Emmanuel Macron, depois de ter liderado por semanas o fio noticioso sobre a guerra nos media ocidentais, e russos, ao ter anunciado o possível envio de forças militares de países da NATO para a Ucrânia, estava consciente do "poder de fogo" da fotografia na pose de "boxeur".
A isto, junta-se a denúncia do chefe dos serviços de inteligentsia externos da Rússia (SVR), o antigo KGB, de que a França está a prepaar unidades militares para actuarem na Ucrânia, no apoio directo às forças de Kiev no esforço de guerra com a Rússia.
Sergey Naryshikin, o chefe do SVR, descreveu aos media russos que as forças francesas serão à volta de 2 mil e estão já em deslocação, como, pouco depois, foi sugerido pelas imagens de colunas de "tanques" franceses a atravessar a Roménia a caminho da Ucrânia.
Os veículos blindados filmados na Roménia, embora sem prova conclusiva de que são franceses, ostentam as cores típicas da Legião Estrangeira francesa, cor terra, embora também isso não seja demonstrativo de nada, porque outras unidades usam essas cores, como os EUA.
No entanto, a fotografia de Emmanuel Macron, com luvas de boxe a soquear um saco de treino da modalidade, e com ar decidido e de ataque sobre o "inimigo", em conjunto com estas informações, mesmo que por confirmar, estão a gerar controvérsia.
Mesmo depois de Macron ter vindo a público garantir que não seria a França a tomar a iniciativa de enviar forças de combate para a Ucrânia, o mesmo não afastou totalmente essa possibilidade, admitindo que nalgum ponto da guerra, isso poderá ser inevitável.
E agora, com esta fotografia de guerreiro dos ringues, a interpretação não poderia ser outra que a de que o Presidente francês, líder da maior potência militar europeia, a única da União Europeia com armas nucleares, está pronto para o combate com Vladimir Putin (ver links em baixo nesta página).
E essa foi a abordagem geral dos media ocidentais, seja pela via do humor, seja pela via mais radical de que se trata de um aviso de Paris a Moscovo.
Por exemplo, o britânico The Guardian avança que esta fotografia, publicada pelo seu gabinete de assessoria de imprensa, está a ser recebida em França com um misto de consternação e aprovação.
Na imagem a preto e branco (ver fotografia) vê-se a expressão compenetrada de Macron, com as rugas do rosto bem vincadas, olhar fixo no alvo onde tem o punho da sua mão direita a atacar com intensidade.
Dificilmente ele, tal como os seus assessores, ignorariam que o efeito da publicação desta fotografia seria outro, mesmo que se trate de um momento de exercício físico banal no dia a dia do Presidente francês.
Mas há um analista, professor de história na Universidade de Lorraine, Eric Anceau, que tocou no ponto mais relevante por detrás desta foto.
Seja qual tenha sido a intenção e o objectivo, Macron aparece aqui a imitar Putin nas suas poses de "macho viril", desde as montado a cavalo de tronco nu, a pilotar um avião, a lutar judo, a jogar hóquei no gelo, a pescar trutas nas montanhas...
O "viril" Presidente francês optou por esta exposição, ridicularizada por muitos nas redes sociais, como as de Putin foram na altura, num momento em que começa a ser evidente que a Rússia está a preparar uma ofensiva alargada sobre as posições ucranianas já nesta Primavera.
E os ataques com misseis e drones desta madrugada, de quarta-feira, para hoje, quinta-feira, 21, sobre Kiev, a capital ucraniana, podem ser um prenúncio dessa movimentação de tropas, como os analistas militares já admitem, aproveitando as fragilidades ucranianas.
Fragilidades essas que se medem pela escassez de sistemas de defesa antiaérea devido ao reduzido apoio ocidental, de munições de artilharia, de misseis para os seus sistemas de longo alcance, como os HIMARS, permitindo o usso intensivo da força aérea de Moscovo.
Aparentemente, a Europa Ocidental está a deparar-se com extremas dificuldades em substituir o papel até aqui desempenhado pelos Estados Unidos que, embrenhados nas questões eleitorais internas, se estão a desvincular do compromisso com Kiev.
Isso mesmo emerge do impasse no Congresso sobre a aprovação do pacote de 60 mil milhões USD que o Presidente Joe Biden propôs para aprovação, e do qual a Ucrânia depende para conseguir manter a resistência aos avanços pronunciados das forças russas.
A par da escassez de armamento, a Ucrânia atravessa igualmente, como é reconhecido até pelos seus aliados mais vigorosos, uma extrema dificuldade de recrutar pessoal para as fileiras do Exército, havendo actualmente uma vaga de homens em idade militar a tentar fugir do país.
Por isso, numa estratégia pouco clara e até estranha, os dois dirigentes norte-americanos que se deslocaram recentemente a Kiev, primeiro o senador republicano Lindsey Graham, e depois Jack Sullivan, conselheiro para a Segurança Nacional de Joe Biden, apostaram neste tema.
Tanto Lindsey Graham como Jack Sullivan disseram ao Presidente Zelensky que seria muito mais fácil conseguir - nenhum pode dar essa garantia porque depende exclusivamente do Congresso - a aprovação do pacote de 60 mil milhões USD de ajuda à Ucrânia se o Parlamento ucraniano aprovasse uma nova lei de mobilização geral baixando a idade militar para os 20 anos em vez dos actuais 27, e em breve 25.
Aparentemente, os norte-americanos não entendem como é que um país em guerra mantém a idade de recrutamento obrigatório nos 27 anos, nem sequer a nova lei, que está em discussão há meses, onde se pretende baixar essa idade para os 25 anos, enquanto o voluntariado pode começar aos 18 anos.
Além disso, os homens com idades entre os 18 e os 60 anos estão impedidos por lei de deixar o país em quaisquer circunstâncias.
Mas Washington quer mais, quer que os jovens a partir dos 20 anos sejam mobilizáveis para a frente de batalha, fazendo mesmo uma evidente chantagem com o regime de Kiev nesse tema, ameaçando cortar os apoios financeiros à Ucrânia.
Segundo alguns analistas norte-americanos, este tema surge porque começa a ser difícil de perceber que os EUA mobilizem para as suas guerras os jovens a partir dos 18 anos quando a Ucrânia, que tem a sua guerra suportada pelos contribuintes americanos, o faz a partir dos 25, se a actual proposta de lei for aprovada.
Com esta pressão externa, que também começa a ser feita pelos aliados europeus de Kiev, onde igualmente emerge a discussão sobre a retoma do serviço militar obrigatório, que já não existe em quase todos os países da União Europeia, provavelmente haverá alterações na lei de mobilização no país.
Porém, se tal suceder, o actual fluxo de jovens a fugir do país para não serem incorporados, irá crescer substancialmente, tal como crescerá a oposição das suas famílias, que, como já é notório nas redes sociais, em algumas localidades se começam a organizar para impedir a entrada das brigadas de incorporação forçada das Forças Armadas ucranianas.