É que, em matéria de números, a rotina quotidiana é tentar acertar nas unidades e não misturar alhos com bugalhos. Se já é complicado contar quantos somos em Angola, imaginem só tentar entender como contamos. Depois das alterações pós-Censo, contamos num país com 18 províncias e os resultados serão apresentados para 21 províncias, com fronteiras alteradas também a nível dos municípios e comunas. Aqui, os números não são apenas números - são uma aventura, um desafio linguístico e geográfico, uma prova de que a matemática pode ser, sim, uma disciplina de humanidades.
Para adicionar um pouco mais de confusão à sopa de letrinhas numéricas, aos números mágicos, é preciso reconhecer que exista uma certa dificuldade em falar de unidades de medida. Km²? Hectares? Quilogramas? Toneladas? Tudo isso vira um grande caldo de conceitos que, dependendo de quem fala, pode significar tudo e nada ao mesmo tempo. Já tivemos exemplos em que desminamos uma área quase o dobro do território nacional, em que foram colocadas 60 toneladas de explosivos numa simples mochila, em que ler números em discursos é um desafio maravilhoso.
Vamos esperar que os números não sejam demasiados fluídos. É certo que somos muitos milhões porque fazemos muitos filhos e filhas. Os números do censo devem ser os mais correctos possível para ajudar na planificação e, sobretudo, no desenvolvimento. Não podem ser como aqueles amigos que mudam de personalidade conforme a companhia. Num dia, somos um país jovem e vibrante, com uma população cheia de energia para construir o futuro. No outro, somos um país com desafios demográficos tão grandes que justificam a incapacidade de criar as infra-estruturas necessárias para o desenvolvimento do País. Afinal, quantos somos realmente?
Sorriso crónico: Números mágicos
Os resultados do Censo Geral da População e Habitação de 2024 deverão ser divulgados no final do primeiro semestre deste ano. Esta maravilhosa operação matemático-poética que tenta contar quantos somos, onde estamos, o que fazemos e, como quem não quer nada, nos transforma em estatísticas ambulantes. A expectativa é grande para sabermos quantos somos, vamos esperar que este exercício de contagem populacional não seja um exercício de criatividade, em que os números ganham vida própria e, por vezes, decidem dançar conforme a música. Ou melhor, conforme a ocasião.
