Vladimir Putin garantiu que só não está pronto para aceitar um "duelo" nuclear com o ocidente como está convicto de que o vencerá porque as armas nucleares russas são melhores e mais modernas que as dos EUA e conseguem furar todas as barreiras norte-americanas.
Sobre a guerra na Ucrânia, o chefe do Kremlin voltou a dizer que está pronto para negociar de forma séria com Kiev mas alertou, com uma agressiva ironia e desdém, que só o fará se o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, não estiver sob o efeito de drogas psicotrópicas.
"A Rússia está pronta para negociações, mas estas devem ser baseadas na realidade e não em desejos irreais criados através do uso de drogas psicotrópicas", apontou Putin numa clara alusão aos rumores de uso excessivo de cocaína por parte de Zelensky.
No entanto, nesta entrevista de quase duas horas, aos media russos Rossiya-1 e a um site do universo Sputnik, foi a questão do uso de armas nucleares que absorveu mais atenções, porque Putin asseverou uma rara disponibilidade para um confronto final com os EUA que conduziria a um Armagedão nuclear.
Porém, nas suas palavras exactas, o que Putin diz é que tal confronto só ocorrerá se for feita uma ameaça existencial a Rússia por parte do ocidente, sublinhando que "do ponto de vista técnico" só não está preparado como está certo da capacidade superior do seu arsenal atómico.
O líder russo afirmou que a sua "tríade nuclear", que é a capacidade de disparar misseis intercontinentais a partir de sistemas em terra, no mar (submarinos e navios), e nos céus (a partir de bombardeiros estratégicos) "é superior à norte-americana", a outra superpotência que possui este "tripé" de lançamentos de ogivas nucleares.
Para sublinhar a superioridade do seu arsenal nuclear, o Presidente da Federação Russa, que está a uma semana das eleições gerais, onde será reeleito sem esforço, mas cujo pode justificar e absorver a agressividade destas declarações, chamou à conversa o Avangard, seu mais recente veículo hispersónico, que pode transportar várias ogivas sem oposição até ao alvo, em todo o mundo.
Mas também não pode ser desviado do contexto ucraniano, onde há mais de dois anos a Rússia trava uma guerra com as forças de Kiev, e onde, segundo o Kremlin, existe o risco sério de a NATO enviar forças militares para a Ucrânia.
Nesse caso, já o disseram vários líderes russos, um confronto entre a Rússia e a NATO, que tem neste momento mais de 140 mil soldados nas fronteiras da Ucrânia e da Rússia e da Bielorrússia, seria inevitável e, como o afirmaram sem rebuço Putin e o norte-americano Joe Biden, nesse caso, a evolução para uma guerra nuclear é certa e segura.
Todavia, em formato de aligeiramento do peso das palavras, Putin sublinhou nesta entrevista que os EUA "têm especialistas e conhecimento profundo no campo das elações russo-americanas e no campo da contenção estratégica".
"Por isso, não há pressa para se chegar a um cenário de risco de conflito nuclear", disse ainda Putin, deixando no ar a ideia de que os norte-americanos sabem bem que nesse caso, Moscovo não hesitaria em recorrer ao seu vasto arsenal nuclear de forma resoluta.
Com eleições agendadas para de 15 a 17 deste mês, de sexta a domingo, e nas quais vai ser, naturalmente, reeleito para mais um mandato até 2030, Putin voltou a insistir que não é por causa da posição do Kremlin que não existem negociações sobre a guerra na Ucrânia.
Pelo contrário, acusou Kiev e os seus aliados ocidentais de não quererem negociar, deixando claro que não percebe como é que as negociações não são vistas como um caminho pelo Presidente ucraniano quando a Rússia está a impor-se militarmente na frente de combate.
É ainda possível enquadrar esta entrevista como uma resposta da Rússia aos mais recentes movimentos mais abrasivos na Europa ocidental onde está em cima da mesa a possibilidade avançada pelo Presidente francês de enviar forças para a Ucrânia num desafio claro ao Kremlin (ver links em baixo nesta página).
Alemanha, França e Polónia reúnem-se de emergência na sexta-feira (Lusa)
A Lusa avançou hoje que a Polónia, França e Alemanha vão reunir-se numa cimeira de emergência na sexta-feira em Berlim para discutir a situação na Ucrânia, anunciou o primeiro-ministro polaco, Donald Tusk.
"Na sexta-feira, estarei em Berlim com o Presidente francês, Emmanuel Macron, e o chanceler alemão, Olaf Scholz, para discutir a situação", disse Tusk numa entrevista ao canal público de televisão TVP Info, na terça-feira à noite.
Tusk e o Presidente polaco, Andrzej Duda, foram recebidos em Washington, na terça-feira, pelo Presidente norte-americano, Joe Biden, cuja administração, apesar de um bloqueio no Congresso, anunciou uma nova ajuda militar a Kiev.
A cimeira tripartida terá lugar numa altura em que as relações franco-alemãs parecem ter sido enfraquecidas por divergências sobre a Ucrânia, segundo a agência francesa AFP.
A Polónia, um dos mais fortes aliados de Kiev, tem apelado repetidamente aos parceiros ocidentais para aumentarem as despesas com a ajuda militar para combater a invasão russa.
A Assembleia Nacional francesa aprovou, na terça-feira à noite, um acordo de segurança recentemente concluído entre Paris e Kiev, apesar das abstenções da extrema-direita e da oposição da esquerda radical.
No debate, o Governo francês advertiu que uma vitória russa na Ucrânia seria um cataclismo.
O acordo de 10 anos inclui o aumento da cooperação militar, nomeadamente nos domínios da artilharia e da defesa aérea.
Com o novo governo pró-europeu chefiado por Tusk, a Polónia procura reforçar a cooperação com Berlim e Paris face a Moscovo.
"Na minha opinião, estas três capitais têm a tarefa e o poder de mobilizar toda a Europa" para fornecer nova ajuda à Ucrânia, disse Tusk.
A Polónia gasta actualmente 4% do Produto Interno Bruto (PIB) no reforço dos sistemas de defesa, o que representa o dobro do que a NATO pede aos Estados-membros.
Os Estados Unidos aprovaram um acordo de armamento com a Polónia na terça-feira, que prevê a venda a Varsóvia de mísseis ar-terra de longo alcance e mísseis ar-ar de médio alcance.
O contrato tem o valor de 3,5 mil milhões de dólares (3,2 milhões de euros, ao câmbio actual).
A Polónia é membro da NATO e tem fronteiras, entre outros países, com a Ucrânia, a Bielorrússia (aliada da Rússia), e o enclave russo de Kaliningrado, situado no Báltico.