Mas não vemos Angola. Excepto com as Pérolas que, a espaços, nos criam a ilusão de que podemos, mas que, nos momentos da verdade, acabam por ficar aquém do sonho de alguma vez podermos ter a satisfação de ver subir a nossa bandeira nos mastros de qualquer competição, e algum dos nossos orgulhosos atletas sorrir, emocionado, recebendo uma medalha olímpica ouvindo o Angola Avante. Nós choraríamos com ele(s). Ou ela(s).
Depois de Moçambique, que pôde comemorar o ouro com Maria Mutola, no atletismo, Cabo Verde pôde regozijar-se com a conquista por David Pina, pugilista da categoria dos -51 kg, da sua primeira medalha olímpica. Exultamos por eles, mas falta-nos algo. Angola, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe continuam a ser os países do PALOP que se mantêm em branco.
A história do atleta cabo-verdiano é emocionante. Emigrou para Portugal para conseguir apoios para perseguir o seu sonho e o apoio que recebeu foi exíguo, subsistindo com uma bolsa de 700 euros do Comité Olímpico Internacional e "trabalhando nas obras", como referiu em entrevista. Foi crucial o papel do seu treinador português, que sempre o apoiou, e do clube de bairro lisboeta, onde treinou. É um bom exemplo que nos permite pensar como é possível, em condições difíceis, conseguir resultados.
E a pergunta que ecoa é: Porque é que não conseguimos resultados em Angola? Será apenas um problema de dinheiro? É verdade que, a nível do continente, temos conseguido ter uma actuação consistente em algumas modalidades, como o basquetebol ou andebol, e, esporadicamente, até mesmo em palcos globais, surgem-nos surpresas como Sayovo nos Paralímpicos ou o Campeonato Mundial de futebol de muletas. Mas é pouco.
Não será altura de, finalmente, haver uma estratégia para que, dentro de alguns anos, talvez em Brisbane, em 2032, se possa, pelo menos, ter um atleta nas finais das modalidades mais mediáticas, como o atletismo ou a natação, e alguma medalha numa modalidade mais periférica (estratégia seguida por muitos países), em que as lutas poderiam ser uma opção?
É claro que esses objectivos só se poderão conseguir se começarmos pelo básico. E o básico é o desporto escolar. Sem uma massiva participação das nossas crianças na escola, só com um golpe de sorte poderemos identificar, a tempo de o desenvolver, um talento que nos poderá granjear uma medalha nas Olimpíadas.
O caminho pode parecer longo, mas terá de ser esse.