O Presidente norte-americano fez a Cyril Ramaphosa o mesmo que tinha feito ao ucraniano Volodymyr Zelensky, expondo-o perante dezenas de jornalistas na famosa cena, a 28 de Abril, onde, de dedo em riste, lhe dizia que não tinha cartas para jogar na guerra com a Rússia.

E se Zelensky caiu na armadilha ripostando aos ataques de Trump, o sul-africano, que já tinha, claramente a lição estudada, manteve-se impávido e sereno, deixando Trump a falar sozinho, expondo-se ele próprio à sua armadilha.

Nem quando ouviu o seu anfitrião a acusá-lo, praticamente, de ser o autor moral do "genocídio da população branca", Ramaphosa se descompôs, porque percebeu, como o seu assessor explicou depois, que se tratava de "um show montado para as televisões".

Mas Cyril Ramaphosa fez ainda melhor, elogiando efusivamente o encontro, e os resultados da conversa com o seu homólogo norte-americano, tendo Vincent Magwenya, o seu assessor de imprensa, sublinhado que "o Presidente não se deslocou aos EUA para um show de Tv mas sim para ter uma reunião séria com o Presidente dos Estados Unidos".

Antes desta visita, como o Novo Jornal também noticiou, Ramaphosa deixara já os objectivos definidos, que eram esclarecer quaisquer mal-entendidos que pudessem estar a prejudicar as relações entre a África do Sul e os EUA.

Porém, Ramaphosa tinha como estratégia usar precisamente as armas de Trump contra ele, ao explicar perante as câmaras das televisões convidadas para este encontro na Sala Oval, que corre o risco de vir a ficar conhecida como a "sala de pânico", que estava ali para um encontro sereno e falar "calmamente sobre todos os assuntos que for preciso abordar".

E depois do encontro, o sul-africano manteve a postura, procurando baixar as chamas que brotavam das lentes das câmaras dos jornalistas com um sopro de serenidade bem treinada antecipadamente.

Explicou que não há razão alguma para se falar em genocídio de brancos na África do Sul como deixou "no ar" a ideia de que acredita que Donald Trump vai estar na Cimeira do G20 em Joanesburgo, de 22 a 23 de Novembro deste ano, apesar deste já ter dito que não vai.

Sendo os EUA o país que se segue na liderança rotativa do G20, Cyril Ramaphosa aludiu à importância de protagonizar uma passagem de testemunho com a pompa e a circunstância que a situação merece.

É, no entanto, factual também que, se por um lado o sul-africano conseguiu desanuviar a tensão criada em torno da sua presença, o norte-americano conseguiu expor o seu hospede a uma situação embaraçosa e mesmo humilhante ao acusá-lo "live" de liderar um Governo genocida.

Claro que o termo genocídio não surge aqui por acaso, é, por um lado, resultado do empenho de Elon Musk, dono da Tesla e da Space X, o multibilionário conselheiro sul-africano de Trump na Casa Branca para procurar pressionar Pretória a proteger a comunidade branca no seu país.

Mas, por outro lado, senão o mais relevante, e também uma forma de equiparar a acção de Ramaphosa a Benjamin Netanyhau, o primeiro-ministro israelita que está acusado nos tribunais internacionais de genocídio em Gaza, numa iniciativa da África do Sul que foi acompanhada por dezenas de países.

Além disso, quando as relações bilaterais estavam a afundar para níveis nunca vistos (ver links em baixo), sendo essa a razão para Ramaphosa ter pedido este encontro com Trump em Washington, os norte-americanos também não estavam, e continuam a não estar, contentes com a aproximação de Pretória à China e à Rússia no âmbito dos BRICS.

Já depois deste encontro, alguma imprensa sul-africana leu a situação como sendo agora menos abrasiva entre EUA e África do Sul, mas fica ainda patente a ideia de que os dois países ainda terão de fazer muito caminho para regressar ao topo da qualidade nas relações bilaterais que já teve no passado.

Já quanto aos objectivos do visitante, garantir que não há qualquer tipo de perseguição à comunidade branca e que Trump vai estar na Cimeira do G20 em Joanesburgo, isso só poderá perceber-se nas próximas semanas...