A União Europeia é ainda o maior parceiro económico de África, mas hoje enfrenta a necessidade de desconstruir a narrativa de neocolonização que alguns Estados-membros enfrentam no continente e a da exploração desenfreada de recursos. A Europa tem uma grande experiência sobre África e a relação entre os povos tem vários séculos, é o seu vizinho mais próximo e um importante parceiro estratégico. Os europeus consideram- se os maiores apoiantes dos esforços de paz em África e um parceiro bastante activo nesta relação. A China é um adversário de peso no nosso continente e tem investido de forma mais ousada, simples e aberta em muitos países do continente, a Europa está atenta e actua de forma estruturada e concertada para a nova estratégia de cooperação com África.
A Rússia não está adormecida, apesar das dificuldades económicas, vai procurando manter parceiros tradicionais e alargar a sua influência em zonas como o Sahel. Quais são as prioridades concretas e o que se pode esperar desta cimeira? Paz e segurança são temas fundamentais para esta cimeira de Luanda, com a União Europeia a rever a sua posição em muitas zonas do nosso continente, tendo uma participação/intervenção assente na diplomacia e cooperação. O multilateralismo é também um desafio permanente e a forma como os dois blocos podem actuar em prol do desenvolvimento comum.
A mobilidade e migração prometem acessos debates, sendo tema com visões distintas em que a União Europeia quer que os fluxos migratórios sejam controlados na origem, que existam de África para a Europa fluxos migratórios controlados. A necessidade de se criarem investimentos que possam criar emprego, riqueza e prosperidade. A questão das reparações históricas ainda divide europeus e africanos e cria algumas fricções, mas é o lema da presidência africana. Mas hoje também se pode colocar a questão também no sentido inverso: O que o nosso continente pode oferecer aos europeus? Temos capacidade de investir na Europa e sermos um parceiro competitivo? Como devemos estruturar esta relação? Vamos manter-nos na posição de um "agente passivo" da relação, dependente da assistência e caridade dos nossos parceiros. Como vamos abordar a questão da mobilidade com a Europa se os países africanos enfrentam entre si dificuldades nesta matéria? Como aproveitar a experiência da União Europeia para estabelecimento da zona de livre comércio em África? Esquecer por enquanto a possibilidade de se falar de um acordo comercial entre a União Europeia e a União Africana, pois os europeus levaram 20 anos para firmar um acordo com o Mercosul e ainda assim tem muitas dificuldades no seu processo de arranque. Mas há muito para discutir e muito para se ver.
A União Europeia vai também aproveitar o encontro para advogar em nome do conflito na Ucrânia e apoiar o alargamento da cooperação dos seus parceiros com os países africanos. A exportação de cereais da Ucrânia para os países africanos, numa cimeira com a Ucrânia na agenda, mas sem Zelensky presente. Chegou a ser cogitada a presença do Presidente da Ucrânia nesta cimeira de Luanda, um diálogo que terá tido início em Setembro último em Nova Iorque durante o encontro que manteve com o seu homólogo angolano, João Lourenço, à margem da Assembleia-Geral da ONU. É claro que esta era uma presença que iria dividir os países africanos e que também não iria deixar a parte europeia confortável, mas certamente para os ucranianos seria marcar pontos num continente onde têm procurado alargar a sua influência.
Certamente se a cimeira tivesse tido lugar numa capital europeia era sempre mais fácil encaixar o líder ucraniano. Mas certo é que não vamos ter Zelensky, mas a Ucrânia vai estar na agenda e com possibilidade de constar da declaração conjunta. Outra novidade é a possibilidade de Ursula Von de Leyen escalar Luanda neste domingo, 23, já no Novo Aeroporto Dr. António Agostinho Neto e num voo da nossa companhia de bandeira, a TAAG. Estas e outras coisas desta importante cimeira de Luanda. Luanda está na moda! Está de parabéns a presidência angolana da União Africana. E é mesmo: Para África rapidamente e em força!

