A contestação ainda está a dar os primeiros passos e a situação pode resvalar rapidamente para formas mais radicais de protesto, até porque Moise Katumbi (na foto), milionário da indústria extractiva e antigo governador do Katanga e já apelou à "resistência popular contra a fraude eleitoral" de onde diz que são provenientes estes resultados.
Apesar de tudo estar ainda em aberto, ao contrário do que alguns analistas estimavam antes da campanha eleitoral, as Presidenciais de 2023 na RDC correram sem problemas de grande vulto e sem a violência que marcou actos eleitorais anteriores, deixando em aberto a possibilidade de a "normal" reacção dos derrotados se circunscrever ao previsto na lei e não através de actos de desordem pública de vulto, apesar de já se terem registado protestos populares em algumas cidades, como, entre outras, Goma, na província do Kivu Norte, leste do Congo.
Apesar deste cenário, até ver, de relativa tranquilidade pós-eleitoral, os 73,3 por cento que a Comissão Eleitoral Nacional Independente (CENI) atribuiu já, provisoriamente, a Tshisekedi, as críticas ao processo eleitoral somam-se umas atrás das outras, nomeadamente em irregularidades observadas durante a votação.
Entre estas irregularidades, confirmadas por observadores independentes, destacam-se a falta de equipamento eleitoral em várias regiões, dificuldade de acesso dos eleitores às mesas de voto, pressão das forças de segurança sobre as movimentações dos candidatos da oposição e, entre outros, a questão da violência gerada pelas dezenas de guerrilhas e milícias que "apagam" vastas áreas do mapa da democracia congolesa.
As duas reclamações que deram entrada no Tribunal Constitucional até agora - outras podem chegar ainda - são de Theodore Ngoy, que assenta a contestação nas "muitas irregularidades" que enviesaram o processo eleitoral e a segunda é de David Eche Mpala, que, de substantivo, apresenta a justificar a interposição deste recurso as mesmas razões: irregularidades e ausência de equidade de tratamento do Estado entre os distintos candidatos.
Tanto David Eche Mpala como Thodore Ngoy são personagens menores deste filme eleitoral da RDC, e podem estar, segundo analistas, a avançar com protestos ao Constitucional para desbravar terreno para os episódios seguintes, onde serão os pesos-pesados da oposição congolesa a dar a cara à contestação.
Entre estes nomes de maior vulto, espera-se com maior veemência a acção de Moïse Katumbi, o milionário e antigo governador do Katanga, que se ficou pelos 18,08%, e que já fez saber que não aceita os resultados e a "clara fraude eleitoral", tendo apelado mesmo à resistência popular contra a usurpação do poder pelo actual Presidente.
Katumbi afirmou num vídeo que circula nas redes sociais que "todos os congoleses estão a ser vítimas deste roubo eleitoral" e que se está, de novo, perante "a usurpação da soberania congolesa", acrescentando que "aceitar esta situação é ser cúmplice de uma tenebrosa fraude eleitoral" que "jamais será aceite".
Outra reacção esperada é a de Martin Fayulu, o antigo gestor do sector petrolífero e que muitos analistas dizem que foi o vencedor das eleições de 2018, apesar de oficialmente Tshisekedi ter saído vitorioso, que não foi além de 5,33%, ambos muito longe dos mais de 73 por cento do incumbente.
O Tribunal Constitucional tem agora um prazo de 10 dias para se pronunciar sobre as duas reclamações que recebeu, sendo que a generalidade dos derrotados já fizeram saber que se sentem enganados pela CENI neste processo eleitoral e que a vitória, apesar de ainda ser provisória, de Félix Tshisekedi ser claramente fraudulenta.
Até hoje, desde o fim do grosso da violência armada na RDC, especialmente das suas três guerras civis da década de 1990, nenhum acto eleitoral terminou sem forte contestação nas ruas, havendo mesmo registo de violência armada, como foi o caso em 2006, depois de Jean Pierre Bemba se ter sentido ludibriado por Joseph Kabila. (ver links em baixo nesta página)
Depois, como recorda a Radio Okapi, foi a vez de Etienne Tshisekedi, o histórico opositor e pai do actual Presidente, contestar nas ruas a eleições de Joseph Kabila, e em 2018, as últimas eleições, foi Maryin Fayulu que se sentiu prejudicado face a Félix Tshisekedi.