Entretanto, vamo-nos vangloriando da taxa absurda de crescimento da nossa população, superior a 3% - já mais de um milhão cada ano! -, olhando para os factores económicos aparentemente positivos, numa visão míope e imoral, que vê mercado e força de trabalho jovem disponível, olvidando as consequências sociais - falta de escolas, hospitais, emprego, habitação e a generalidade das infra-estruturas - que tal situação inevitavelmente provoca. A população cresceu mais que a economia nos últimos sete anos!

Esquecendo-nos do principal, aquilo que devia ser o centro das nossas preocupações, as vidas destruídas dessas mães precoces, com as possibilidades do seu desenvolvimento tão cedo coarctadas - salvo raras e muito louváveis excepções -, por ficarem impedidas de estudar, e, numa boa parte dos casos, com responsabilidades acrescidas face à indiferença do progenitor que não assume a sua quota-parte na educação do novo ser. Ficam assim as jovens mães amarradas a um estatuto social em que passarão a seres dependentes, com necessidades imediatas que têm que resolver, e que as impelem, quando não a coisa pior, a terem que se sacrificar na zunga, ou em qualquer outro negócio de ocasião.

Nenhum dos partidos políticos que concorreram às últimas eleições gerais fez deste tema uma bandeira. A necessidade urgente de um programa de planeamento familiar, como já tivemos no passado, que permita não só uma grande campanha de educação, em particular entre a juventude - eu diria mesmo, junto das crianças na chamada fase pré-adolescente, onde a escola deve desempenhar papel fundamental -, assim como a colocação à disposição das meninas de meios para que possam impedir, de uma forma anónima e responsável, a gravidez precoce, e, quando tal não for possível - veja-se a quantidade de estupros, demasiadas vezes praticados por familiares muito próximos, ou outras figuras que deveriam ser referências morais, como os professores -, a interrupção de uma gravidez indesejada, evitando as consequências desastrosas sobre a vida dos que ficarão inevitavelmente envolvidos nessa trama.

Uma visão retrógrada do papel das tradições, que instilam práticas do passado desajustadas - pois adaptadas a condições socioeconómicas específicas -, induzindo comportamentos que não deverão ser nem recomendados nem reproduzidos, o papel muito pernicioso das igrejas nesse capítulo - que ainda repetem o mantra do "crescei e multiplicai-vos" que fazia sentido à dois mil anos atrás -, assim como o claro condicionamento das forças políticas a alianças com esses actores sociais, numa perspectiva eleitoralista de curto prazo, leva a que haja este descaso perante um tema que deveria ser prioridade nacional.

As nossas meninas começam a ser mães antes de serem mulheres, e isso deveria tirar-nos o sono, e fazer-nos encontrar soluções para o problema, que assume proporções desmedidas na nossa sociedade.