Em mais um périplo europeu, Zelensky aproveitou a etapa romena para, em Bucareste, naquilo que é uma evidente manobra comunicacional, aproveitar o foco mediático na guerra entre israelitas e palestinianos, e acusar a Rússia de ter estado por detrás do Hamas no seu surpreendente e trágico ataque, no Sábado, 07, a várias localidades no sul de Israel.
Face a uma realidade que lhe é nefasta, onde os media internacionais estão a deslocar a atenção para o Médio Oriente, relegando a guerra na Ucrânia para as "páginas interiores", o chefe do regime ucraniano procurou reganhar algum protagonismo com a associação de Moscovo ao criminoso ataque do braço armado do Hamas, as Brigadas Al Qasam, a Israel, que deixou um rasto de morte e sofrimento sem precedentes na tumultuosa história comum dos dois povos (ver links em baixo nesta página).
Prontamente desmentido pelo embaixador de Israel em Moscovo, Ben Zvi, que disse, citado pela televisão russa RT, que não há qualquer indício dessa ligação que seja do conhecimento das autoridades israelitas, este truque comunicacional de Zelensky foi de curta duração e impacto mas expôs o receio do Presidente ucraniano de que a guerra entre Israel e o Hamas "roube" o mediatismo do leste ucraniano que é a base da estratégia de Kiev para convencer os aliados ocidentais a manter o fluxo, reforça-lo, mesmo, do apoio em armas e monetário para continuar o esforço de guerra contra a Rússia.
E esse apoio está visivelmente em queda abrupta, basta ver que nesta sua ida a Bruxelas, onde esteve com o secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austin, perante o qual se colocou em posição de inferioridade protocolar, deixando-se filmar com o norte-americano no centro e ele e o seu ministro da Defesa, Rustem Umerov, nos lados, apenas conseguiu obter de Washington 200 milhões USD, o que é praticamente simbólico face aos gastos brutais com o conflito, que nos 19 meses que leva já queimou mais de 110 mil milhões USD dos EUA e mais de 85 mil milhões de euros oferecidos pela União Europeia e pelos seus Estados-membros.
Se o seu receio, que Zelensky admitiu numa entrevista à francesa France 2, de que os EUA podem desviar o grosso do seu apoio militar para Israel, se materializar, dificilmente a Ucrânia terá condições para manter a capacidade de alimentar o conflito com a Rússia e o risco de colapsar é provável.
Nessa entrevista ao canal francófono, o chefe do regime ucraniano admitiu que a guerra entre Israel e o Hamas pode "fazer divergir e distrair" a atenção dos seus aliados ocidentais na sua própria guerra: "Esse risco existe e se se verificar terá seguramente consequências".
"O futuro da Ucrânia depende da solidez do apoio ocidental e da unidade do resto do mundo", apontou Zelensky ainda na mesma entrevista, onde admitiu esse cenário num contexto em que tanto os aliados europeus como norte-americanos estão com dificuldades em retirar mais munições dos seus arsenais e as suas unidades fabris de armamento não conseguem repor os gastos na frente de batalha ucraniana.
Outra declaração polémica de Zelensky foi no sentido de que a Rússia tem interesse numa guerra abrangente no Médio Oriente de forma a "derrubar a unidade mundial" contra Moscovo devido à guerra na Ucrânia, à qual a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Maria Zakharova, respondeu ironicamente aludindo como justificação para essas mesmas declarações o abuso no consumo de substâncias dopantes.
Entretanto, na frente de guerra, na última semana as acções ofensivas ucranianas praticamente pararam e são os russos que estão a tomar a iniciativa, especialmente na frente de Donetsk, na área da cidade de Avdiivka.