O futebol é a vergonha que conhecemos, com desempenhos sofríveis em quase todas as provas. Até em "casa", que era uma espécie de fortaleza inexpugnável, as "Palancas Negras" já perdem com uma qualquer Gâmbia, algo impensável há apenas poucos anos. Nem mesmo a domicílio, a Selecção Nacional sossega os adeptos como era no passado, quando na "Cidadela" até grandes selecções como as dos Camarões, Argélia e Nigéria entravam com respeitinho e não raras vezes saíam vergadas sob o peso da derrota.
O basquetebol em duas ocasiões mostrou a sua verdadeira face. Primeiro foi no "Africano" de clubes em Kigali, Rwanda, onde o Petro Atlético de Luanda perdeu por números pesados frente ao Zamalek SC, na final da oficialmente designada Basketball African League (BAL). Há dias, a Selecção Nacional levou 50 pontos de humilhante diferença (68-118) diante da Eslovénia, no torneio pré-olímpico de Kaunas. Fazia tempo, mas muito tempo mesmo, que as representações de Angola não eram desossadas dessa forma. Não é preciso recuar muito no tempo para percebermos que Angola já teve dias melhores, mesmo quando não ganhava a adversários do quilate da Eslovénia.
O hóquei em patins não sai do rame-rame do costume, e as restantes modalidades praticamente não existem, embora haja quase uma vintena de federações desportivas. A excepção é o andebol, que continua a ganhar a nível de África, embora no plano intercontinental tenha baixado bastante, com classificações menos conseguidas, tanto em femininos, quanto em masculinos. No passado, também já houve desempenho melhor.
As dificuldades encontradas pela Selecção Nacional feminina face à Tunísia, na meia-final do "Africano" de Yaoundé, o mês passado, é um sinal à navegação e desmente categoricamente a tese segundo a qual Angola só ganha porque os outros países não investem no andebol feminino. Há já um número razoável de países a apostar fortemente nesse segmento. Além da Tunísia, o Senegal é outro, tal como o Congo, que parece querer resgatar o estatuto de que gozou na década de 1980, quando estava na mó de cima.
De um modo geral, o cenário do desporto nacional é inquietante. E os sinais do que está a acontecer agora já foram dados há muito tempo, mas pouca gente que decide terá percebido. A maior parte dos dirigentes de clubes que dominam o desporto angolano recreou-se a meter a mão onde não devia, enriquecendo ilicitamente à custa de quem sua a camisola. Só assim se compreende que um dirigente de um clube que, apesar de possuir escassas conquistas, o seu presidente viaje em primeira classe de avião às custas dos clubes. E estamos a falar de colectividades que, mesmo tendo um orçamento que lhe chega directa e indirectamente do Orçamento Geral do Estado, ainda se permite ao luxo de ter prémios de jogos em atraso!...
Recentemente, o Ministério da Juventude e Desportos (MINJUD) divulgou um documento orientador sobre política desportiva. Designado "Política Desportiva e Estratégia para o Desenvolvimento do Desporto em Angola", a iniciativa apresenta propostas interessantes para colocar o desporto nacional num pedestal competitivo de grande valor. O documento aponta caminhos e soluções para que o País tenha desempenho melhorado não só no plano competitivo, mas também no plano organizativo, sendo aqui, provavelmente, onde a engrenagem engasga, em virtude da sofrível qualidade do dirigente desportivo, de um modo geral. Ao produzir essa brochura, o departamento ministerial que administra a política desportiva nacional terá percebido que há possibilidades de o buraco abrir-se ainda mais e pretende corrigir a situação.
É óbvio que o MINJUD nada mais fez que o seu papel enquanto entidade orientadora da política desportiva nacional. Ainda assim, a diligência merece o nosso aplauso. Afinal, a produção do documento revela claramente que não havia um fio condutor que levasse o desporto nacional a patamares competitivos de eleição. O que não deixa de ser preocupante e incompreensível, além de indiciar ausência de "trabalho de casa"!
Por limitação legal, o MINJUD não pode interferir no funcionamento de uma associação desportiva, salvo em casos pontuais, como foram os pleitos eleitorais do ano passado nas federações nacionais. Clubes e federações, por exemplo, não precisam de dar cavaco ao departamento ministerial quando contratam um técnico ou um atleta estrangeiro. Fazem-no livremente, quando e onde quiserem, como, aliás, deve ser numa economia de mercado livre, mesmo que o sustento dos principais clubes saia dos cofres do Estado.