Depois de Vladimir Putin ter estado com as chefias militares que gerem a guerra na Ucrânia, especialmente o seu CEMGFA, general Valery Gerasimov, não houve quaisquer declarações aos jornalistas, mas o porta-voz do Kremlin explicou que o Presidente foi informado sobre a situação da operação militar na Ucrânia.

Mas esta visita, que o chefe do Kremlin fez ao quartel-general das forças russas no sul, em Rostov-on-Don, tem ainda como sobressalto o facto de ter ocorrido quando, segundo Dmitri Peskov, este regressava a Moscovo de uma cerimónia desportiva no centro da Rússia, de forma intempestiva, sem ninguém estar à espera.

E a razão é aquilo que está por estes dias a fazer fervilhar as redes sociais e os blogs de guerra russos e ucranianos, que é a tentativa desastrada dos russos de tomarem a estratégica cidade de Adiivka, na frente de Donetsk, na qual terão perdido, segundo as diversas fontes, incluindo de bloggers de guerra pró-russos, entre 100 e 200 carros de combate, literalmente queimados pela artilharia ucraniana.

Putin, que pode, segundo apontaram algumas destas fontes, proceder a alterações no comando da guerra, exigiu ainda ser informado sobre o que está a ser feito para conter a ameaça dos ATACMS, ou MGM-140, o míssil balístico táctico que os EUA forneceram à Ucrânia que os usou recentemente para destruir um número elevado de modernos helicópteros de combate russos KA-52, em Berdiansk, na costa do Mar Negro, província de Zaporizhia.

A tomada de Adiivka é uma das derradeiras batalhas na frente ucraniana da guerra face à iminente chegada do Inverno a esta geografia do leste europeu, que deverá congelar o conflito por largas semanas ou mesmo meses, porque os veículos deixam de ter tracção para avançar, só a retomando quando o congelamento do solo substituir os pântanos gerados nas terras férteis pela intensa chuva que já começou a cair.

E se para o regime ucraniano de Volodymyr Zelensky é fundamental sair deste contexto com uma vitória sobre os russos, impedindo-os de tomar a cidade, e ainda melhor se lhes impuser pesadas baixas, para a Rússia é um pesadelo não o conseguir depois de nesta ofensiva ter empenhado tamanha quantidade de equipamento e homens.

Isto, as coisas corriam, aparentemente, de feição para Moscovo, com uma sucessão de semanas com importantes reposicionamentos no terreno, favoráveis ao tempo que se aproxima, além de serem muitas as notícias de perdas importantes do lado de Kiev, que tem, ainda por cima, mais uma frente importante activa na região de Kherson, a sul, onde procura atravessar o Rio Dniepre e criar uma "testa de ponte" em território sob domínio russo.

Zelensky procura paz em Malta

Enquanto isso, o Presidente ucraniano acaba de anunciar que vai realizar em Malta uma reunião internacional sobre a sua estratégia para a paz, que passa por pelo menos dois passos impossíveis de serem vistos com agrado em Moscovo.

Desde logo a exigência de ver todos os militares russos deixarem os territórios ucranianos ocupados desde 24 de Fevereiro de 2022 e ainda da Crimeia, tomada em 2014, o que o Kremlin já disse ser uma ficção criada por Zelensky sem pés nem cabeça.

Alias, ainda esta semana, em Pequim, durante a sua visita à China, Putin disse que se o Presidente ucraniano quiser mesmo falar de paz "que se deixe de brincadeiras", que abandone as exigências sem sentido e diga que está disponível para falar.

Isto, acrescentou Putin, porque a Rússia "está e sempre esteve disponível para negociar".

Zelensky, sobre esta reunião agendada para a ilha de Malta, não adiantou quem nela estará em pessoa, apenas que vão ser convidados os países que apoiam a sua estratégia, e se está disponível para rever algum dos 10 pontos de que é feita a sua proposta para acabar com a guerra na Ucrânia.

Guerra esta que saiu quase totalmente dos radares da imprensa internacional e que Zelensky tem procurado contrariar com iniciativas ousadas, como, por exemplo, ter-se oferecido para ir a Israel mostrar apoio ao Governo de Benjamin Netanyahu e que este liminarmente recusou, gerando uma situação de menorização do Presidente da Ucrânia, quando a Telavive estavam a chegar diversos lideres ocidentais.

Agora, com esta reunião, o chefe do regime ucraniano procura forçar o regresso da sua guerra às televisões de todo o mundo, que estão, quase exclusivamente focadas na guerra do Médio Oriente.