Para Washington, segundo avança a revista britânica The Economist, o barril de pólvora para um novo conflito de grandes proporções na Europa é a vontade da Rússia de Vladimir Putin em voltar a anexar a Ucrânia, através de uma invasão de larga escala, e o barril de pólvora pode muito bem estar a ser "fabricado" na fronteira entre a Bielorrússia, o principal aliado incondicional de Moscovo na região, e a Polónia, o país que menos simpatia nutre pelos russos na Europa.

Isto, porque a Bielorrússia, naquilo que o "ocidente" considera ser uma estratégia elaborada por Moscovo e Minsk, está a enviar milhares de militares e armamento pesado, ao qual juntou bombardeiros estratégicos russos pedidos a Moscovo pelo líder bielorrusso, Alexander Lukashenko, aproveitando tacticamente os milhares de migrantes que procuram entrar na União Europeia estrategicamente dirigidos para a Polónia através da Bielorrússia, gerando uma tensão que pode voltar a incendiar a velha Europa, como temem alguns analistas.

De acordo com The Economist, os EUA estão mesmo a enviar memorandos aos seus aliados europeus sobre a "genuína possibilidade" de a Rússia estar a preparar uma invasão à Ucrânia aproveitando o actual cenário onde se agrega a vontade de Moscovo de continuar a agregar território depois de ter tomado a Crimeia há alguns anos, a crise energética à qual se associa agora, como situação deliberada ou aproveitada, a crise migratória que está a levar polacos a admitir um confronto militarizado com os seus vizinhos do leste e principais aliados de Moscovo nesta sub-região do continente europeu.

Para já, sabe-se que russos e bielorrussos terminaram um pesado exercício militar denominado Zapad, com as tropas de Putin a regressar a casa para se juntaram ao muito significativo contingente deslocado para a fronteira com a Ucrânia. O número de tropas russas na fronteira com a Ucrânia é bastante para, segundo Washington, gerar receios "genuínos" de que algo em grande esteja a ser preparado.

No entanto, há igualmente quem defenda que a presença robusta do Exército russo no sudoeste do país se trata de uma manobra de Moscovo para manter a pressão sobre o ocidente, como, de resto, tem vindo a fazer há anos, agora reforçado com a dependência europeia do gás extraído na Rússia.

A palavra de Putin

Face a este receio mostrado pelos norte-americanos, o líder russo apressou-se a vir a terreiro jurar que, antes pelo contrário, está disponível para ajudar a encontrar uma solução para a crise migratória na fronteira entre a Polónia e a Bielorrússia, repetindo o que vem dizendo há anos a fio: se alguém está com instintos bélicos, não é Moscovo mas sim Washington, alegando que a presença da BATO-OTAN é cada vez mais visível junto às fronteiras físicas e estratégicas para os russos.

Putin repetiu em entrevista recente à TV estatal russal, Rossiya 1, que fará o que for possível fazer para aliviar a tensão naquela região. Mas já antes tinha dito que só não tinha feito isso mesmo antes porque não tinha sido feito qualquer pedido nesse sentido pelas partes interessadas directamente.

Repetiu igualmente que não tem qualquer interesse naquele problema e que a existir algum é que seja resolvido rapidamente, que nunca falou sobre tal assunto com o seu homólogo Lukashenko, excepto depois de o problema ter ganhado dimensões impossíveis de ignorar.

O chefe do Kremlin, garantindo que nada tem ou teve a ver com este problema, acusa mesmo os europeus de terem sido responsáveis pelo problema migratório porque foram esses mesmos europeus que criaram as condições para as enormes deslocações de pessoas em direcção à União Europeia.

No entanto, tanto do lado polaco como do lado bielorrusso, a tensão cresce - a Polónia deslocou perto de 20 mil militares para o local - e o dedo está tenso sobre o gatilho - Lukashenko já prometei resposta avassaladora se o seu país for atacado de qualquer forma e feitio -, aumentando o risco de um conflito localizado mas perigoso e com potencial de alastramento à medida que cresce o número de migrantes junto à fronteira com a Polónia, um país da União Europeia que está agora a ser procurado para entrar neste espaço comum depois de isso ter sido feito preferencialmente, ao longo de anos, pela Grécia, Itália ou mesmo Espanha e Hungria., entre outros mais a sul.

São, na generalidade, pessoas oriundas do Afeganistão, Iraque ou Síria, do Médio Oriente, e do continente africano, que buscam refúgio na Europa seja da pressão política ou para escaparem à pobreza que alastra a ritmo nunca visto, tendo sofrido uma forte aceleração com a crise da Covid-19.