A prática da agiotagem, em Angola, dos últimos 20 anos, tem relação com as kínguilas. Essas detentoras de capital, operando no mercado financeiro informal, apercebendo-se da incapacidade do sistema financeiro bancário angolano, de satisfazer a demanda por crédito ao consumo de curtíssimo prazo, tornaram-se a única opção de crédito e, ademais, um elo - importante de ser verificado - entre os circuitos formais e informais.
Esse tipo de empréstimo "informal" foi-se ampliando justamente em resposta às necessidades urgentes de populações cada vez mais precarizadas e subempregadas, - agravado por uma crise pandémica - que se foram vendo na necessidade de recorrer a tais mecanismos.
Os principais motivos para accionar a rede de empréstimos informais são para as famílias: incapacidade de pagar as contas correntes devido ao elevadíssimo custo de vida (precarização dos salários), conclusão da obra da casa própria, suporte médico e medicamentoso, alimentos e educação (propinas dos nguimbolas). Para os pequenos empresários, aquisição de bens de capital (máquina e equipamentos no início da actividade), necessidade de pagamento de salários dos trabalhadores e "manter", capital circulante (fluxo de caixa). Fica, aqui, evidente a maneira que o dinheiro da prática de agiotagem faz o capital girar, aquece o mercado e o empreendimento local. Não sendo, apenas, uma relação de crédito, mas tem outros significados para os actores envolvidos nas transacções, justamente porque opera por uma lógica de avaliação tanto económica quanto moral. Como explicar as altas taxas de reembolso do capital? Pode ser explícito no esforço do tomador de empréstimo para que o seu projecto seja bem sucedido, pois há o temor de que um segundo pedido de empréstimo seja negado se o empreendimento fracassar, reduzindo, deste modo, o risco moral do tomador de empréstimo. Se olharmos para o sistema formal, evidentemente, os próprios bancos fazem o papel de agiotas, em escala incomparavelmente mais nociva.
Como os integrar? No âmbito da conversão da economia informal, poder-se-ia permitir a Criação de Empresa Simples de Crédito (ESC) e consequente lei de qualquer cidadão abrir uma empresa de crédito a nível municipal como alternativa para ampliar as fontes de financiamento dos mercados complementares (seguro agrícola, de poupança, título de propriedade, etc.), as micro e pequenas empresas. Os agiotas excluem os projectos socialmente lucrativos do acesso ao crédito.
Em relação à associação de poupança e crédito rotativo (vulgo Kixikila), por que a não-formalização deste segmento? A alfabetização financeira e os resultados sugerem que pode ter maior relevância na propensão a empréstimos informais, comparativamente ao crédito formal.
Portanto, o sistema de empréstimo informal não é apenas um meio de pagamento, mas também uma estrutura de relações económicas e sociais que resulta da exclusão de outras formas de acesso ao crédito que pode ser denominada por serviços financeiros alternativos (mixa/salva vidas, etc.).
Utilidade social do crédito agiota
A agiotagem é definida como cobrança de taxas "altas" de juro pelo dinheiro emprestado fora do sistema formal de crédito. Na sociologia angolana, é uma questão pouco ou nada explorada e, em particular, nos vários estudos sobre informalidade urbana. Entretanto, a margem do sistema bancário tradicional e a expansão recente do crédito agiota nas periferias do País, em particular Luanda, vêm-se materializando em um fenómeno explosivo.
Como surgiu? Quais as causas? Quais os relacionamentos? Que impactos para as famílias? É possível integrá-lo - (sub) regular - ou continuar a mantê-lo à margem?
Como surgiu? Quais as causas? Quais os relacionamentos? Que impactos para as famílias? É possível integrá-lo - (sub) regular - ou continuar a mantê-lo à margem?
