Este acordo, com duração de 10 anos, um dos 16 que Kiev já assinou com outros tantos aliados ocidentais, pouco transporta de novo para o palco da segurança na Europa, porque é uma sumula de intenções que não impõe obrigações sólidas de defesa mútua.
Além disso, um acordo desta natureza é obrigatoriamente menos vinculativo que a entrada da Ucrânia na NATO, que o Presidente Biden já disse que não deve acontecer num futuro próximo e o chanceler alemão, Olaf Scholz admitiu que não acontecerá nos próximos 30 anos.
Mas o Presidente Zelensky está a usar este, tal como os restantes documentos assinados, os dois últimos foi com Portugal e Espanha, durane a sua recente visita relâmpago à Península Ibérica, para se legitimar no cargo de Presidente da Ucrânia cujo mandato expirou a 20 de Maio.
Tal como na Cimeira da Paz do próximo fim-de-semana, 15 e 16, na Suíça, aproveitará para se legitimar perante o mundo e na presença de algumas dezenas de lideres mundiais. (ver links em baixo nesta página)
Manteve no cargo de Chefe de Estado ucraniano devido à Lei Marcial que decretou com o início da invasão russa, em Fevereiro de 2022, mas há dúvidas, lançadas pelo Presidente russo, Vladimir Putin, sobre a regra constitucional aplicável.
No entender do Kremlin, a Constituição ucraniana determina que não acontecem eleições mas que o poder, durante a Lei Marcial, passa para as mãos do presidente do Parlamento, o que Zelensky já considerou uma abordagem "ridícula" e que não merece "nenhuma atenção".
Todavia, não é menos verdade que estes acordos de segurança entre a Ucrânia e os seus aliados ocidentais, como o britânico The Guardian já sublinhou, não obrigam os signatários a defender KIev mas permitem, além doutras proximidades, que, por exemplo, Washington "assuma a liderança de eventuais negociações com os russos sobre a guerra na Ucrânia".
Um dos riscos deste tipo de acordos, pela sua natureza simplista, é que só obriga ao seu seguimento pelos signatários de momento, podendo simplesmente ser ignorados por novos Governos, como pode suceder já em Novembro nos EUA, no decursos das eleições Presidenciais onde Biden está atrás de Donald Trump nas sondagens.
Nesta passagem de Volodymyr Zelensky por Bari, no sul de Itália, onde vai estar com os sete mais ricos do mundo ocidental, o G7, o mais impressivo "presente" que levará para Kiev não é o acordo com os EUA.
São os 50 mil milhões USD que, embora ainda esteja a correr o processo que o vai permitir, serão retirados do dinheiro russo congelado nos bancos da Europa e nos EUA, no contexto das sanções a Moscovo pela invasão da Ucrânia.
Não estando em condições de criticar as ofertas que recebe do ocidente, Zelensky está longe da alegria que outrora mostrava quando no convívio dos aliados ocidentais, porque o seu maior objectivo, a par da entrada na União Europeia, é aderir de pleno direito à NATO.
E essa linha vermelha traçada por Moscovo, que está, em grande medida, por detrás da decisão de invadir a Ucrânia, não parece que esteja nos planos de Washington, até porque o Kremlin já deu sinais de que antes disso acontecer, o mundo terá de enfrentar a ameaça física e não verbalizada de um Armagedão nuclear.
A mais-valia clara destes acordos, onde o com os EUA não difere dos anteriormente assinados, é que países como França, Reino Unido e os EUA podem entrar na tábua das matérias negociadas em eventual acordo de paz, nomeadamente no capítulo das garantias de protecção futura.
Entretanto, no campo de batalha, apesar de os misseis ocidentais estarem agora disponíveis para atacar alvos no interior da Rússia, e de aviões de guerra dos EUA, F16, e da França, Mirage 2000 5F, estarem a chegar a Kiev, a Rússia está dia após dia a ganhar posições em toda a linha.
Face a esta ameaça de colapso da resistência ucraniana, alguns países como a França estão a começar a enviar unidades de instrutores para o terreno, reforçando a capacidade de preparação de tropas para as trincheiras da linha da frente.
Estes dois elementos, a chegada dos caças e dos instrutores ocidentais, abrem uma nova linha de risco de escalada.
Primeiro, porque existem dúvidas de que os F16 possam operar nas velhas e degradadas pistas das bases ucranianas, existindo planos para que estes possam ficar estacionados em bases de retaguarda na Polónia e na Roménia, que o Kremlin já disse que não hesitará em atacar se tal vier a suceder.
Por outro lado, os russos também já avisaram que as equipas ocidentais que estão na Ucrânia - o Kremlin diz que já está a suceder há largos meses e que várias já foram destruídas - também são alvos legítimos.
Como reagirá a NATO se as bases romenas e polacas onde possam eventualmente ser mantidos os aviões de guerra fornecidos à Ucrânia forem alvo dos misseis hipersónicos russos Kinzhal ou os Tsirkon , para os quais o ocidente não possui defesa antiaérea eficaz?
O Artº 5º do Tratado do Atlântico Norte, que dá corpo à NATO, é claro: se um membro for atacado, será protegido e a resposta virá de todos os outros.
Este pode ser um Verão "quente" na Europa e no mundo.