A grande expectativa hoje é que João Lourenço estruture um discurso mais de acordo com a realidade. Para além de reconhecer a difícil situação socioeconómica em que o País se encontra, o Presidente da República precisa, também, de dizer aos cidadãos como pensa tirá-los do aperto, do sufoco e da falta de expectativas em que se encontram. Qual é o verdadeiro Estado da nossa Nação? Isso é que todos querem ouvir de João Lourenço nesta segunda-feira, 16 de Outubro, na Assembleia Nacional.
É preciso que João Lourenço perceba que, ao invés de ouvir o relatório de quantas escolas foram construídas ou quantos hospitais foram inaugurados, os cidadãos querem saber qual é a estratégia, de facto, para garantir mais qualidade, eficiência e melhorias no sistema de ensino. Querem saber por que razão ainda há falta de médicos nestas unidades hospitalares e, como avançou o jornalista Ilídio Manuel em artigo publicado neste jornal, há a necessidade da criação de um verdadeiro Serviço Nacional de Saúde munido de cuidados integrados de saúde, nomeadamente: a promoção e vigilância da saúde, a prevenção da doença, o diagnóstico e tratamento dos doentes, bem como a sua reabilitação médica e social. Mas do que apresentar a estatística dos quilómetros de estradas asfaltadas ou número de buracos tapados, é preciso que se indiquem aos cidadãos soluções concretas para o problema de mobilidade urbana e de circulação rodoviária pelo País.
Que não seja um discurso preenchido de "enchidos" com muitos números sobre os feitos socioeconómicos, como escreveu o jornalista Reginaldo Silva, na antevisão feita ao discurso do ano passado. Não será um discurso fácil, porque os tempos não são fáceis, terá de ser um discurso objectivo, realista e exigente. Um discurso que sensibilize e mobilize os cidadãos para os grandes desafios e os tempos que se avizinham. João Lourenço deverá ter a humildade de admitir que houve erros e que muitas coisas falharam, mas que o País é de todos e que conta o empenho de todos para ultrapassarmos esse momento difícil.
O discurso do Estado da Nação é o momento para se falar com abertura, liberdade, verdade e frontalidade aos cidadãos. Não adianta florear cenários e "pintar" um País que não existe. O momento exige menos euforia e folclore mediático e mais verdade e racionalidade. Obviamente será necessário João Lourenço de 2023 ir buscar inspiração ao João Lourenço de 2017 e àquele discurso que apontava estratégia, um rumo e uma direcção.
Este ano, o NJ voltou a convidar algumas figuras notáveis da nossa sociedade para um interessante exercício em que elas apresentam o seu Estado da Nação. É um singelo contributo com críticas e sugestões de como o Estado pode mudar e como podem melhorar o estado das coisas. Este exercício de antecipação tem o propósito de envolver e fazer perceber que existem no País e fora dele diferentes leituras, visões e sensibilidades sobre o Estado da Nação. Este exercício ajuda a perceber que os cidadãos não querem discursos previsíveis, enfadonhos, e com as tais "imprecisões estatísticas" desmontadas à distância de um click, que depois termine em ridicularização ou banalização nas redes sociais. João Lourenço tem a liberdade e a legitimidade de apresentar resultados do trabalho efectuado, mas sem cair na tentação de ficar pelas promessas e /ou discursos de campanha eleitoral. João Lourenço vive um dos piores momentos em termos de popularidade e tem aqui a oportunidade para fazer um discurso mobilizador, um discurso realista e inclusivo.
Certamente, será novamente "provocado" pela oposição, seja com apupos ou cartões amarelos e até mesmo vermelhos. Mas também será confortado e apoiado pelos seus camaradas com palmas e outras manifestações de apoio. Basta que fale com franqueza, sem soberbas e arrogâncias. Que fale com autoridade e segurança! Que fale para a Nação que o elegeu como o seu líder, como o Presidente de todos os angolanos! Que nos faça sentir que a Nação é de todos, que os sacrifícios devem ser exigidos a todos e que temos de estar juntos para ultrapassar o momento difícil que estamos a viver! Um Presidente que tenha a honestidade de dizer ao povo qual o verdadeiro Estado da Nação. Qual é o Estado da Nação? O povo que faz a pergunta também já tem a resposta e quer saber quais serão as respostas de quem tem de mostrar caminhos para sairmos dessa situação. Aguardemos!
Qual é o Estado da Nação?
O discurso sobre o Estado da Nação é sempre muito previsível, muito virado para culpabilizar a oposição ou para lançar farpas ao passado. Tornou-se o discurso das realizações ou uma espécie de inventário das obras públicas. O que se tem visto nos últimos anos é João Lourenço apresentar aos deputados e aos cidadãos uma espécie de relatório e contas do País.
