O ambiente era de festa patriótica, mas também de reverência. A presença do General Sá Miranda, presidente do 1.º de Agosto, deu ao evento um peso institucional raro; e, ao seu lado, as figuras lendárias de Joaquim Gomes "Kikas" e Armando Costa, campeões africanos, referências eternas do nosso basquetebol, acrescentaram uma dimensão emotiva, quase cerimonial. A comunidade recebeu estas personalidades com um entusiasmo genuíno, como quem recebe velhos amigos e, ao mesmo tempo, homenageia heróis que ajudaram a elevar o nome de Angola além-fronteiras.
Antes da bola ao ar, as capitães de equipa deixaram palavras que tocaram no fundo das emoções da plateia: recordar os sacrifícios consentidos para que Angola fosse independente e reafirmar o compromisso das novas gerações em honrar essa herança.
Ali, no piso humilde, mas carregado de história do Formigueiro, ergueu-se um tributo colectivo aos que lutaram, aos que sonharam e aos que continuam a acreditar numa Angola unida, justa e próspera.
O jogo em si tornou-se apenas mais um capítulo dessa celebração maior.
A tradição militar desportiva do 1.º de Agosto encontrou a irreverência e a coragem das nossas jovens do Cazenga, criando um contraste bonito, quase simbólico: a maturidade histórica de um gigante do desporto nacional frente à vitalidade de um projecto comunitário que insiste em provar que talento e disciplina florescem em qualquer terreno onde haja oportunidade.
Mas talvez o mais marcante tenha sido aquilo que estava para além do resultado. No Cazenga, a quadra tornou-se palco de cidadania, de educação e de reencontro com a identidade nacional. O desporto mostrou, mais uma vez, a sua força como elevador social, capacidade de inspirar crianças e jovens, afastá-los das tentações da rua e aproximá-los de valores que edificam: trabalho, respeito, resiliência, espírito colectivo. A celebração dos 50 anos de Independência, vivida naquela tarde, foi mais do que uma efeméride. Foi uma afirmação de que Angola continua a ser construída todos os dias, gesto a gesto, vitória a vitória, sonho a sonho.
No Formigueiro, tradição e futuro apertaram as mãos. E, por alguns instantes, o basquetebol tornou-se metáfora perfeita de uma comunidade que, apesar das dificuldades, continua a erguer-se com orgulho e a caminhar com esperança.n
*Jurista e Presidente do Clube Escola Desportiva Formigas do Cazenga