatido a tiro por um grupo de homens armados que invadiram um posto sanitário nos arredores de Butembo, uma cidade do Kivu Norte, que, a par de Ituri, são o território onde se desenvolve esta perigosa epidemia do mais letal dos vírus que provocam febres hemorrágicas.
Segundo fontes das organizações internacionais a trabalhar no terreno, citadas pelas agências, a morte do médico Richard Kiboung ocorreu quando um grupo de indivíduos, fortemente armados, mas em trajes civis, entrou na sala de conferências do Hospital Universitário de Butembo, acusando os médicos e enfermeiros de serem os autores de rumores sobre o Ébola, obrigando toda a gente a deitar-se no chão.
Depois de proferirem essas acusações, os mesmos indivíduos deixaram as instalações disparando as suas armas e um deles atirou contra o abdómen de Richard Valery Mouzoko Kiboung, que viria a morrer minutos depois.
Recorde-se que uma das dificuldades que as equipas médicas internacionais e nacionais estão a enfrentar nesta batalha épica contra a epidemia de Ébola é que as populações locais tendem a acreditar nos feiticeiros locais que acusam os médicos de mentirem sobre a letalidade da doença, entre outros impropérios.
Cada vez mais pessoas que sentem os sintomas da doença preferem ir para as suas aldeias, onde contribuem para espalhar ainda mais este letal vírus, do que para os postos médicos porque, dizem as populações locais, ninguém que procura as unidades médicas com a doença sai de lá com vida.
Na mesma altura em que tinha lugar este ataque ao hospital de Butembo, em Katwa, outra localidade afectada pela epidemia, um grupo de homens armados de catanas e facas atacou um centro de tratamento de Ébola, obrigando à debandada do pessoal técnico.
Desde o início desta epidemia já morreram dezenas de trabalhadores das equipas sanitárias, desde motoristas a médicos, quase sempre vítimas de ataques de grupos armados, que, nestas províncias da RDC, que fazem fronteira com o Ruanda e Uganda, subsistem há dezenas de anos, algumas delas com grande organização e fortemente aramadas, como as ADF, provenientes do Uganda, e no Congo deste a década de 1990, quando teve lugar o genocídio de Tutsis - morreram mais de 800 mil - às mãos da maioria Hutu, no Ruanda.
Estes inexplicáveis ataques aos postos médicos tem subjacente a crença de que os técnicos estrangeiros levaram a doença para a região, como contou aos jornalistas o autarca de Butembo, quase sempre impulsionada por curandeiros tradicionais que se aproveitam da ignorância das populações para tirarem proveito da situação.
Estes frequentes, cada vez mais frequentes, ataques às equipas médicas e o espalhar da crença de que os curandeiros locais são mais capazes de curar as pessoas, está a contribuir fortemente para as dificuldades crescentes de conter a epidemia que, é bom lembrar, já perdura desde 01 de Agosto de 2018, data em que foi oficialmente declarada pelo Governo de Kinshasa.
E é por isso que esta é já a segunda mais grave epidemia de Ébola registada desde que o vírus foi detectado em humanos, em 1976, também no Congo, só ultrapassada pela de 2013/14, na África Ocidental, onde morreram mais de 11 mil pessoas.
Desde que foi registado o primeiro caso, já morreram 874 pessoas e kais de 1300 casos foram registados como contaminações.
E as coisas estão a piorar a cada dia que passa porque este mês foi aquele em que estão a ser registados mais novos casos em vários meses, o que enuncia um recrudescer da epidemia, impulsionada pelos problemas conhecidos, sejam os ataques, sejam as crenças no feiticismo local ou que a doença simplesmente não é real e foi inventada pelos estrangeiros, ou ainda porque a região vive numa extrema pobreza e ali estão há décadas muitos milhares de refugiados dos países vizinhos.