Entre 20 e 26 de Setembro, a OMS registou 23 mortos suspeitos de relação directa com esta doença, com cinco já confirmados laboratorialmente que resultaram de infecção pelo vírus do Ébola na região central do Uganda, cujo epicentro está sinalizado na região de Mubende.
Estão à espera de confirmação laboratorial 18 casos enquanto outros 18 já estão confirmados como positivos para esta rara estirpe do vírus do Ébola com origem no Sudão.
A OMS sublinha, em nota emitida na segunda-feira, que este é o primeiro surto epidémico de Ébola no Uganda causado pela estirpe sudanesa do vírus desde 2012.
Foi a 20 de Setembro que as autoridades sanitárias ugandesas deram o alerta para a existência de um surto desta febre hemorrágica, depois de ter sido confirmada a morte de uma pessoa com este vírus, numa aldeia do distrito de Mubende.
No entanto, a vítima, uma mulher de 24 anos, já tinha sido notificada como estando com sintomas da doença a 11 de Setembro, tendo, entretanto, contactado com um número desconhecido, mas elevado, de pessoas, depois de ter passado, segundo relata a OMS, por duas clínicas em busca de tratamento para sintomas como febra alta, diarreia com sangue, sangramento dos olhos, dor aguda no peito, vómitos intensos com sangue e tosse intensa.
Esta então paciente foi isolada apenas a 15 de Setembro como passível de infecção por Ébola, vindo a morrer a 17, já internada numa unidade especializada em Kampala, a capital ugandesa.
Desde então, as autoridades de Saúde local e os peritos da OMS já registaram 36 casos, entre estes 18 confirmados, embora os restantes tenham todos os sintomas para que venham a ser igualmente agregados à lista de infecções por este letal vírus.
O Ébola tem sido responsável por várias epidemias e surtos, especialmente na vizinha República Democrática do Congo (RDC), país onde o vírus foi identificado pela primeira vez, em 1976, na região do Equador, junto à fronteira com a República do Congo, nas margens do Rio Ébola, um efluente do Rio Congo.
A mais grave epidemia ocorreu entre 2013 e 2014, na África Central, com epicentro na Serra Leoa e Libéria, tendo chegado com intensidade à Guiné-Conacri e Nigéria, deixando um rasto de mais de 11 mil mortos e dezenas de milhares de infecções incapacitantes, ao mesmo tempo que centenas de milhares de pessoas fugiam das suas casas, ajudando assim a espalhar o vírus.
Esta situação só foi debelada ao fim de quase 3 anos com a ajuda de uma vacina experimental - que não é eficaz na estirpe sudanesa do vírus do Ébola - que se revelou funcional no controlo da infecção, tendo esta sido igualmente essencial para resolver uma epidemia igualmente grave, a segunda mais grave de sempre, no leste da RDC, em 2018, que durou até 2020, e fez mais de 2 mil mortos e muitos milhares de deslocados.
Desde 1976, ano em que se pensa que o vírus transitou de animais selvagens, através do consumo das suas carnes, como macacos, várias espécies de morcegos, chimpanzés, gorilas, alguns tipos de porco-espinho e várias espécies de antílopes... entre outros mamíferos suspeitos, África já assistiu a cerca de 20 surtos e epidemias de Ébola.
O contágio resulta, na generalidade dos casos, de contacto de proximidade com as pessoas infectadas, especialmente os fluídos corporais de todo o tipo, contribuindo para a acelerada expansão da infecção as tradições africanas de tocar nos cadáveres quando decorrem os óbitos, em sinal de respeito, ou ainda de crendices ancestrais que levam as vítimas a optarem por notificar a doença e procurar ajuda nos centros hospitalares, preferindo recorrer a feiticeiros e curandeiros tradicionais, o que corresponde sem excepção a uma condenação à morte e à dispersão da doença pela comunidade.
Neste caso, onde a doença é provocada pela estirpe sudanesa do vírus, a gravidade é maior devido à sua infecciosidade, sendo a letalidade estimada pela OMS entre os 41% e os 100%, dependendo da forma como é acompanhada a doença.
O período de incubação vai de dois a 21 dias e os primeiros sintomas são semelhantes aos da malária, como dores de cabeça, fadiga, dores musculares, dores de garganta e vómitos, sendo, posteriormente, seguidos de diarreias e sangramento interno e externo.
Actualmente ainda não existe vacina para esta estirpe sudanesa, que recentemente passou a ser designada pela OMS como SVD devido a diferenças substanciais encontradas entre os diversos tipos de Ébola até agora conhecidos.
Esta estirpe é conhecida desde 2012 e só foi, até hoje, responsável por surtos e epidemias no Sudão e no Uganda, países com longas fronteiras comuns.
Riscos regionais
Estre surto está concentrado na região de Muende, que fica a cerca de 140 quilómetros da capital do Uganda, mas as autoridades temem que este se liberte do cerco montado muito por causa da forte densidade populacional ugandesa, uma das maiores em África, contando com 45 milhões de habitantes em apenas 241 kms 2, o que perfaz uma média de quase 230 habitantes por quilómetro quadrado, sendo, em comparação, 26 em Angola e 111 em Portugal.
E a densidade populacional é um dos principais problemas quando se trata de travar um surto epidémico como o ébola (SVD), sendo o Uganda o 9º ppaís africano mais densamente povoado, o 5º se se contar apenas o continente, sem os seus arquipélagos ou ilhas, apenas atrás dos vizinhos Ruanda, Burundi, Gâmbia e da Nigéria.
Um surto deste vírus neste país, que conta ainda com uma problemática fronteira com a RDC - além de com o Ruanda, Quénia, Sudão do Sul e Tanzânia -, onde existem, no leste congolês, milhões de pessoas em campos de refugiados e em permanente fuga a ataques de guerrilhas, e onde o ébola mais se tem manifestado deste que foi detectado no quase meio século que passou desde a sua descoberta.
Para já, o vírus ainda não se espalhou e o ministro da Saúde ugandês já veio garantir que não existem casos na capital, Kampala.
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