Angola aparece na posição 143, com as nossas elites a estarem abaixo de países como o Afeganistão, o Líbano (onde foi buscar parceria para a terceira operadora de telefonia móvel) e a Zâmbia, numa lista de elites atrasadas onde a Venezuela é melhor das piores. Até a Guiné-Bissau e a República Democrática do Congo, países instáveis desde que se tornaram independentes, estão melhor posicionados do que nós.
Angola tem uma elite que se beneficia largamente dos recursos públicos, mas que, entretanto, é um factor de atraso ao desenvolvimento económico e humano. Esta realidade já tinha sido reconhecida pelo próprio Presidente da República, numa entrevista a DW, na qual referiu que ninguém está contra as elites, "nós estamos é contra a forma como as actuais elites enriqueceram, de forma ilícita", afirmou.
No período em que testemunhámos um boom económico, só as elites prosperaram. Não houve uma correlação entre crescimento económico e melhoria do padrão de vida dos angolanos - que sabem, desde sempre, como se conjuga o verbo desenrascar.
A desigualdade é vista como uma coisa natural, como se não houvesse nada a fazer, e esse "nada" é demais, é surreal. A desigualdade, que é absurda e desconcertante, está normalizada. Por outro lado, os ricos angolanos, que são regra geral políticos ou com grande proximidade com esta classe, não veem como responsabilidade deles ajudar quem está à deriva.
As nossas elites não percebem que, numa perspectiva de sustentabilidade, a operação de modelos de negócios de criação de valor, não apenas aumentam a própria riqueza das elites, mas também aumentam a riqueza de outros grupos e criam um ambiente de estabilidade social e política, que são essenciais para a prosperidade, ou seja, a prosperidade de uma nação como um todo depende principalmente da natureza dos modelos de negócios escolhidos pelas elites.
Neste sentido, podemos entender que a pobreza que vivemos em Angola é também resultado da ganância das elites. A pobreza em Angola não é, à partida, uma questão de crescimento económico, mas de partilha. Não existe uma criação sustentável e inclusiva de bem-estar. O valor criado pelas nossas elites não é transferido em forma de emprego ou oportunidades de empreendedorismo para a sociedade. O kumbu acaba quase sempre em mansões e em paraísos fiscais, a fazerem apenas papel de saldos bancários, ou seja, dinheiro morto.
Não é necessário que um estudo produzido em universidades europeias nos venha aclarar sobre as desigualdades no nosso país. Ela está escancarada. Temos crianças a morrer de fome no Cubal, e um Major aparece com milhões de dólares em dinheiro vivo, carros topo de gama, iates e apartamentos espalhados pelo país e pelo mundo. É certo que ainda há muito por ser provado neste caso, mas é fácil intuir que existe uma rede, de uma elite criminosa, que ao tomar acções gananciosas travam fundo na distribuição da riqueza, impedem o crescimento da sociedade. Este é um exemplo recente, mas não isolado, de como as elites abusam do seu poder, prejudicam o Estado e acabam com as oportunidades de outros grupos a quem se esperava que ajudassem a crescer.
Uma análise sobre as nossas elites, económica e política, do ponto de vista da qualidade, como, aliás, é o caso deste trabalho da Universidade Suíça de St Gallen, lança luzes sobre como as empresas e a sociedade terão sucesso, mas faz mais: desvenda que se escolhermos os modelos de negócios errados, como é o nosso caso, o perfil de risco e o potencial de crescimento do país são afectados. De pouco nos servirá toda a diplomacia económica e as legislações para a melhoria do ambiente de negócios. As elites devem ser um exemplo.
As elites políticas devem estar mais concentradas no valor político das suas acções, nas mudanças reais que as políticas criam e menos na manutenção do poder pelo poder. Para as duas elites, económica e política, o que é crucial é o valor que acrescentam. Já é hora de reformas profundas, não mais de discursos de intenções, de promessas rotas - que abundam em períodos eleitorais. A lógica das políticas não pode ser a sobrevivência de determinado grupo político, caso contrário continuaremos a ver planos para a diversificação económica somente no papel e a verificar, na prática, o aumento da fome e a escalada da mendicidade.
O primeiro objectivo de uma elite política que cria valor é garantir que as pessoas vivam com dignidade, é colocar-se no lugar de intercessor para ajudar a canalizar os benefícios da criação de valor para a sociedade em forma de infra-estrutura, oportunidades económicas, sistema funcional de educação, habitação e saúde. Só depois pensar em quem e como as pessoas vão votar, o que não será muito difícil de prever caso as coisas corram bem para o lado da sociedade. O inverso também é verdadeiro.

*Jornalista