Os regimes autoritários montam um cenário de censura e distorção da verdade. Para desmentir o opressor, é imperativo compreender os mecanismos que sustentam o plano. Entre as manobras de manipulação estão as práticas que visam a manutenção e consolidação do poder distorcendo a realidade com a demonização de adversários desumanizando-os para justificar perseguições. Reforço do culto de personalidade como salvadores ou líderes incontestáveis. Manipulação dos meios de comunicação para silenciar a oposição e amplificar o culto. Alteração de factos históricos prejudiciais à sua imagem. Todos têm excesso de poder e controlam os poderes judicial, constitucional e legislativo, as forças armadas, os órgãos de segurança, as policias secretas e judiciarias e usam-nas como escudo blindando todas as ameaças que coloquem a sua estadia no poder em causa.

Na última "entrevista" do presidente João Lourenço foi notório que o percurso da conversa tinha sido construído nos bastidores dos interesses do palácio e o entrevistador apenas fez o ridículo papel (com pinças) para não beliscar nenhum ego, pois estava em causa a perda do privilegiado posto de caixa de ressonância do partido e desculpando-se por insistir em alguns temas, envergonhando o jornalismo.

Num momento dramático da vida do povo que luta com fome para dar de comer aos seus filhos, com uma epidemia de cólera sem financiamento para a solução definitiva do problema medieval, perda de emprego e poder de compra, com os indicadores a atentarem contra a prosperidade psicológica, social e económica dos cidadãos, a "entrevista" passou a ser um bafo arrogante para os militantes do MPLA que ousarem desafiar a sua autoridade.

A presidência não é hereditária. A escolha a dedo do substituto é desde logo um processo que de democrático não tem nada. Esta prática é histórica dentro do MPLA. Neto "escolheu" José Eduardo e José Eduardo "escolheu" João Lourenço que pretende ser coerente com este erro histórico, não dando espaço à pluralidade, à democracia, nem à ética e está prestes a escolher o próximo "empregado do povo", que no limite, nem será uma novidade, nem uma mais-valia. E com a agravante da probalidade da ingratidão do novo delfim ser superior à sua obediência militante, situação que vimos recentemente com a perda de poder do presidente José Eduardo que foi humilhado sem pudor por todos aqueles a quem protegeu. Os ingratos não têm vergonha e cospem a mão que lhes deu a bênção.

A bênção esperada do presidente João Lourenço é a bênção da distribuição equitativa da renda nacional. É a bênção de todas as crianças com 5 anos poderem atender à classe da iniciação como está na Constituição. É a bênção da água potável. É a bênção de todos os angolanos terem um nome e uma nacionalidade cumprindo um dos mais importantes direitos humanos. É a bênção de olhar para todos os empresários que pagam exorbitantes impostos e empregam milhares de angolanos e não apenas privilegiar as empresas onde a constante atenção e carinho sugere interesses pessoais por serem sempre as mesmas a beneficiar de todos os ajustes directos, evitando os concursos públicos para os maiores negócios, tratando os outros como filhos bastardos. É a bênção de deixar de gastar dinheiro alimentando o ego dos luxos da presidência e descer do pedestal tornando-se uma pessoa humilde e empática que sente e sofre pelas dores do seu "patrão".
Sempre tive dificuldade em entender o apego. Mas o apego por cargos políticos é preocupante pois os protagonistas levam a sua vontade às últimas consequências não importando o preço que os povos ou os Estados tenham de pagar e um dos mais bárbaros exemplos do nosso tempo é a tragédia na Faixa de Gaza. Nathanyau é uma pessoa má, um mentiroso sem escrúpulos, sem hombridade que se quer perpetuar no poder.

O opressor é sempre um narcisista, um ser fraco, vazio, complexado, alienado, sem mérito, um analfabeto emocional que usa da força bruta para liderar, pois de outro jeito não conseguiria manter-se. Os povos esperam. Aprendem a viver com a dor e com a humilhação. Mas um dia erguem-se do lugar de menoridade e o opressor cai sem honra ou glória.

O mundo precisa de líderes que se importem com o sofrimento dos outros. Líderes que depois de cumprirem os seus mandatos saiam pelo seu pé sem truques. Líderes que sejam capazes de serem consequentes nas suas promessas. Que cumpram a Lei. Que amem as crianças. Que olhem para os países com o coração. Que protejam o erário de toda a ganância e enriquecimento ilícito. Que respeitem a democracia, os seus valores e que se possam tornar um exemplo pela dedicação e transformação das nações. No século XXI não podemos e não queremos aceitar menos do que isto. No século XXI, não podemos e não queremos aceitar menos do que isso.