É que, em matéria de números, a rotina quotidiana é tentar acertar nas unidades e não misturar alhos com bugalhos. Se já é complicado contar quantos somos em Angola, imaginem só tentar entender como contamos. Depois das alterações pós-Censo, contamos num país com 18 províncias e os resultados serão apresentados para 21 províncias, com fronteiras alteradas também a nível dos municípios e comunas. Aqui, os números não são apenas números - são uma aventura, um desafio linguístico e geográfico, uma prova de que a matemática pode ser, sim, uma disciplina de humanidades.
Para adicionar um pouco mais de confusão à sopa de letrinhas numéricas, aos números mágicos, é preciso reconhecer que exista uma certa dificuldade em falar de unidades de medida. Km²? Hectares? Quilogramas? Toneladas? Tudo isso vira um grande caldo de conceitos que, dependendo de quem fala, pode significar tudo e nada ao mesmo tempo. Já tivemos exemplos em que desminamos uma área quase o dobro do território nacional, em que foram colocadas 60 toneladas de explosivos numa simples mochila, em que ler números em discursos é um desafio maravilhoso.
Vamos esperar que os números não sejam demasiados fluídos. É certo que somos muitos milhões porque fazemos muitos filhos e filhas. Os números do censo devem ser os mais correctos possível para ajudar na planificação e, sobretudo, no desenvolvimento. Não podem ser como aqueles amigos que mudam de personalidade conforme a companhia. Num dia, somos um país jovem e vibrante, com uma população cheia de energia para construir o futuro. No outro, somos um país com desafios demográficos tão grandes que justificam a incapacidade de criar as infra-estruturas necessárias para o desenvolvimento do País. Afinal, quantos somos realmente?