A resistência constante a mudanças torna os partidos políticos obsoletos, correndo o risco de desaparecer. No seu livro seminal intitulado "Uma Teoria Económica sobre Democracia", o Prof. Anthony Downs recorre à "Teoria da Escolha Racional" para argumentar que o objectivo primordial de qualquer partido político é a ascensão ou a manutenção no poder. Dito de outro modo, num contexto multipartidário, se é racional que um partido na oposição queira ascender ao poder, também é racional que um partido incumbente queira continuar no poder, buscando a sua reeleição. Nesta conformidade, a paisagem política angolana vive uma fase de pré-campanha eleitoral. O futebol político intensifica-se, e o meu objectivo é reflectir sobre o seguinte: (a) as recentes mudanças efectuadas no seio do Bureau Político do MPLA, (b) as possíveis implicações político-eleitorais dessas mudanças e (c) os desafios do MPLA relativamente à implementação de políticas públicas.

No dia 24 de Março de 2021, sob a orientação do seu Presidente João Lourenço, o Bureau Político do MPLA procedeu à mudança da composição do seu Secretariado, tendo, entre outras nomeações, indicado Rui Falcão Pinto de Andrade para o cargo de Secretário do Bureau Político para Informação e Propaganda e Virgílio de Fontes Pereira para o cargo de Presidente do Grupo Parlamentar do MPLA. Tendo em conta que enormes desafios eleitorais se avizinham, a escolha de cabos eleitorais da dimensão de Rui Falcão Pinto de Andrade e de Virgílio de Fontes Pereira é crucial para a realização de um combate político-eleitoral exitoso. Não é a primeira vez que Rui Falcão exerce tal função. Já o fez entre 2009 e 2013. Trata-se de um excelente comunicador e sabe lidar com a imprensa. A sua destreza comunicativa, o espírito combativo e a sua identidade fazem dele um político relevante para a campanha do MPLA. De igual modo, não é a primeira vez que Virgílio de Fontes Pereira exerce o cargo de presidente do Grupo Parlamentar do MPLA. Professor de Direito Administrativo, jurista e conhecedor da administração pública angolana, Virgílio de Fontes Pereira jogará papel importante nas discussões sobre a revisão constitucional e sobre os diplomas legislativos autárquicos. Além disso, sendo um político articulado, irá juntar-se ao deputado João Pinto, para servir de motor de equilíbrio nos debates parlamentares diante de exímios comunicadores políticos como os deputados Raul Danda e Liberty Chiaka, da UNITA, ou, ainda, o deputado independente Lindo Bernardo Tito, o que pode melhorar a qualidade dos debates.

Se as recentes alterações efectuadas na composição do Secretariado do Bureau Político do MPLA no âmbito do combate político-eleitoral demonstram uma visão estratégica da sua liderança, o anúncio por essa mesma liderança sobre a necessidade de promover a paridade no género no seio deste partido no congresso de Dezembro de 2021 acrescenta valor a essa visão pelas seguintes razões: (a) de acordo com o censo geral da população de 2014, as mulheres constituem mais de 51% da população angolana, representando uma base eleitoral importante; (b) promover a paridade no género pressupõe apostar numa política de diversidade e inclusão, na medida em que isso pode permitir que mais mulheres ascendam a cargos de liderança governamental, estando em linha com as políticas de promoção do género da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, da União Africana e das Nações Unidas, nomeadamente o Objectivo de Desenvolvimento Sustentável n°5; (c) a inclusão de 50% de mulheres nos órgãos centrais do MPLA permitirá a introdução de sangue novo, na medida em que nenhum político está imune ao envelhecimento biológico.

Estas mudanças são importantes, mas o MPLA ainda enfrenta desafios do ponto de vista da implementação de políticas públicas. Além do que tem sido feito, é preciso trabalhar com afinco para que as populações tenham acesso à água potável ao domicílio, energia eléctrica, formação de qualidade, emprego, segurança alimentar, habitação, saneamento básico, transporte público e hospitais mais humanizados, apenas para citar alguns exemplos. Além de contar com o apoio dos seus militantes, a implementação exitosa dessas e de outras políticas públicas requererá a ajuda de angolanos de outras convicções político-ideológicas e de angolanos apartidários, honestos e competentes. Portanto, recorrendo uma vez mais à "Teoria da Escolha Racional" do Prof. Anthony Downs, diria que é racional que se trabalhe em equipa porque é em equipa que se ganha uma partida de futebol. A política não constitui excepção à lógica da racionalidade.

*Doutorando em Ciência Política e Mestre em Administração Pública; docente universitário e ex-repórter da Bloomberg