Um repórter da referida publicação, que esteve em Angola, justifica que a escolha do nosso país deveu-se ao facto de possuir "praias tropicais, cataratas sagradas e parques nacionais únicos".
O articulista diz que ficou impressionado pela nossa diversidade natural e cultural, com destaque para as praias tropicais ainda pouco exploradas, destacando também as quedas de Kalandula e os parques nacionais que, segundo ele, preservam uma biodiversidade ímpar, como o do Iona, no deserto do Namibe.
O Sul do País, segundo o artigo do New York Times, merece também menção pela sua integração na Área de Conservação Transfronteiriça Kavango- Zambeze, que abrange cerca de 445.000 quilómetros quadrados e conecta Angola a outros quatro países africanos - Botswana, Namíbia, Zâmbia e Zimbabwe.
O articulista atribui, em parte, o crescimento do turismo ao facto de Angola ter isentado os vistos a cidadãos de vários países do mundo, incluindo norte-americanos, assim como de ter construído um novo aeroporto, com capacidade para 15 milhões de passageiros, dentre os quais 10 milhões de turistas/ano.
De facto, Angola reúne todas as potencialidades turísticas descritas pelo New York Times, mas o turismo não se resume às belezas naturais, à paisagem, à fauna e à flora. Obedece a um conjunto de infra-estruturas que englobam a mobilidade, livre circulação de pessoas e bens, sem excessivos controlos e "pentes" policiais, alojamentos, preços, segurança, saneamento básico, dentre outros factores.
Sintomaticamente, na reportagem a que tive acesso, o jornal norte-americano não fez nenhuma referência à qualidade das nossas estradas, na sua maioria esburacadas, sobretudo nesta época chuvosa, à disponibilidade de leitos hoteleiros, às condições de alojamento, aos preços, às infra-estruturas de apoio ao turismo, como unidades de saúde, serviços de rente-a-car, etc.
Doze meses depois de Angola ter sido eleita para os lugares cimeiros do turismo mundial, não se sabe ao certo quantos turistas visitaram o nosso País, quais os locais visitados e o que país arrecadou em termos financeiros.
O Ministério de tutela, que deveria fornecer dados estatísticos à imprensa, tem-se limitado a dizer que houve um crescimento no sector, mas sem dizer quanto o Estado arrecadou em matéria de turismo. Os poucos dados que transpiram para imprensa estão longe de dar uma dimensão real do desenvolvimento do sector.
Numa pesquisa na internet, uma notícia da Angop dá conta que, em 2024, Benguela recebeu "aproximadamente 30 mil turistas, entre residentes e estrangeiros" contra os 13 mil do ano anterior. Dos 30 mil não se sabe quantos são estrangeiros, assim como as suas origens e quais as receitas que deixaram na província.
Há dias, o Jornal de Angola publicou uma matéria, segundo a qual 5 mil e 467 turistas, dos quais 314 estrangeiros, visitaram em 2024 o Memorial da Batalha do Cuito Cuanavale.
O caricato é que a localidade visitada, que fica a 200 Km de Menongue, a capital da província, não dispõe de unidades hoteleiras nem espaço de alojamentos, o que significa que os turistas não pernoitaram naquela localidade, tendo sido forçados a percorrer 400 Km por estradas, provavelmente polvilhadas de buracos.
Em 2018, a TVZ fez uma reportagem ao Cuito Cuanavale, tendo constatado que a "histórica" localidade do Sul de Angola possui uma pista para aviões de grande porte, mas que andava às moscas por falta de voos comerciais.
Não fazia nenhuma referência à água potável, afirmando que o município disponha de uma potente central térmica de energia que funciona (va) 24 sobre 24 horas, mas que estava subaproveitada à conta do reduzido número de consumidores.
Na reportagem, alguns "investidores" e políticos entusiastas prometeram, não só a construção de um complexo hoteleiro no Cuito Cuanavale, como também fazer do local "Património Mundial da Humanidade", à conta da célebre batalha que se desenrolou nessa região do País.
Sete anos depois dessas megalómanas ideias, é triste constatar que nada foi feito em matéria de hotelaria e de infra-estruturas de apoio ao turismo, numa localidade que não tem quase nada para oferecer aos visitantes, senão um monumento que simboliza episódios tristes e históricos da guerra.
Será que os mentores da ideia da transformação do CC em "Património Mundial da Humanidade", além de alimentarem os egos políticos, projectavam obter ganhos financeiros com o projecto?
É dado adquirido que desenvolver o turismo é mais do que possuir potencialidades turísticas ou isentar de vistos de entrada aos visitantes, ou ainda "comprar" pacotes atractivos aos principais órgãos da imprensa, por se tratar de uma indústria bastante sensível que requer uma série de infra-estruturas de apoio.
O País não deu ainda grandes passos para «desviar» os turistas dos seus tradicionais destinos em África: RSA, Egipto, Cabo Verde, Marrocos, Tunísia, Namíbia, Zâmbia, Botswana, Seychelles, Maurícias, dentre outros.