Os principais alvos são o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, a quem Putin apontou como lhe tendo, ainda em 2021, proposto manter a Ucrânia fora da NATO por um largo período em troca da travagem a fundo nas intenções russas de invadir o leste ucraniano.
Numa conversa com os jornalistas em São Petersburgo, num fórum económico euro-asiático, Vladimir Putin disse, nesta quinta-feira, 26, que Joe Biden, à margem da Cimeira da NATO de 2021, em Genebra, na Suíça, lhe propôs manter a Ucrânia fora da NATO.
Isto a propósito da ideia, com crescentes aparições nos media ocidentais, de um plano norte-americano para congelar o conflito na Ucrânia por troca com a garantia formal de que Kiev não adere à organização militar atlântica por um longo período, possivelmente de 10 a 15 anos.
Nesse ano de 2021, Putin e Biden encontraram-se na Suíça, naquela foi a última Cimeira entre os dois antes da invasão russa da Ucrânia, em Fevereiro de 2022, e essa proposta do norte-americano foi relembrada pelo russo para reafirmar que tal não lhe interessa minimamente.
O chefe do Kremlin voltou a garantir que a Ucrânia não vai aderir à NATO nem hoje nem no futuro, porque se trata de uma questão existencial para a Federação Russa e 15 anos são "um piscar de olho do ponto de vista histórico".
E, no entanto, o congelamento do conflito é um dos pontos que se conhecem melhor da proposta para um cessar-fogo do antigo general Keith Kellogg, enviado especial de Donald Trump para a Ucrânia.
Esse é, ao que tudo indica, o trunfo de Trump para acabar com a guerra rapidamente após assumir o cargo a 20 de Janeiro, mas que, tanto Vladimir Putin como o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, vieram, nas últimas horas, desmontar.
Se Putin se limitou a repetir que tal proposta não interessa à Rússia, lembrando para isso que tal já não é "nenhuma novidade", porque lhe foi feita em 2021, mesmo antes do início da sua "operação miliar especial", por Biden, Lavrov foi bastante mais longe.
Isto, porque o que enfurece especialmente o Kremlin é que a proposta de Keith Kellogg, pressupõe que o conflito fique congelado e que a garantia de que tal assim se mantém seria dada pela presença na actual frente de guerra de 40 mil soldados de países europeus da... NATO.
O chefe da diplomacia russa sublinhou, numa conferência de imprensa online, que um cessar-fogo, no desenho proposto até agora, serviria apenas para permitir a Kiev ganhar tempo de forma a receber mais armas dos seus aliados da NATO e a organizar novas mobilizações de soldados.
"Um cessar-fogo é um caminho para lado nenhum", disse Lavrov, ao que acrescentou que Moscovo não está para prolongar "discussões vazias de conteúdo" sobre uma solução para o conflito que só faz sentido se for definitiva.
Advertiu que quaisquer acordos que venham a ser conseguidos sobre o conflito têm de ter garantias sólidas contra quaisquer violações imediatas ou no futuro, que é o pressuposto mínimo para que possam ocorrer consultas com a Administração Trump sobre este assunto.
Sergei Lavrov voltou a sublinhar que não faz sentido estar a falar de acordos de cessar-fogo ou de paz sem ter como certa a discussão e análise sobre as raízes do conflito que opõe ucranianos e russos.
E aproveitou para dar um golpe que pode ser fatal para a diplomacia francesa no que diz respeito à sua ligação com a Ucrânia, informando que o Governo do Presidente Emmanuel Macron "avançou com várias propostas à Rússia para discutir o conflito sem o envolvimento de Kiev".
Ora, isto confronta radicalmente com as declarações públicas de Macron que defende publicamente que quaisquer conversações devem envolver directamente Kiev, ao mesmo tempo que se perfila desde o início da invasão como um dos mais acérrimos defensores do envolvimento directo de países da NATO na guerra.
