E se este passo, que tem cada vez mais defensores entre os países da NATO, poderá ser o mais arriscado em mais de dois anos de guerra, o seguinte é tão alarmante que fará daquele uma brincadeira de crianças.

O aviso veio agora da boca do ministro dos Negócios Estrangeiros da Federação Russa, Sergei Lavrov, que avisou os EUA e a NATO de que se houver movimentações de ogivas nucleares americanas para a Europa - a Polónia já as pediu -, a Rússia levantará de imediato todas as barreiras auto-impostas para o desenvolvimento do seu arsenal nuclear.

E, na hermenêutica em uso para a linguagem política do Kremlin dirigida ao ocidente, quando o velho lobo da diplomacia russa, e global, fala, é para ser escutado, porque Lavrov não sai do seu "covil" por nada que não seja para definitivamente levar a sério.

Além disso, o recente ataque ucraniano, com drones luso-britânicos, a dois radares de grande dimensão e relevância estratégica para a Rússia porque integram a rede para detectar rapidamente eventuais ataques com misseis balísticos intercontinentais, está a gerar preocupações.

Isto, porque a destruição parcial destes dois radares, de uma teia de 11 que a Federação tem, é um ataque directo à tríade nuclear russa, o que pode ser considerado o patamar, como admite o analista militar major general Agostinho Costa, a partir do qual a resposta de igual envergadura pode ser justificada pela doutrina aplicável pelo Kremlin.

A dúvida, segundo os analistas, é saber que tipo de envolvência os países da NATO tiveram neste ataque além do fornecimento dos drones de longo alcance fornecidos por Portugal a Kiev, porque tal só pode ter como parte directamente interessada os EUA, porque é para responder à capacidade de ataque americana que estes radares existem.

Aparentemente, segundo The Washington Post, há na Administração norte-americana uma crescente preocupação com estes ataques ucranianos à estrutura da tríade nuclear russa, porque se o Kremlin interpretar estes ataques como nesse contexto, então estar-se-á já na aurora de uma guerra nuclear.

E a razão é óbvia: se uma das grandes potências nucleares, russos ou norte-americanos, estivessem a planear um ataque nuclear ao outro, a destruição deste tipo de equipamento de detecção preliminar de misseis intercontinentais em voo, seria dos primeiros passos a dar...

A outra possibilidade é que se trate de uma manobra que não visa qualquer actividade inamistosa para com a Rússia mas sim para com o Irão, porque os dois radares afectados estão geograficamente localizados na cobertura de detecção de eventuais misseis dirigidos a território iraniano, o mais próximo aliados de Moscovo no Médio Oriente e Ásia Ocidental, a partir do sudoeste euroasiático.

Menos perigoso mas não menos mediático é o "jogo" em curso que envolve os aliados ocidentais de Kiev e a Rússia, porque entre os países da NATO se discute com grande ênfase se os ucranianos devem ou não ser autorizados a usar os misseis ocidentais para atacar alvos russos dentro do território da Federação existente antes da invasão de 24 de Fevereiro de 2022.

Países como os EUA, a Itália ou a Alemanha, embora os alemães, segundo o jornal germano-norte-americano Politico estejam a mudar de agulha, opõem-se ao uso dos seus misseis para atacar no interior da Rússia, enquanto franceses, britânicos, holandeses, espanhóis... defendem que Kiev tem esse direito e deve exercê-lo.

Para já, ao que os sinais admitem entender, prevalece a ideia de que sem um consenso, não haverá decisão.

Mas esse consenso poderá ser conseguido já na reunião alargada dos ministros dos Negócios Estrangeiros da NATO que decorre esta quinta-feira, 30, em Praga, capital da República Checa, com a agenda dedicada quase em exclusivo a esse tema e ainda preparar a CImeira da NATO em Julho nos EUA.

Se fosse necessário "adivinhar" que fórmula será decidida nesta reunião de dois dias em Praga, que termina na sexta-feira, dir-se-ia que se os EUA não aprovarem, como parece ser, para já é isso que está a ser dito oficialmente, os seus fieis aliados europeus também não darão esse passo.

Até porque de Moscovo já ouviram o aviso por parte de Putin, tendo mesmo para isso ordenado exercícios de prontidão e emprego do seus sistemas de armas nucleares tácticas -menos capacidade que as ogivas estratégicas - de que se os misseis de maior poder ocidentais forem disparados para o interior da Rússia, a resposta será fulminante.

Enquanto estas questões se desenrolam no patamar de decisão política, estando efectivamente em questão o futuro da Humanidade, no campo de batalha da Ucrânia, as coisas não podem correr pior para Kiev.

Com as forças russas a avançar dia após dia sobre as posições ucranianas, e com sinais mais claros que nunca de fragilidade da defesa de Kiev, a pressão ocidental para ajudar a Ucrânia a resistir e, como diz o Presidente francês, impedir uma vitória militar russa a todo o custo, pode, como advertem vários analistas, levar o mundo para um escaldante patamar de confronto entre a NATO e a Rússia jamais visto.