O sector social continua a ser um fardo difícil de se gerir, sendo que a Covid-19 passou a ser o foco na saúde, retirando "protagonismo" à malaria e à desnutrição infantil que, ainda assim, continuam a liderar as estatísticas das mortes no País. João Lourenço procurou, uma vez mais, garantir aos cidadãos que o combate à corrupção é para levar a sério e que não é pura cosmética, que não é uma luta de grupos ou de interesses corporativos.

O Estado da Nação não é uma questão de estados de almas, indisposições momentâneas, apupos ou bater de palmas, é o momento e espaço que o Presidente da República tem para fazer com verdade, humildade, frontalidade e objectividade da situação do Estado.

João Lourenço percebeu que mais importante do que dizer aos cidadãos sobre a difícil situação em que se encontram é, sim, dizer-lhes como pensa tirá-los do aperto e sufoco em que se encontram. É muito mais fácil os cidadãos aceitarem os sacrifícios em nome de um bem comum ou interesses colectivos. Num discurso acaba por ser tudo muito extraordinário, tão eloquente e rico em floreados, mas a prática acaba, na maior parte das vezes, por mostrar as suas verdadeiras falhas.

Nos últimos anos, o discurso do Estado da Nação passou a ser muito previsível, muito virado para culpabilizar ou lançar farpas ao passado, sendo essa uma perfeita zona de conforto ou uma suave almofada que nos leva a olhar para o retrovisor e, assim, evitar um olhar frontal para um futuro difícil que se avizinha. Vão-se mudando alguns membros da orquestra, mas a música continua a ser a mesma.

O maestro vai improvisando e a plateia perdeu a euforia inicial e acompanha o concerto com apreensão. Não foi um discurso fácil, porque o momento é difícil e muito exigente. João Lourenço e o seu Executivo vivem um período de profunda queda de popularidade, uma economia fragilizada, insatisfação social acentuada com políticas e estratégias que tardam em dar resultados. As "forças de bloqueio" internas e externas vão fazendo o trabalho de desconstrução da imagem do Executivo e de desvalorização das suas conquistas.

A tão propalada diplomacia económica não consegue atrair investimento estrangeiro, sendo também visível que muitos diplomatas parecem não perceber qual é a estratégia e orientação neste capítulo, o que complica ainda mais a situação. Na verdade, a situação do Estado exige cada vez menos discursos e mais acção. Exige, também, menos euforia e folclore mediático em torno de um discurso que resulta de um imperativo constitucional e que define linhas ou estratégias. O importante é o que muda entre um discurso e outro, o importante são mudanças que provocam no estado da situação. O importante é acabar com o estado a que chegámos. O importante é encontrar respostas para esta pergunta: Como foi possível terem feito tão pouco quando podiam tanto?