A guerra-civil teve as suas origens, ainda antes da independência e durante o período transitório, nas disputas pelo poder entre os principais movimentos que lutaram pela independência: o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) e o Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA).

O MPLA, que se tornou o partido no poder e tinha o apoio político-militar da União Soviética e de Cuba, enfrentou a UNITA, que, por sua vez, contava com o apoio de várias potências estrangeiras, como os Estados Unidos e a África do Sul. Esta insana luta pelo controlo conduziu a um cenário de crise política e social, prejudicando o desenvolvimento do País e criando um legado de pobreza e desigualdade, só terminando em 4 de Abril de 2002.

Nos anos que se seguiram à independência, a esperança entre os angolanos foi rapidamente substituída pela frustração e desilusão. O ambiente de instabilidade levou a uma migração em massa, com muitos angolanos em busca de melhores condições de vida em outros países. A reestruturação política e a pacificação no pós-guerra abriram caminhos para um "novo governo" sob a continuada presidência de José Eduardo dos Santos (que governou o País durante 38 longos anos). Esta sua "nova liderança" foi marcada por avanços em termos infra-estruturais e de crescimento económico, baseados na mono-economia do petróleo e enquanto este esteve em alta, mas também foi caracterizada por acusações de corrupção e autoritarismo.

Nos últimos anos, a presidência de João Lourenço trouxe esperanças renovadas de mudança. Desde que assumiu em 2017, Lourenço tem tentado implementar reformas para combater a corrupção e melhorar as condições de vida da população. No entanto, a realidade continua a ser pouco satisfatória, mas, espera-se, que continue desafiadora. A persistência de altas taxas de desemprego, especialmente entre os jovens - em particular, entre jovens de elevado índice de educação escolar - e a falta de acesso à educação de qualidade são questões que continuam a desestabilizar a nossa sociedade.
A juventude angolana, que representa uma grande parte da população, enfrenta desafios imensos. As gerações mais novas cresceram em um ambiente marcado por conflitos sociais e promessas não cumpridas. Embora existam melhorias em áreas como comunicação e tecnologia, muitos jovens continuam a se sentir desiludidos e alienados. A falta de oportunidades de emprego e a frustração em relação à continuada acusação de corrupção governamental geram um sentimento de impotência entre aqueles que (des)esperam por um futuro melhor.

Entrementes, isso leva a que exista - que se mantém - um forte desejo de mudança. Movimentos de jovens têm emergido, exigindo mais transparência, educação de qualidade e oportunidades. A esperança por um Angola mais próspera e igualitária reside na capacidade dos nossos jovens de articular seus sonhos e reivindicações num cenário que, embora complexo, ainda parece poder oferecer algumas possibilidades de transformação.

Nestes 49 anos de independência, Angola continua por e a se reinventar. Os desafios são muitos, mas a força e a resiliência do nosso povo, especialmente da juventude, abrem caminho para novas eras de esperança e renovação. As expectativas de um futuro mais justo e sólido permanecem, e a juventude angolana, armada com conhecimento e determinação, pode ser a chave para um novo capítulo na história do País. Assim, os nossos governantes o consigam entender.

*Investigador do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE-IUL (CEI-IUL) e Investigador-Associado do CINAMIL e Pós-Doutorado pela Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto**
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