Como vai a França reagir a estas declarações flamejantes de Sergei Lavrov ainda não se sabe, mas é fácil de perceber que Paris estará neste momento activamente a procurar limitar os danos em contactos intensos com Kiev e com o Presidente Zelensky.
No restante das declarações mais relevantes de Lavrov nesta conferência de imprensa sobressai a posição de Moscovo sobre o futuro das relações entre os Estados Unidos e a Rússia.
O ministro russo dos Negócios Estrangeiros não duvida que Washington vai continuar a procurar fragilizar a Rússia com ou sem Trump no poder, admitindo, porém, que reconhece sinais do Presidente-eleito de que tem vontade de retomar o diálogo com Moscovo.
"Reconhecemos esses sinais de que o Presidente-eleito poderá querer falar com a Rússia, mas os primeiros passos têm de ser dados pelos americanos", disse Lavrov, citado pels media russos.
NATO reage a eventuais sabotagens russas no Mar Báltico
A NATO, organização militar liderada pelos EUA que abrange a Europa e a América do Norte, ofereceu-se para integrar directamente as investigações em curso pela Finlândia e pela Estónia, dois dos seus membros, sobre o alegado envolvimento da Rússia na sabotagem aos cabos submarinos que ligam aqueles dois países sob as águas do Mar Báltico.
O chefe da NATO, Mark Rutte, avançou nas últimas horas que está em contacto com os governos finlandês e estónio sobre a sabotagem dos cabos submarinos, afirmando que a Aliança Atlântica está ao lado dos seus membros para o que der e vier e condena veementemente quaisquer ataques a infra-estruturas críticas no seio da organização.
"Estamos a acompanhar as investigações e estaremos prontos para apoiar no que for preciso", acrescentou Rutte, numa altura em que já se sabe, segundo The Guardian, que as autoridades finlandesas apreenderam um navio russo de carga por suspeita de destruição do cabo submarino de transporte de electricidade que liga a Finlândia à Estónia, e ainda um outro de comunicações.
A confirmar-se a sabotagem russa nas águas do Báltico, é mais um passo na batalha naval que está a decorrer em vários pontos do mundo com a crescente suspeita de que as secretas ocidentais e a ucraniana estão por detrás de sabotagens a vários petroleiros e cargueiros russos.
Devido às sanções ocidentais por causa da invasão da Ucrânia a 24 de Fevereiro de 2022, que incidiram fortemente nas exportações de crude e gás e no seu sistema financeiro, provocando severos danos, a Rússia foi obrigada a encontrar alternativas.
Se uma das mais eficazes alternativas foi o desvio do fluxo de petróleo e gás natural do ocidente europeu para oriente, com oleodutos e gasodutos para a China, para a Índia, o outro grande cliente, o negócio começou a derrapar com as sanções a abrangerem os "traders" e as empresas destes países que negociavam, ou negoceiam, com a Rússia.
E a solução foi criar uma gigantesca frota fantasma de petroleiros e cargueiros, estes mais virados para a exportação, igualmente relevante, de produtos agrícolas e industriais, quase tudo navios em fim de vida, baratos e abundantes, de forma a contornar as sanções.
Uma das linhas de acção da Ucrânia nestes quase três anos de guerra, foi procurar desvitalizar a parte da economia russa que foi conseguindo contornar as sanções ocidentais, sendo o melhor exemplo o ataque às suas refinarias e infra-estruturas energéticas e portuárias.
Porém, havia uma frente de guerra até aqui incólume para os russos, que eram as suas frotas de petroleiros e cargueiros, que continuavam, e de certa maneira continuam, a galgar os mares com carregamentos vitais para a agora, e cada vez mais, economia de guerra da Federação Russa.
Só que, como tudo indicava, e agora as autoridades russas conformaram, os problemas que foram surgindo nestas embarcações não se tratava apenas de avarias ou colateralidades de tempestades no mar: eram, afinal, resultado de operações das secretas ucranianas ou ocidentais.
