Entretanto, enquanto a guerra de conquistas palmo a palmo no terreno começa a congelar devido à aproximação das chuvas e do frio no leste europeu, e os drones substituem os tiros de artilharia, voando de um lado para o outro, em Sochi, a mais luxuosa cidade turística nas costas russas do Mar Negro, os Presidentes russo, Vladimir Putin, e turco, Recep Erdogan, vão esta segunda-feira, 04, relançar o acordo de cereais que Moscovo interrompeu devido ao incumprimento da parte ocidental, EUA e União Europeia.

Para as geografias mais empobrecidas, como a africana, sul-americana ou asiática, e onde os cereais são parte fundamental da dieta (ver links em baixo nesta página), o que vier a suceder da conversa entre Erdogan e Putin poderá ser fundamental para evitar instabilidade social e vagas de fome em vastas regiões, como, por exemplo, nos países da África Orietal, especialmente na Somália, Sudão, Eriteia ou Etiópia, entre outros.

Este encontro foi, recorde-se, precedido de um não menos relevante, entre os ministros dos Negócios Estrangeiros dos dois países, Hakan Fidan e Sergei Lavrov, onde os traços gerais do desfecho já ficaram desenhados, prevendo-se, pelo que foi sendo escrito a propósito, que Putin e Erdogan já terão tudo preparado para um anúncio importante, que poderá passar pela criação de um "hub" cerealífero na Turquia para os grãos russos, a partir de onde estes chegrão aos mercados internacionais através dos mecanismos nacionais, com o beneplácito ocidental e da ONU.

Embora os termos de um eventual acordo não estejam ainda na praça pública, é já certo que nem Erdogan nem Putin aceitariam um encontro com esta projecção mediática sem garantias mínimas de sucesso naquele que é o principal objectivo conhecido, embora outros existam, como, por exemplo, as cada vez mais em causa relações bilaterais entre Moscovo e Ancara, devido ao balancear periclitante das posições turcas face ao conflito entre ucranianos e russos.

Embora não se tenha falado nisso como sendo um dos pilares deste encontro, a verdade é que entre os analistas está a adensar-se há dias a ideia de que Erdogan, o único líder dos paíswss da NATO que fala amiúde com o chefe do Kremlin, e Putin podem ter ainda um trunfo na manga bem mais relevante ainda, que é um "esboço" para um acordo de paz.

Isto é ainda mais possível agora que se sabe que a Ucrânia está a atravessar sérias dificuldades para manter e alimentar o esforço de guerra, face, principalmente, ao falhanço já evidente da sua contra-ofensiva que, ao fim de quase 100 dias, não chegou sequer a furar a primeira das três linhas defensivas russas ao longo dos mais de mil kms de linha da frente.

E há mesmo quem defenda que a tempestuosa relação entre os dois Chefes de Estado nunca chegou a beliscar a carapaça da "real politik" em que ambos são mestres, mesmo quando Erdogan, para ganhar espaço e confiança em Kiev, libertou, enfurecendo Putin, pelo menos no "ecrã", libertou cinco importantes comandantes do batalhão Azov, que estavam na Turquia sob responsabilidade e compromisso do Governo turco para os deixar ir apenas no fim da guerra.

Com o aproximar do Inverno no Hemisfério Norte, onde a frente de batalha deverá congelar nas posições actuais nos próximos seis meses, pelo menos, e quando o mundo está visivelmente cansado deste conflito, com a Europa Ocidental a sofrer uma severa crise económica, especialmente a Alemanha, devido às sanções aplicadas por Bruxelas a Moscovo, quase ninguém deixaria de ficar satisfeito com um fim nas hostilidades.

Cenário esse que tem igualmente um impulso na situação complexa que se vive em Kiev, porque, aparentemente, a demissão de Reznikov de ministro da Defesa não estava na agenda mais restrita, porque este, horas antes de ter de sair ainda dizia em público que tinha um trunfo na manga, que era o aumento substancial da construção de drones ucranianos para atacar os russos.

Além das suspeitas de compra de casas de milhões de USD, este estava ainda ligado a negócios milionários de compra de fardas à Turquia ou aos esquemas que permitiam libertar indivíduos do serviço militar, obrigados a isso pela lei marcial em vigor há mais de um ano, contra o pagamento de somas avultadas, nalguns casos acima de 10 mil euros.

Como recordava na CNN Portugal o especlalista militar coronel Mendes Dias, esta fuga ao cumprimento do serviço militar é de grande complexidade para o Presidente Zelensky por diz ao mundo que há muitos ucranianos que, afinal, não querem combater pela pátria.

Só que o Presidente Vladymyr Zelensky tinha outros planos para o seu amigo de longa data e ministro da Defesa: a sua demissão e a substituição por uma figura sem conhecidas ligações ao sector da Defesa, Rustem Umerov, que é o actual director do fundo que gera as propriedades do Estado, mas com uma origem que pode ser relevante, é um tártaro nascido na Crimeia, o grupo étnico que mais antagoniza a Rússia e os russos.