Os 16 países que integram a SADC defendem em comunicado que, na perspectiva de encontrar a verdade eleitoral, face às dúvidas existentes, seja feita uma recontegem dos votos e que tenham início conversações sérias para a formação de um Governo de unidade nacional que reconcilie os congolenses ao mesmo tempo que sublinham que essa solução é imperativa para evitar o risco de uma nova vaga de violência no complexo e gigante país da África subsaariana.

Isto, quando, legando que os resultados foram falseados pela CENI para dar a vitória a Félix Tshisekedi, Martin Fayulu deu entrada a um recurso para o Tribunal Constitucional de forma a que os resultados definitivos - que devem ser anunciados 14 dias após a votação - não sejam anunciados pela CENI sem que exista uma clarificação.

Recorde-se que a CENI anunciou no dia 09 deste mês que Tshisekedi foi eleito nas eleições de 30 de Dezembro com 38,5 por cento dos votos, contra 35,2 por cento de Fayulu, tendo o candidato do regime de Joseph Kabila, Ramazani Shadary, ficado a longa distância, a ponto de ter aceitado de imediato a derrota sem contestar.

Esta facilidade, inaudita em situações envolvendo eleições na RDC - e no continente africano -, onde o candidato apoiado pelo regime aceita a derrota com esta "naturalidade", foi um dos motivos que levou alguns analistas, e a poderosa Conferência Episcopal congolesa (CENCO), a anunciarem estranheza com este cenário.

Imediatamente surgiram rumores que de Tshisekedi tinha chegado a um entendimento por detrás dos panos com Kabila para a gestão partilhada do poder.

Todavia, Fayulu, que conta com o apoio dos pesos-pesados Jean-Pierre Bemba e Moise Katumbi, antigo Vice-Presidente da RDC e ex-governador do Katanga, respectivamente, garante que não vai "abandonar o povo" porque "o povo não votou neste resultado nem era esta a conclusão que queria das eleições".

"Não aceito que se decida num qualquer gabinete a fabricação de resultados falsos para permitir ao sr Kabila recuperar o poder", disse Fayulu, numa clara alusão à ideia de que Tshisekedi alinhou com Kabila para garantir a sua eleição a troco de garantir a Kabila pelo menos uma forte influência nos destinos do país.

SADC propõe solução para evitar problemas

A SADC, face a este cenário de incerteza e perigoso, como o atesta o facto de a RDC nunca ter tido uma transição de poder pacífica desde a sua independência, em 1960, após um período de consultas, emitiu um comunicado onde preconiza como caminho a seguir a constituição de um Governo de unidade e reconciliação nacional.

Neste documento, a SADC diz que uma solução que envolva todas as partes na formação de um Governo abrangente, é o melhor caminho para que a RDC possa ter um futuro promissor e pacífico, avançando com um apelo às negociações nesse sentido.

E, para reforçar a solidez dessa possibilidade, lembra que são vários os países em África onde a solução de um governo de unidade nacional permitiu resolver problemas graves, sendo disso um bom exemplo a África do Sul.

Todos querem saber os números da CENCO

Em perspectiva está ainda a exigência, de países da comunidade internacional mais atentos à RDC, por razões históricas, como a França e a Bélgica (antiga potência colonial) de saber quais os "resultados" obtidos pela soma de votos dos 40 mil observadores que a CENCO teve nas mesas de voto de todo o país.

Isto, porque os bispos católicos já fizeram saber que os seus resultados diferem muito dos oficiais e mesmo que apontam num sentido diverso, ou seja, que não dão a vitória a Tshisekedi. Isto, depois de fontes anónimas da Conferência Episcopal terem admitido que Fayulu liderava destacado a contagem parcial de votos.

Para já, se tudo seguir no calendário oficial, Tshisekedi deverá tomar posse a 22 deste mês.