Abdalla Hamdok, que ocupava o cargo de chefe de Governo sudanês nesta fase de transição após o derrube, por um golpe militar, do antigo ditador Omar al-Bashir, em 2019, acabou por não resistir à pressão das ruas que há largos meses são ocupadas por milhares de militantes pró-democracia contra o actual Governo liderado pelos militares e alguns civis na denominada junta de transição para a realização de eleições democráticas prometidas para este ano.

O agora demissionário primeiro-ministro tinha sido reinstalado pelos militares à frente do Governo, em Novembro de 2021, após um confuso momento em que tinha sido anunciado um golpe militar contra a junta mista que governava, e ainda governa, o Sudão desde 2019.

Abdalla Hamdok, um civil, antigo elemento da ONU, que liderou o país após a queda de Omar Bashir, acabou por manter-se no cargo no seguimento de intervenções duras da comunidade internacional, desde logo da União Africana, dos EUA e da União Europeia, que condenaram o golpe de Outubro porque estava a desmoronar o frágil processo de transição para a democracia.

A demissão foi, segundo estão a noticiar as agências internacionais, motivada pelo impasse provocado pelos militares nesta caminhada para a democracia, deixando o país num perigoso impasse e incerteza.

Hamdok explicou, numa declaração na TV estatal sudanesa que tinha decidido devolver a responsabilidade à junta para que seja possível encontrar um novo caminho por um novo rosto a liderar o Governo até que sejam realizadas eleições e um Governo legítimo tome posse depois da realização de eleições livres e democráticas.

E deixou um aviso aos militares que lideraram o golpe: esta situação é perigosa e pode levar ao colapso do país com custos económicos incomensuráveis.

Recorde-se que o elevado custo de vida foi o fósforo que incendiou o rastilho que levou ao derrube de Bashir, em 2019, nomeadamente o insustentável preço de bens como o pão e a farinha, que são a base da alimentação deste país com 43 milhões de habitantes que tem no gás natura, no ouro e, entre outros, cobalto e manganês, as suas principais fontes de receita, especialmente desde que foi, em 2011, criado o Sudão do Sul, onde estavam as antigas jazidas de crude com que Omar Bashir alimentava a sua ditadura repressiva.