Neste mundo global e interdependente, não admira que assim seja, perante a inflação existente, a consequente subida das taxas de juro, as elevadas dívidas dos países, o baixo investimento e as consequências da guerra da invasão da Ucrânia.

A avaliação da previsão do crescimento económico mundial por parte desses organismos é muito semelhante, com o Banco Mundial a estimar que se fixará em 1,7%, a OCDE em 2,2% e o FMI no limite máximo de 2,7%.

Daí que os economistas-chefes do Fórum Económico Mundial que reuniu a 53.ª edição em Davos e que termina hoje, dia 20, ao serem entrevistados consideraram mesmo como provável que ocorra uma recessão mundial este ano.

É de sublinhar ainda que, neste quadro, os EUA apresentam um crescimento previsível muito baixo, de cerca de 0,5%, a U.E. nulo e a China a ter uma queda para 4,3%.
A anemia do crescimento económico mundial reflectir-se-á também, como sublinha a Organização Mundial do Trabalho, numa redução para metade da criação do emprego verificado para 2022 e a Organização Mundial do Comércio prevê um desaceleramento no crescimento do comércio.

Dever-se-á ter ainda presente que as estimativas para o crescimento do conjunto dos países do continente africano são da ordem de 4%, tendo o Banco Mundial revisto em baixa o crescimento de todos os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, registando-se ainda que o Brasil projecta um crescimento de pouco mais de 1%.

Sucede que, mesmo fixando-se uma taxa de crescimento previsível de 4% para o continente africano, essa taxa não pode nem deve ser comparada com outras, ainda que de crescimento inferior, de países mais desenvolvidos, porque os países africanos apresentam PIBs muitíssimo inferiores, logo com uma base de partida baixa.

O que antecede não significa que, ao explicitar as previsões para 2023, pretenda ser ave de mau agouro sobre o futuro crescimento do continente africano e nele de Angola.
A realidade é sempre o que é e não o que se deseja que seja e é a partir dela que se devem conceber as políticas publicas a seguir.

No caso de Angola, parece-nos, antes de mais, que essas políticas, no domínio financeiro, não poderão deixar de ponderar nas disponibilidades existentes as verbas a afectar para a amortização da dívida pública, que é elevada, da que será destinada ao investimento e neste quais as prioridades existentes, não sendo demais repetir que elas devem atender à auto-sustentabilidade do País.
As opções não são fáceis, tanto mais que as expectativas para 2024 não se prevêem exaltantes.

Para além do mais, porque as consequências da pandemia e agora da inflação, ao agravarem as condições de vida das classes mais desfavorecidas e as desigualdades, são razões suficientes para que se não descurem respostas nos domínios dos apoios sociais, para além dos da saúde e da educação.
Sendo o quadro difícil, não é menos certo que é nos momentos de crise que as instituições públicas e os que as servem se agigantam, em nome dos cidadãos que representam e das causas que devem servir.

É o que espera que venha a suceder em Angola.


*(Secretário-geral da UCCLA)