Quando mergulhamos sobre a história de vida de uma mulher no continente africano imaginamos certamente a sua infância, a sua adolescência e a sua idade adulta. Verificamos o papel imprescindível destas mulheres enquanto educadoras, trabalhadoras, mães e mulheres. Quando colocamos a reflexão no plano político verificamos que todo o percurso de uma mulher durante um ciclo de vida é alvo de discriminações múltiplas pelo simples facto de ser mulher.
Em muitos países - sobretudo em desenvolvimento - as desigualdades baseadas no género continuam a determinar uma maior vulnerabilidade das mulheres nas questões do acesso e da posse, contribuindo para a perpetuação de algumas regras sociais, normas e tradições que reforçam o ciclo vicioso da pobreza.
A promoção da igualdade de género e o empoderamento das mulheres assumem-se, actualmente, como objectivos não só de direitos humanos, mas também como uma questão de justiça social e como um valor fundamental do desenvolvimento.
A interligação entre as desigualdades de género e a pobreza enquanto fenómeno multidimensional está bem conhecida e documentada, mas muito há ainda a fazer para ultrapassar essas desigualdades e promover um desenvolvimento global mais abrangente, justo e equitativo.
A igualdade de género assenta na convicção de que todos os seres humanos devem ser livres de desenvolver as suas capacidades pessoais e de fazer opções, independentemente dos papéis tradicionalmente atribuídos às mulheres e aos homens. Assim, os direitos das mulheres e das raparigas são uma parte inalienável, integral e indivisível dos direitos humanos universais.
O género constitui um conceito relacional que se refere à forma como as relações entre mulheres e homens vão sendo socialmente construídas, remetendo para as diferenças sociais (por oposição às biológicas) entre homens e mulheres, tradicionalmente inculcadas pela socialização. É o conjunto de características psicológicas, sociais, políticas e culturais atribuídas aos indivíduos do sexo feminino e do sexo masculino, sendo estas características mutáveis ao longo do tempo e variando dentro de cada cultura e entre as culturas.
Assim, assegurar que os diversos comportamentos, aspirações e necessidades de mulheres e homens são igualmente considerados, valorizados e promovidos, assume- -se como um imperativo de justiça social, de forma a promover a igual visibilidade, empoderamento e participação de ambos os sexos em todas as esferas da vida pública e privada.
As mulheres são actores dinâmicos dos processos de mudança e agentes fundamentais de desenvolvimento, pelo que uma sociedade que regista discriminações com base no género, ao nível económico, social e político, é também uma sociedade com maiores constrangimentos no seu processo de desenvolvimento.
As desigualdades nas actividades que desempenham, no acesso aos recursos e respectivo controlo, ou na participação nos processos de tomada de decisão são uma restrição ao desenvolvimento porque limitam a aptidão das mulheres para desenvolverem e exercitarem o conjunto das suas capacidades, para o seu próprio benefício e para o de toda a sociedade.
Pelo contrário, a igualdade de oportunidades para as mulheres e o seu empoderamento na sociedade reforça a sua participação na força de trabalho, na produtividade e rendimento, na participação política e cívica, na vida familiar e comunitária, promovendo um desenvolvimento mais abrangente, justo e sustentável.
Torna-se pois, face ao exposto empreender uma abordagem sobre a participação das mulheres na sociedade como uma condição indispensável para um desenvolvimento mais equitativo, mais participado e com melhor qualidade.
A construção de um processo político com o objectivo de promover a mudança obriga necessariamente ao desenvolvimento de uma estratégia que inclua a dimensão de género de forma transversal e inclusiva. É fundamental olhar para o desenvolvimento das mulheres numa perspectiva de ciclo de vida que inclua a educação como pilar fundamental para um verdadeiro empoderamento das mulheres e da sociedade. Hoje, sabe-se que quando se educa um homem, educa-se uma pessoa, mas quando se educa uma mulher educa-se toda uma comunidade.
Este argumento é fortalecido por recentes estudos que revelam que as mulheres reinvestem 90% do seu rendimento nas suas famílias e comunidades, enquanto os homens reinvestem 30-40%. Nesta perspectiva acredito que o investimento no empoderamento das mulheres é sem dúvida o investimento nas suas comunidades. É pois tempo de incluir toda a gente no jogo social do desenvolvimento económico e social.
O desenvolvimento da humanidade só será efectivo se toda a gente estiver presente na caminhada triunfal da humanidade. Uma caminhada que exige que todos e todas sem excepção tenham na política um espaço privilegiado para a sua realização. A promoção da integração social das mulheres, os direitos humanos, a igualdade de oportunidades entre mulheres e homens no mercado de trabalho, a conciliação entre trabalho e família para ambos os sexos e o respeito e a não discriminação da diversidade nas famílias é essencial para a criação de um desenvolvimento equilibrado e construtivo.
Acredito seriamente que mais mulheres na política fazem a política melhor e que essa participação deve ser uma prioridade dos países para o seu desenvolvimento. Por outro lado, a entrada das mulheres na vida pública deve ter correspondência na entrada dos homens na vida privada, na educação dos filhos e no mundo dos afectos. Estou em crer que esta mudança tornará um mundo certamente melhor e mais pacífico.