Os cinco pontos do "plano de vitória" de Volodymyr Zelensky, que os media internacionais, com um ou outro pormenor, já tinham esmifrado, expondo-o como um aglomerado de "desejos", segundo a Bloomberg, e de "impossibilidades", como a ele se referiu "The New York Times.

O primeiro ponto do pouco secreto plano de Zelensky é a imediata entrada da Ucrânia na NATO, o que obrigaria os países desta organização militar a alterar profundamente os seus estatutos fundadores porque estes impedem a integração total ou parcial de um país em guerra.

Reduzido à nulidade pela sua natureza, e em confronto directo com os estatutos da NATO, Zelensky só pode estar a avançar com esta proposta em desespero de causa, porque a alteração dos estatutos implicaria sempre uma decisão por unanimidade e não apenas dos países a quem o documento foi mostrado antes, EUA, Reino Unido, França e Alemanha.

Mas o Presidente ucraniano parece ter percebido isso e deixou este objectivo dentro do seu "plano" apenas para criar efeitos mediáticos, porque o segundo ponto propõe que o seu país seja equipado com meios militares "não nucleares" de dissuasão eficaz a futuros ataques russos.

Zelensky fez saber, mantendo assim a continuação do secretismo sobre este documento, que essa dissuasão está detalhada e pormenorizada num "compartimento secreto" do plano que foi dado a conhecer ao Presidente dos Estados Unidos da América, Reino Unido, Itália, França e Alemanha.

Ora, esses meios implicariam sempre a transferência de volumosas quantidades de armamento que, como as baterias de defesa antiaérea norte-americanas Patriot ou THAAD, ou alemãs Iris-T, que os países da NATO dizem já não ter disponíveis para ceder, além de misseis de longo alcance, entre outros, como aviões de guerra modernos e blindados modernos em quantidades medidas aos milhares.

Também o 3º ponto é já conhecido, que passaria por Kiev contar com uma autorização de Washington, Londres e Paris para uso dos seus misseis de longo alcance, ATACMS (EUA), Storm Shadow (Reino Unido) e Scalp-G (França) para ataques na profundidade do território da Federação Russa.

Ora, foi precisamente este ponto que levou os russos a alterarem a sua doutrina nuclear para uso de armas atómicas em caso de ataque convencional de um país "não nuclear" com apoio de uma potência nuclear, e que, segundo media como o Financial Times, entre outros, obrigou Joe Biden a recuar no último minuto nessa autorização.

Mas se estes três primeiros pontos focam questões militares e geoestratégicas, todos eles nulos, para já, considerando o que se conhece, os dois últimos pontos são susceptíveis de terem caminho para andar.

Como começa a ser apercebido entre a comunidade de analistas e especialistas em geopolítica e política internacional, os três primeiros pontos são colocados exactamente para serem descartados (no que seria uma jogada de mestria diplomática rara), porque os objectivos ucranianos são exclusivamente os dois últimos: a oficialização de acordos de parceria estratégica com EUA e União Europeia de imediato e a integração de forças ucranianas na estrutura da NATO, mesmo que sem uma adesão definitiva.

Outra conclusão a que se pode facilmente chegar analisando os cinco pontos de Zelensky, nomeadamente a ausência de exequibilidade dos que são estritamente militares ou orbitam na esfera militar, é que em Kiev se assume já uma derrota militar na guerra com a Rússia e que os ganhos possíveis ainda em cima da mesa são unicamente económicos e políticos.

O mesmo parece pensar-se no Kremlin, porque, na curta reacção de Dmiti Peskov, o porta-voz de Vladimir Putin, além de sublinhar a ausência de novidades e a repetição da frase desafiante de que Washington quer manter o conflito "até ao último ucraniano", é ainda sublinhado que Moscovo está disponível para "uma saída pacífica" para a guerra.

Enquanto Volodymir Zelensky procura manter alguma atenção dos media internacionais, já pouco interessados no que se passa na Ucrânia com o advento dos conflitos no Médio Oriente e, agora, na Península Coreana e no latente conflito Pequim-Taiwan, na frente de batalha no leste europeu, as forças ucranianas abeiram-se cada vez mais do colapso.

A Rússia soma conquistas de cidades importantes e posições estratégicas no Donbass, e em Kursk, região russa invadida pelos ucranianos em Agosto, as notícias mais recentes dão conta de uma mortandade inexplicável entre as forças de Kiev para manter uma geografia impossível de defender e sem valor estratégico, como não se cansam de apontar os analistas militares mais competentes.