A infecção de um grupo de seis crianças a frequentar três escolas de Kampala é uma evolução extremamente séria deste surto epidémico, considerou a ministra da Saúde, Jane Aceng.

Os números actuais apontam para 15 contaminações confirmadas em Kampala e dezenas de casos suspeitos à espera de confirmação laboratorial.

Estas crianças estão referenciadas como familiares de adultos infectados, o que, sabendo-se que este vírus se transmite unicamente através de contactos intensos entre pessoas, especialmente através dos fluídos corporais, então facilmente se percebe que as tradições ancestrais se impuseram ao risco de contágio, apesar da campanha de sensibilização que decorre no país para evitar a expansão da doença.

Segundo uma nota emitida pela ministra da Saúde, este grupo de infecções é maioritariamente resultado da acção irresponsável de um homem que chegou a Kampala para se tratar oriundo de um distrito do centro do país onde o vírus está a fazer mais vítimas, que morreu entretanto.

"Ele é responsável por ter infectado a sua família de sete pessoas, incluindo vizinhos e outros indivíduos", notou Jane Aceng na mesma nota, que garante estarem as autoridades a fazer uma vigilância apertada aos infectados e aos seus contactos - perto de 200 pessoas nas três escolas, incluindo professores e alunos - para travar a dispersão da infecção.

Vários distritos e áreas de risco estão actualmente sob restritas medidas de contenção, incluindo recolher obrigatório nocturno e confinamentos obrigatórios de todos os suspeitos ou que apresentem risco devido aos contactos mantidos nos últimos dias.

Alguns especialistas em saúde pública estão a pedir que Kampala seja sujeita a medidas de restrição de movimentos como recolher obrigatório e confinamentos obrigatórios para conter o vírus, mas, para já, o Presidente Yoweri Museveni rejeita dar esse passo.

Os especialistas advertem, no entanto, que a situação é extremamente grave porque as pessoas, com receio de internamentos forçados, não estão a reportar os casos dos seus familiares , o que aumenta exponencialmente o universo de contactos de risco e contaminações.

Desde o início desta epidemia, a 20 de Setembro, numa comunidade rural do centro do Uganda, já morreram 30 pessoas e 109 estão infectados.

Dentro de alguns dias, segundo informações da Organização Mundial de Saúde, as duas vacinas existentes, mesmo que ainda em fase não totalmente aprovadas, vão começar a ser administradas, esperando-se que consigam, como, de resto, já o fizeram em duas epidemias de Ébola na República Democrática do Congo em 2018 e 2021, travar a extinguir este foco.

O vírus do Ébola foi descoberto pela primeira vez na RDC, província do Equador, em 1976, passando dos animais selvagens, como macacos, para o homem, especialmente quando a sua carne é usada como alimento, tendo já sido registadas neste país 12 epidemias.

O Uganda é a terceira que vive, sendo o responsável um vírus com características únicas proveniente do Sudão.

A epidemia mais grave de sempre ocorreu em 2013/14, na África Ocidental, com epicentro na Serra Leoa e Libéria, tendo morrido mais de 11 ml pessoas, abrangendo ainda Conacri e Nigéria, deixando mais de 100 mil infectados e uma forte perturbação socio-económica em toda a região, tendo as vacinas experimentais sido fundamentais para o seu controlo, senfdo estas aplicadas depois de a OMS ter declarado um problema de saúde pública internacional e atribuído a esta situação a categoria de pandemia.

O Ébola transmite-se através de fluídos corporais e contactos intensos entre portadores do vírus e pessoas não contaminadas, podendo ainda ser absorvido o vírus pelo organismo em contacto com objectos usados por indivíduos infectados.

Os sintomas mais comuns são semelhantes aos da malária, com febre, vómitos, dores musculares... evoluindo depois para hemorragias internas graves.