E a prova chegou agora, no Mediterrâneo, quando o cargueiro Ursa Major, ao serviço da empresa russa Oboronloguistika, que integra o universo de empresas ligadas ao Ministério da Defesa da Federação, afundou depois de uma sucessão de explosões na casa das máquinas.
E foi a própria empresa que veio a público limpar quaisquer dúvidas: foi um acto de sabotagem que levou o Ursa Major para o fundo do Mediterrâneo a poucas milhas da costa espanhola mas em águas internacionais.
O que acabou por trazer para a tona da água novas abordagens aos problemas que ocorreram com dois petroleiros russos no Mar Negro, que afundaram quase ao mesmo tempo, pensando-se, inicialmente, que fossem consequências do mau estado dos navios que não resistiram, por isso, ao mau tempo no canal de Kersh, onde está a famosa Ponte da Crimeia.
A hipótese de sabotagem das secretas ucranianas ganhou lastro logo após os incidentes, na semana anterior ao Natal, nas redes sociais russas e nalguns bloggers de guerra pró-Moscovo, e, agora, com o caso no Mediterrâneo, o caso dos petroleiros voltou a incendiar as redes.
Isto, porque, quase ao mesmo tempo, em grande número de media ocidentais, o assunto da frota fantasma de petroleiros russos é tema em destaque, devido à importância que esta tem na eficácia com que Moscovo contorna as sanções ocidentais sobre as suas exportações de crude.
Estas embarcações são, na generalidade, compradas pela Rússia a preços baixos por se tratarem de unidades em fim de vida, mas permitindo, apesar dos riscos, o escoamento de milhões de barris da matéria-prima vital para a economia russa, escapando assim aos "castigos" ocidentais.
O outro caso agora sob suspeita ocorreu no início do mês, no Mar Báltico, com um navio de transporte russo, que ficou inoperacional devido a avaria que ficou igualmente pendurada em dúvidas.
Com estes "ataques" à linha vital marítima para os russos, o contra-ataque de Moscovo também já estava a ser investigado, e focou-se na sequência estranha e suspeita de cortes em cabos submarinos de serviço de comunicações no Mar Báltico, entre a Finlândia e a Estónia e a Finlândia e a Alemanha.
Há largos meses que os países da NATO têm emitido alertas para a passagem de navios russos que, alegadamente, sob a capa de investigação oceânica e de transporte regular escondem unidades das secretas russas de recolha de informações sobre a localização de cabos submarinos para posteriores acções de sabotagem.
E as suspeitas são agora ainda mais robustas porque, horas depois do afundamento do Ursula Major no Mediterrâneo ocidental, mais um cabo submarino entre a Finlândia e a Estónia, este de transporte de electricidade, foi cortado no fundo do Mar Báltico.
Apesar de não haver provas sobre a actuação das secretas ucranianas ou ocidentais nos "ataques" aos navios russos, ou sequer da actuação russa nos danos provocados nos cabos submarinos no Báltico, alguns analistas admitem que um e outro lado estão a dar sinais do que pode vir a ser uma verdadeira guerra na sombra se as situações de parada e resposta deste tipo continuarem.
Isto, porque os navios russos em alto mar são, claramente, vulneráveis a eventuais acções de sabotagem e os milhares de cabos submarinos que mantém todo o ocidente conectado, são igualmente aquilo a que se chama patos sentados à espera do caçador...
Nos media ocidentais, ao longo de 2024, surgirem, repetidamente, notícias sobre a navegação de navios russos não listados nas sanções norte-americanas e europeias, como, por exemplo, os de investigação ou de transporte de matérias não sancionadas, incluindo para portos europeus alegadamente com a dupla missão de mapear os fundos do mar em busca de cabos submarinos.
E alguns destes cabos são de uma importância única porque deles depende o modo de vida e mundo tal como o conhecemos... isto é, se forem destruídos, ou seriamente danificados, daí surgiria seguramente um gigantesco apagão planetário nas comunicações de todo o tipo.